• 04.04
  • 2017
  • 14:51
  • Tiago Aguiar

Mentira oficial repaginou pós-verdade e ameaça democracia, conclui fórum da ANER

A pós-verdade não chega a ser um fato novo: em palestra durante fórum promovido pela ANER (Associação Nacional dos Editores de Revistas) em São Paulo nessa terça-feira (04.abr.2017), Carlos Eduardo Lins e Silva traçou a genealogia do fenômeno até o Império Romano, passando por disputas papais. Mas, para o jornalista e acadêmico, "o que há de novo é que o `não fato` é divulgado pelo topo da hierarquia do poder e de maneira ostensiva. Se os líderes da sociedade mentem com desfaçatez é porque a situação está esquisita", diagnosticou. Também presente ao evento, o pesquisador e jornalista Eugênio Bucci reforçou a novidade e gravidade no endosso oficial. “O problema é que hoje há toda uma articulação do discurso do poder que agride a verdade e agride os fatos”.

Bucci também destacou que a imprensa veicula inverdades todos os dias, mesmo que não intencionalmente. Para ele, não é por meio de uma avaliação individual de jornalistas e redações que o jornalismo criará uma antagonização contra as notícias falsas, mas ao reconhecer e demonstrar a indissociabilidade entre imprensa e democracia.

 

“O exercício do jornalismo dentro dos cânones da profissão tende a produzir um ambiente de debate, onde os fatos são discutidos, contestados e examinados. O que define a instituição da imprensa é aquilo a que ela se dirige. E ela se dirige ao direito de informação, e que por meio dela o cidadão se capacita para delegar o poder na democracia”, resumiu Bucci.

 

O fórum “O Papel da Mídia Brasileira na Era da Pós-Verdade” foi realizado pela ANER com apoio da Abraji, da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Instituto Palavra Aberta e Associação Brasileira das Agências de Comunicação (ABRACOM).  Os palestrantes reunidos propuseram caminhos diante da proliferação de notícias falsas.

Em mesa conjunta, os presidentes da ANJ, Marcelo Rech, da ANER, Fábio Gallo, e da ABERT, Paulo Tonet Camargo, indicaram que a importância do conteúdo de credibilidade volta a crescer entre anunciantes, no mesmo tom da carta aberta divulgada semana passada pelo UOL. Chamada de “indústria da desinformação”, os veículos que conseguiram êxito rápido com a remuneração pelo grande índice de compartilhamento em mídias sociais foram reconhecidos como um fenômeno efêmero. “Está caindo a máscara rapidamente”, concluiu Paulo Tonet. Marcelo Rech ressaltou o que seria uma inflexão também entre o público: “o momento atual marca o fim do declínio da mídia institucional e o fim da glamourização das redes sociais”, pontuou, lembrando o aumento no número de assinaturas de grandes jornais americanos após a eleição de Donald Trump.

 

Assinatura Abraji