Mídia profissional sofreu 11 mil ataques por dia nas redes sociais em 2019, revela relatório
  • 12.03
  • 2020
  • 10:00
  • Mayara Paixão

Liberdade de expressão

Mídia profissional sofreu 11 mil ataques por dia nas redes sociais em 2019, revela relatório

O ano de 2019 registrou queda nos casos de violência não letal contra profissionais de comunicação. Foram pelo menos 56 casos registrados — uma diminuição de 51% em relação ao ano anterior. No entanto, os ataques virtuais contra a mídia profissional e os jornalistas alcançaram 4 milhões de casos — 7 a cada minuto do dia.

O levantamento faz parte do Relatório sobre Violações à Liberdade de Expressão 2019, organizado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Em sua nona edição, o documento foi construído em parceria com a Bites, empresa de consultoria e monitoramento de dados digitais.

Entre as agressões não letais contra comunicadores no exercício da profissão, foram contabilizadas 24 agressões, 8 ofensas, 6 intimidações, 5 ameaças, 5 censuras, 4 ataques, 1 assédio sexual, 1 injúria racial, 1 detenção e 1 roubo.

Esta é a primeira vez que o relatório conta com um capítulo específico sobre os ataques virtuais dirigidos à imprensa profissional. O levantamento aponta que, 39,2 milhões de posts  com a combinação das palavras “mídia”, “imprensa”, “jornalista” e “jornalismo” foram produzidos no Twitter em 2019. O equivalente a 10% dessas postagens foram de ataques à imprensa.

Tanto a direita quanto a esquerda do espectro político produziram as postagens ofensivas, mas o destaque ficou para perfis e sites mais conservadores, segundo mostram os números. A Bite, após organizar o material, afirmou “é preciso entender a relação nervosa do Poder Executivo com a mídia profissional”.

“Repórteres que publicaram matérias críticas ao governo se tornaram alvos de ataques virtuais, promovidos por robôs e apoiadores governistas. Reportagens bem apuradas e verdadeiras foram chamadas de fake news, numa tentativa de minar a credibilidade da imprensa”, analisa trecho do relatório.

Ainda segundo o estudo, o principal movimento de boicote à imprensa aconteceu com o incentivo de cancelamento da assinatura digital e leitura de jornais como Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. 


Desafio para 2020

O material conta também com artigos de profissionais da comunicação e organizações da sociedade civil que trabalham em defesa da liberdade de expressão. O presidente da Abraji, Marcelo Träsel, assina um deles.

“A liberdade de imprensa no Brasil se vê, em 2020, mais ameaçada do que nunca nas quase quatro décadas desde a redemocratização”, afirma Träsel na abertura de sua contribuição.

O presidente da Abraji argumenta que a queda do Brasil nas estatísticas de liberdade de imprensa, e o elevado índice de impunidade em homicídios de jornalistas no país são preocupantes. Mas destaca que novas formas de hostilização de profissionais e veículos de imprensa por parte de autoridades governamentais — entre elas o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) — esboça sinais de uma “recaída autoritária”.

“Em 2020, o principal desafio para a liberdade de imprensa será aprender a jogar dentro das novas regras”, conclui Träsel.


Predadores da liberdade de imprensa

Por ocasião do Dia Mundial Contra a Censura Cibernética (12.mar), a Repórter Sem Fronteiras divulgou uma lista dos 20 principais predadores digitais da liberdade de imprensa em 2020. Aliados do presidente Jair Bolsonaro estão presentes na lista.

Segundo o documento, figuras como o próprio presidente e o deputado federal Eduardo Bolsonaro usam campanhas de insultos e ameaças nas redes sociais como métodos para assediar jornalistas e, assim, comprometer a capacidade do cidadão de obter notícias e informações verdadeiras. 

O documento da RSF faz menção ao “gabinete do ódio”, citado pela deputada federal Joice Hasselmann no Congresso Nacional, uma suposta milícia digital para espalhar ameaças e ataques à reputação de críticos do governo Bolsonaro. 


(*) Foto: Divulgação/Abert.

Assinatura Abraji