- 28.03
- 2019
- 12:00
- Natália Silva
Liberdade de expressão
Mauri König é protagonista de documentário sobre jornalismo investigativo
O jornalista e ex-diretor da Abraji Mauri König foi escolhido como protagonista do primeiro filme de uma série de documentários sobre jornalismo investigativo ao redor do mundo. O longa “The Thinnest Border” (A fronteira mais fina, em tradução livre) contará a história da investigação feita por König, Diego Ribeiro, Felippe Aníbal e Albari Rosa sobre irregularidades no gerenciamento de recursos da Polícia Civil no Paraná, que resultou na reportagem “Polícia Fora da Lei” publicada na Gazeta do Povo em 2012.
O filme foi produzido pela Ecocinema — uma plataforma de comunicação que atua em diversos países da América Latina — com apoio da Transparência Internacional, entidade que luta contra a corrupção, e o Ministério de Relações Exteriores do Canadá.
Segundo o diretor do longa Gonzalo Lamela, seis jornalistas foram selecionados para compor a série “Minha caneta é minha arma” sobre os bastidores do jornalismo investigativo. “Os jornalistas tinham que ter uma experiência de vida que gerasse inspiração nas pessoas que assistem o filme”, comenta Lamela. O objetivo da produção é combater a corrupção no mundo através da mudança de valores, expondo os riscos que jornalistas correm nas investigações e o que os motiva a fazer seu trabalho.
Mauri König foi escolhido para protagonizar o primeiro documentário por conta de sua atuação jornalística na tríplice fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai. “Pensamos que o Brasil poderia ser um símbolo de casos de corrupção em fronteira, porque é o país que tem mais quilômetros de fronteira em toda a América”, justifica Lamela.
König disse que ser escolhido para o documentário foi “lisonjeador”, uma vez que há milhares de jornalistas investigativos no Brasil. “A gente trabalha esperando produzir algum efeito com a reportagem, mas sem imaginar que vai ter esse tipo de reconhecimento”, afirma. “Eu estou bem feliz com isso.” Essa não é a primeira vez que König é homenageado pelo seu trabalho. Em 27 anos de carreira, o jornalista acumulou 38 prêmios, entre eles dois Esso e dois Vladimir Herzog. Em 2013, foi vencedor do Maria Moors Cabot Prize, a premiação mais antiga de jornalismo.
A reportagem “Polícia Fora da Lei”, que será esmiuçada no documentário, foi finalista do Prêmio Esso de 2012. Por conta das irregularidades expostas após a investigação, König e sua família foram ameaçados e tiveram que deixar o Brasil durante alguns meses. Sobre esse e outros episódios de agressão contra profissionais da imprensa, o jornalista comenta: “A violência contra um único jornalista é um atentado à democracia. É bem triste que a gente tenha que conviver com esse tipo de ameaça.”
Sua cobertura de fronteira, que também será abordada no filme, levou o jornalista a fazer diversas viagens ao Paraguai. Em uma dessas visitas, em 2000, como repórter do jornal O Estado do Paraná, König foi parado na estrada por três homens vestidos com a farda da guarda nacional do país e violentamente agredido. O episódio foi investigado pelo Ministério Público do Paraguai, mas o caso foi arquivado por “falta de provas”.
Hoje, König é professor universitário em Curitiba e tenta transmitir aos alunos a prática de um jornalismo que chama de “idealista”. “Eu gosto de mostrar o quão importante é a profissão para trazer os alunos para o lado bom da força", comenta. “Há coisas que nos movem no jornalismo que não são o dinheiro e eu tento passar esses ideais adiante.”
O lançamento de “The Thinnest Border”, o primeiro filme da série “Minha Caneta é Minha Arma” está previsto para junho. Lamela conta que a produção está passando por ajustes finais e outros jornalistas já foram convidados para os próximos filmes.