• 14.06
  • 2012
  • 12:09
  • Karin Salomao

Miriam Leitão comenta a produção da reportagem “Uma história inacabada – o caso Rubens Paiva” no Congresso

Para dar continuidade a uma história que ainda não terminou, Miriam Leitão voltou ao papel de repórter para produzir a reportagem “Uma história inacabada – o caso Rubens Paiva”, tema de sua palestra no 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Ela contará como foi a apuração  e o desafio de trabalhar com plataformas distintas (a matéria foi exibida como programa especial na Globo News, publicada no jornal O Globo com versão para o vespertino Globo a Mais,  e foram produzidas galerias de fotos exclusivas para o site Globo.com).

Quando a criação da Comissão da Verdade foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em novembro, para rever as histórias de mais de 150 desaparecidos políticos, Miriam  se juntou a Cláudio Renato e à editora Cristina Aragão  em busca de uma resposta para a pergunta “que cara têm esses desaparecidos políticos?”. Procuravam alguém que representasse aquele momento histórico. Escolheram o caso do deputado Rubens Paiva – presente no discurso de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição: “a sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”,  em 5 de outubro de1988.

“O país tomou a decisão de olhar esse problema de frente”, diz Miriam. “Então, assim que a Comissão da Verdade foi aprovada, achamos que isso seria uma pauta que valeria a pena”. Foi preciso “muito trabalho, muito suor e muita união da equipe” para que o resultado aparecesse.

Durante dois meses, ela e Claudio Renato usaram todos os fins de semana livres na apuração. “Nunca paramos de pensar nisso. Trabalhamos com paixão”, diz ela. E “deu um livro! Percebemos que tínhamos uma quantidade enorme de material.” 

Isso permitiu fazer abordagens com nuances diferentes para cada plataforma: o impresso trouxe informações exclusivas e um making of para O Globo a Mais. Apesar do resultado tão diversificado, Miriam conta que o processo de apuração  foi o mesmo: “Apurar é tudo igual. Uma boa história, em qualquer meio e em qualquer plataforma, tem que estar bem segura em sua apuração”.

Apesar de a busca pela verdade ser um constante tema de debate no jornalismo e na história da ditadura militar no país, Miriam diz que há uma verdade absoluta e factual a ser perseguida nesse caso: “como é mesmo que Rubens Paiva foi morto?”. “Não sabemos, mas alguém sabe”, responde ela. Alguém esteve presente em sua morte e é essa história que ainda precisa ser contada. 

A reportagem ainda deu voz a alguém que, até então, ainda não tinha se pronunciado. Eliana Paiva, filha de Rubens Paiva, fora presa com o pai por um dia, quando tinha 15 anos. Claudio Renato entrou em contato com ela e aos poucos e com uma conversa paciente, explicou-lhe o trabalho que estavam desenvolvendo. “Ela entendeu que o trabalho era respeitoso e sério” e, por isso, concordou em dar entrevista, diz Miriam.

Sobre a Comissão da Verdade, Miriam não acredita que ela irá desvendar todas as histórias inacabadas dos desaparecidos políticos da ditadura militar, mas vai avançar e trazer mais informações. Para ela, o mais importante é o significado dessa busca do passado: “a sociedade está dizendo que não aceita a versão dos militares da história. Para as próximas gerações, não podíamos deixar essa história mal contada”. 

A boa história não deve ficar para o passado; é assunto para o presente, segundo a jornalista. No especial para a TV, o general Rocha Paiva afirma que o papel de olhar para o passado do país é para historiadores e pesquisadores, não para a Comissão da Verdade. Miriam Leitão discorda e diz que até mesmo os historiadores vão se basear no trabalho feito pelos jornalistas. Embora 68% da população brasileira não tivesse nascido quando Rubens Paiva desapareceu, em 1971, e que os casos dos desaparecidos políticos já faça parte da história, “é um trabalho para os contemporâneos, é um assunto de agora. Faz parte do nosso trabalho ilustrar o debate”.

7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo
Quando: 12, 13 e 14 de julho de 2012
Onde: São Paulo - Universidade Anhembi Morumbi - campus Vila Olímpia - unidade 7 (Rua Casa do Ator, 275)
Inscrições: http://bit.ly/7Congresso

Assinatura Abraji