- 14.07
- 2005
- 12:57
- MarceloSoares
Mau cheiro faz mal à saúde
DIÓGENES MUNIZ e MILTON COSTA - REPÓRTER DO FUTURO
“Bôôôlacha com rechei de chocolate por apenas um real! Bôôôlacha com rechei de chocolate por apenas um real!”.
A cantilena sai da boca de Uálace, um menino de apenas oito anos que mora às margens da represa Guarapiranga. Vai e vem no corredor do ônibus Terminal Bandeira-Varginha, vestindo a onze de Ronaldinho Gaúcho, todo sisudo. Diz que trabalha à tarde e estuda de manhã. São uálaces que iríamos encontrar em nosso ponto-final, uma hora e onze minutos depois de embarcarmos na Praça da Bandeira, na mesma linha em que nos acompanhou o pequenino vendedor na volta.
A placa do terminal indicava que estávamos no bairro de Varginha. As pessoas da redondeza, porém, não chegavam a um acordo:
— Aqui é Barro Branco, explica um morador.
— Casa Grande. Para mim é Casa Grande, retruca o outro.
— Na verdade vocês estão em Parelheiros, dizia um terceiro, tendo como pano de fundo uma placa da “Funilaria Grajaú”.
Descobrimos, bem mais tarde, que estávamos numa divisa entre Parelheiros e o Grajaú, mas ainda dentro de Parelheiros. Cremos que a confusão vem daí.
O Terminal Varginha, de onde descemos, estava novo. As placas de grama do barranco ao lado sequer haviam se firmado, a pintura do asfalto ainda brilhava. Caminhamos para fora do terminal e percebemos que calçada era mercadoria rara. Um bairro bastante acidentado, sem nenhum prédio e com uma calma interiorana. “Aqui é bom de morar. Todo lugar tem seus problemas, né, aqui também. Mas é muito bom.”, resume o catador de sucata Marcelão.
Mais um pouco de caminhada e a nossa primeira pista: uma placa indicava um pronto-socorro municipal. Seria o único da redondeza?
— Olha, é o mais próximo e o melhor. Vai contornando e subindo que sai lá.
Subimos a ladeira e no alto da colina fomos apresentados ao Pronto-Socorro Municipal Balneário São José, o único para atender uma população estimada em 160 mil habitantes. Na fila, as crianças eram maioria. O tempo seco e a temperatura instável são propícios às doenças respiratórias: febre, garganta, gripe, rinite.
Nas portas, abertas em duas metades como janelas, o banner da esquerda indicava uma pré-triagem: “O que é do Pronto-Socorro: urgência; emergência (sic); dor de cabeça; dor no peito; cansaço; cortes; sangramentos; fratura e etc”. O da direita: “O que é do Posto de Saúde: retirada de pontos; troca de receitas; receita azul (remédios controlados); encaminhamentos; vacinas; eletrocardiograma; exames laboratoriais; laudos médicos (INSS, SP Trans); controle de pressão, colesterol, diabetes, etc; teste de gravidez; curativos nos dias de semana e etc”. Confusos, os pacientes preferiam não ter de escolher entre tantas opções. Além do mais, o que entender por etecétera?
Dois vira-latas perambulam na sala de espera ao ar livre. As pombas rodeiam o prédio. Uma moça de colete amarelo, onde lê-se “posso ajudar?”, nos conta que está há um ano e meio no PS e que o maior problema é a falta dos médicos. “Vocês vieram num dia bom. Hoje tá todo mundo aí...”, interrompe para acudir uma menininha que vomita na fila. Ninguém aparece para limpar, apenas o cachorro, que descansa em cima da mancha de vômito. A moça continua: “Marta ou Serra? Não mudou muita coisa não. É muita gente para atender. Umas 300, 400 pessoas todo dia.”. Em princípio, o PS conta com dez médicos entre clínicos, pediatras, cirurgiões, ortopedistas e ginecologistas. Desconfiada, a atendente some por um tempo.
Existem duas maneiras de se chegar ao único pronto-socorro de Parelheiros: pode-se ir andando ou de carro. As conseqüências da primeira opção, no entanto, podem não ser nada agradáveis aos 160 mil paulistanos que precisam dividir o atendimento daquele local. Por estar construído em uma área elevada, rodeada de subidas e descidas, o acesso por meio das próprias pernas é, no mínimo, um desafio físico.
Chegando-se ao hospital, no entanto, os problemas se multiplicam. Notamos que são raros os pacientes que chegam de carro para serem atendidos. A maioria vai a pé, carregando seus filhos no colo, cansados e carentes de bom atendimento. Viviane Santos Silva, 24 anos, é um exemplo. Com a filha de dois meses nos braços e o de três anos com um curativo na testa, ela conta que gosta do PS: “Dos meus cinco filhos, três nasceram aqui e dois no Grajaú [Hospital Geral do Grajaú]. Lá [no Grajaú] é muito ruim. Sempre fui bem atendida aqui.” Mais uma entre tantas outras opiniões favoráveis ao misto de posto de saúde, pronto-socorro e hospital. Com sede, dirigem-se ao único bebedouro do lugar. Quebrado. Mas ao banheiro podemos ir, certo? Errado. No pior tipo “banheiro de boteco”, o sanitário é inutilizável, contribuindo apenas com o mau cheiro do ambiente.
Alguns, no entanto, arriscam-se na empreitada. “É uma vergonha termos de usar um lugar desses. Mas, fazer o quê?”, pergunta Dona Augusta de Jesus Santos, 54 anos. Seu irmão está internado há seis dias com pressão alta e diabetes. Apesar de não ter realizado exame algum, José de Jesus, 46 anos, está recebendo medicamentos e espera ser transferido para um hospital o mais rápido possível. Dona Augusta, que trabalha no centro da cidade, vem todos os dias visitar o irmão enfermo e conta que, com o tempo, acabou se acostumando com a situação que vivenciamos por apenas algumas horas no PS. Mas, pode ficar internado em pronto-socorro? “Na verdade, não. Alguns pacientes ficam em observação.”, responde a atendente do colete amarelo que, definitivamente, prefere não se identificar. Quanto tempo? “Ah, tem gente que fica 30, 40 dias.” afirma com naturalidade. A fila de crianças cresce. “As criança resolveu tossir tudo ao mesmo tempo...”, resmunga alguém da fila.
Kletlen Rayane Ferreira, três anos, é outra vítima do Hospital do Grajaú. Seu pai, o vendedor das Casas Bahia Robson Cleber Ferreira, 26 anos, conta que não havia pediatra por lá. “Aí eu vim pra cá. Meu convênio só atende em Santo Amaro e fica muito longe”. Kletlen está com dor de garganta e vai embora, medicada, uma hora e meia depois de chegar ao PS.
Atenta à insuficiência no atendimento, a diretora do PS Municipal Balneário São José, Mary Comporino, chega ao serviço a bordo do seu Audi A4 2.8 vinho. É meio-dia. O contraste é inevitável no meio de Passatinhos, Brasilinhas, Fusquinhas e Chevetinhos. Trabalhando na periferia há quase dois meses, a doutora diz encarar diversos problemas no dia-a-dia. “A gente faz o que pode, mas precisamos de mais médicos”, conta Mary, ao trancar a porta de seu carro. Segundo ela, “o cotidiano em um pronto-socorro de periferia é muito estressante.”
No serviço público desde 1976, o assistente social José Donizetti Vieira de Morais — 48 anos, casado, pai coruja de uma arquiteta, com 25, e uma atriz, com 18 — é o responsável pelo bem-estar no PS há um ano. Sua sala fica de frente para os dois famigerados banheiros. O que fazer com banheiros neste estado, bebedouros sem água? “É... aí temos um problema. Olha o cheirinho [nessa hora um fedor insuportável vem dos banheiros e, mecanicamente, sem interromper a conversa, Donizetti abre a gaveta, saca um tubo de “Bom Ar” e dá uma generosa borrifada do desodorante em torno de nós. Inútil segurar o riso] Ah, é sempre assim. Bem, como eu estava falando, acho que alguns exaustores podem resolver e...”, continuou, insosso, o assistente.
Indagado a respeito do porquê de tantas reclamações do Hospital do Grajaú, ele desabafa: “Há suspeitas de uma ingerência não-oficial da Golden Cross [empresa de planos de saúde] no Hospital do Grajaú desde os tempos do acordo obscuro em que o governador Orestes Quércia passou a Osec, hoje Unisa (Universidade de Santo Amaro), para as mãos dessa empresa. A Unisa administra o hospital, que serve como escola para o curso de medicina, depois de outro acordo feito quando, reinaugurado pelo Covas, ele passou de 120 para 180 leitos. Uma mudança insignificante depois de quinze anos de luta, da qual participei já que sempre morei no Grajaú. O cálculo do Movimento de Saúde do Grajaú é de 1.000 habitantes por leito, ou seja, se considerarmos os 720.000 moradores entre Capela do Socorro e Parelheiros, precisaríamos de 720 leitos no mínimo! Suspeitamos que a Golden Cross traz pessoas que não são da região para serem atendidas aqui. O número de ‘estrangeiros’ é muito grande. Superlota o que já é insuficiente, além do atendimento ser mais demorado por conta dos residentes. Mas muita coisa ainda é fofoca, nada é comprovado.”
Refeitos do susto, continuamos a respeito dos maiores problemas de saúde daquela região. Ele aponta o número reduzidíssimo de leitos e a falta de ambulatórios especializados — Ortopedia, por exemplo — como os principais desafios da atual administração. Outro ponto é a função do PS. Segundo Donizetti, ele funciona como pronto-atendimento, ambulatório e hospital também. O alcoolismo e a hipertensão de cunho emocional, gerados pelo estresse do desemprego, demandam um atendimento psiquiátrico urgente. “Um psicólogo do Ambulatório de Especialidades do Grajaú está com 1.200 pessoas na fila de espera.”, revela.
Voltamos ao ponto de partida, o Terminal Bandeira, por volta de três da tarde. Sabíamos de muita coisa: que ninguém sabia dizer ao certo quantos médicos trabalham no PS de Parelheiros; ninguém sabia dizer se eram quatro ou oito faxineiras — vimos uma — que cuidavam da higiene do local. Sobretudo, sabíamos que muito mais poderia ser apurado. O projeto Ponto-Final virou um Ponto-e-Vírgula. O Hospital do Grajaú nos aguarda. Não dá para suportar tanto mau-cheiro.
“Bôôôlacha com rechei de chocolate por apenas um real! Bôôôlacha com rechei de chocolate por apenas um real!”.
A cantilena sai da boca de Uálace, um menino de apenas oito anos que mora às margens da represa Guarapiranga. Vai e vem no corredor do ônibus Terminal Bandeira-Varginha, vestindo a onze de Ronaldinho Gaúcho, todo sisudo. Diz que trabalha à tarde e estuda de manhã. São uálaces que iríamos encontrar em nosso ponto-final, uma hora e onze minutos depois de embarcarmos na Praça da Bandeira, na mesma linha em que nos acompanhou o pequenino vendedor na volta.
A placa do terminal indicava que estávamos no bairro de Varginha. As pessoas da redondeza, porém, não chegavam a um acordo:
— Aqui é Barro Branco, explica um morador.
— Casa Grande. Para mim é Casa Grande, retruca o outro.
— Na verdade vocês estão em Parelheiros, dizia um terceiro, tendo como pano de fundo uma placa da “Funilaria Grajaú”.
Descobrimos, bem mais tarde, que estávamos numa divisa entre Parelheiros e o Grajaú, mas ainda dentro de Parelheiros. Cremos que a confusão vem daí.
O Terminal Varginha, de onde descemos, estava novo. As placas de grama do barranco ao lado sequer haviam se firmado, a pintura do asfalto ainda brilhava. Caminhamos para fora do terminal e percebemos que calçada era mercadoria rara. Um bairro bastante acidentado, sem nenhum prédio e com uma calma interiorana. “Aqui é bom de morar. Todo lugar tem seus problemas, né, aqui também. Mas é muito bom.”, resume o catador de sucata Marcelão.
Mais um pouco de caminhada e a nossa primeira pista: uma placa indicava um pronto-socorro municipal. Seria o único da redondeza?
— Olha, é o mais próximo e o melhor. Vai contornando e subindo que sai lá.
Subimos a ladeira e no alto da colina fomos apresentados ao Pronto-Socorro Municipal Balneário São José, o único para atender uma população estimada em 160 mil habitantes. Na fila, as crianças eram maioria. O tempo seco e a temperatura instável são propícios às doenças respiratórias: febre, garganta, gripe, rinite.
Nas portas, abertas em duas metades como janelas, o banner da esquerda indicava uma pré-triagem: “O que é do Pronto-Socorro: urgência; emergência (sic); dor de cabeça; dor no peito; cansaço; cortes; sangramentos; fratura e etc”. O da direita: “O que é do Posto de Saúde: retirada de pontos; troca de receitas; receita azul (remédios controlados); encaminhamentos; vacinas; eletrocardiograma; exames laboratoriais; laudos médicos (INSS, SP Trans); controle de pressão, colesterol, diabetes, etc; teste de gravidez; curativos nos dias de semana e etc”. Confusos, os pacientes preferiam não ter de escolher entre tantas opções. Além do mais, o que entender por etecétera?
Dois vira-latas perambulam na sala de espera ao ar livre. As pombas rodeiam o prédio. Uma moça de colete amarelo, onde lê-se “posso ajudar?”, nos conta que está há um ano e meio no PS e que o maior problema é a falta dos médicos. “Vocês vieram num dia bom. Hoje tá todo mundo aí...”, interrompe para acudir uma menininha que vomita na fila. Ninguém aparece para limpar, apenas o cachorro, que descansa em cima da mancha de vômito. A moça continua: “Marta ou Serra? Não mudou muita coisa não. É muita gente para atender. Umas 300, 400 pessoas todo dia.”. Em princípio, o PS conta com dez médicos entre clínicos, pediatras, cirurgiões, ortopedistas e ginecologistas. Desconfiada, a atendente some por um tempo.
Existem duas maneiras de se chegar ao único pronto-socorro de Parelheiros: pode-se ir andando ou de carro. As conseqüências da primeira opção, no entanto, podem não ser nada agradáveis aos 160 mil paulistanos que precisam dividir o atendimento daquele local. Por estar construído em uma área elevada, rodeada de subidas e descidas, o acesso por meio das próprias pernas é, no mínimo, um desafio físico.
Chegando-se ao hospital, no entanto, os problemas se multiplicam. Notamos que são raros os pacientes que chegam de carro para serem atendidos. A maioria vai a pé, carregando seus filhos no colo, cansados e carentes de bom atendimento. Viviane Santos Silva, 24 anos, é um exemplo. Com a filha de dois meses nos braços e o de três anos com um curativo na testa, ela conta que gosta do PS: “Dos meus cinco filhos, três nasceram aqui e dois no Grajaú [Hospital Geral do Grajaú]. Lá [no Grajaú] é muito ruim. Sempre fui bem atendida aqui.” Mais uma entre tantas outras opiniões favoráveis ao misto de posto de saúde, pronto-socorro e hospital. Com sede, dirigem-se ao único bebedouro do lugar. Quebrado. Mas ao banheiro podemos ir, certo? Errado. No pior tipo “banheiro de boteco”, o sanitário é inutilizável, contribuindo apenas com o mau cheiro do ambiente.
Alguns, no entanto, arriscam-se na empreitada. “É uma vergonha termos de usar um lugar desses. Mas, fazer o quê?”, pergunta Dona Augusta de Jesus Santos, 54 anos. Seu irmão está internado há seis dias com pressão alta e diabetes. Apesar de não ter realizado exame algum, José de Jesus, 46 anos, está recebendo medicamentos e espera ser transferido para um hospital o mais rápido possível. Dona Augusta, que trabalha no centro da cidade, vem todos os dias visitar o irmão enfermo e conta que, com o tempo, acabou se acostumando com a situação que vivenciamos por apenas algumas horas no PS. Mas, pode ficar internado em pronto-socorro? “Na verdade, não. Alguns pacientes ficam em observação.”, responde a atendente do colete amarelo que, definitivamente, prefere não se identificar. Quanto tempo? “Ah, tem gente que fica 30, 40 dias.” afirma com naturalidade. A fila de crianças cresce. “As criança resolveu tossir tudo ao mesmo tempo...”, resmunga alguém da fila.
Kletlen Rayane Ferreira, três anos, é outra vítima do Hospital do Grajaú. Seu pai, o vendedor das Casas Bahia Robson Cleber Ferreira, 26 anos, conta que não havia pediatra por lá. “Aí eu vim pra cá. Meu convênio só atende em Santo Amaro e fica muito longe”. Kletlen está com dor de garganta e vai embora, medicada, uma hora e meia depois de chegar ao PS.
Atenta à insuficiência no atendimento, a diretora do PS Municipal Balneário São José, Mary Comporino, chega ao serviço a bordo do seu Audi A4 2.8 vinho. É meio-dia. O contraste é inevitável no meio de Passatinhos, Brasilinhas, Fusquinhas e Chevetinhos. Trabalhando na periferia há quase dois meses, a doutora diz encarar diversos problemas no dia-a-dia. “A gente faz o que pode, mas precisamos de mais médicos”, conta Mary, ao trancar a porta de seu carro. Segundo ela, “o cotidiano em um pronto-socorro de periferia é muito estressante.”
No serviço público desde 1976, o assistente social José Donizetti Vieira de Morais — 48 anos, casado, pai coruja de uma arquiteta, com 25, e uma atriz, com 18 — é o responsável pelo bem-estar no PS há um ano. Sua sala fica de frente para os dois famigerados banheiros. O que fazer com banheiros neste estado, bebedouros sem água? “É... aí temos um problema. Olha o cheirinho [nessa hora um fedor insuportável vem dos banheiros e, mecanicamente, sem interromper a conversa, Donizetti abre a gaveta, saca um tubo de “Bom Ar” e dá uma generosa borrifada do desodorante em torno de nós. Inútil segurar o riso] Ah, é sempre assim. Bem, como eu estava falando, acho que alguns exaustores podem resolver e...”, continuou, insosso, o assistente.
Indagado a respeito do porquê de tantas reclamações do Hospital do Grajaú, ele desabafa: “Há suspeitas de uma ingerência não-oficial da Golden Cross [empresa de planos de saúde] no Hospital do Grajaú desde os tempos do acordo obscuro em que o governador Orestes Quércia passou a Osec, hoje Unisa (Universidade de Santo Amaro), para as mãos dessa empresa. A Unisa administra o hospital, que serve como escola para o curso de medicina, depois de outro acordo feito quando, reinaugurado pelo Covas, ele passou de 120 para 180 leitos. Uma mudança insignificante depois de quinze anos de luta, da qual participei já que sempre morei no Grajaú. O cálculo do Movimento de Saúde do Grajaú é de 1.000 habitantes por leito, ou seja, se considerarmos os 720.000 moradores entre Capela do Socorro e Parelheiros, precisaríamos de 720 leitos no mínimo! Suspeitamos que a Golden Cross traz pessoas que não são da região para serem atendidas aqui. O número de ‘estrangeiros’ é muito grande. Superlota o que já é insuficiente, além do atendimento ser mais demorado por conta dos residentes. Mas muita coisa ainda é fofoca, nada é comprovado.”
Refeitos do susto, continuamos a respeito dos maiores problemas de saúde daquela região. Ele aponta o número reduzidíssimo de leitos e a falta de ambulatórios especializados — Ortopedia, por exemplo — como os principais desafios da atual administração. Outro ponto é a função do PS. Segundo Donizetti, ele funciona como pronto-atendimento, ambulatório e hospital também. O alcoolismo e a hipertensão de cunho emocional, gerados pelo estresse do desemprego, demandam um atendimento psiquiátrico urgente. “Um psicólogo do Ambulatório de Especialidades do Grajaú está com 1.200 pessoas na fila de espera.”, revela.
Voltamos ao ponto de partida, o Terminal Bandeira, por volta de três da tarde. Sabíamos de muita coisa: que ninguém sabia dizer ao certo quantos médicos trabalham no PS de Parelheiros; ninguém sabia dizer se eram quatro ou oito faxineiras — vimos uma — que cuidavam da higiene do local. Sobretudo, sabíamos que muito mais poderia ser apurado. O projeto Ponto-Final virou um Ponto-e-Vírgula. O Hospital do Grajaú nos aguarda. Não dá para suportar tanto mau-cheiro.