• 06.12
  • 2012
  • 17:09
  • Karin Salomao

Manuel Carlos Chaparro – O que é jornalismo Investigativo?

Em comemoração aos 10 anos da Abraji, a associação está recolhendo diversas opiniões sobre a definição de jornalismo investigativo.

Leia abaixo o depoimento dado pelo professor Manuel Carlos Chaparro, jornalista, doutor em Ciências da Comunicação e professor aposentado de Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo. 

 

 

"Olha, eu tenho uma certa aversão a rótulos. Os rótulos, na minha opinião, além de serem boas ferramentas para organizar pesquisas, organizar discussões, organizar classificações, são também grandes ferramentas dos jogos de poder, inclusive na universidade, porque definem espaços acadêmicos. Depois, porque os rótulos normalmente não dão conta da diversidade. Por exemplo, jornalismo investigativo. É um bom rótulo. Mas é um rótulo que sugere que pode haver um jornalismo não investigativo. E aí eu discordo. Pode haver mau jornalismo. Tanto naquele dito como investigativo quanto naquele dito não investigativo.

É um rótulo que também me parece um tanto arrogante. No sentido de que “nós estamos fazendo o bom jornalismo, o jornalismo importante. O resto é secundário”. Isso é um equívoco inclusive teórico. Porque o jornalismo investigativo não se pode separar da atualidade que se manifesta no relato. O relato diário é a manifestação das ações que alteram a realidade e não tem sentido que você não defenda um jornalismo exigente e responsável nessa condição de relatar. Na medida em que houver bons relatos dos fatos, surgem também boas pautas para fazer o que eu chamo de desvendamento.

Eu tenho uma certa resistência a lidar eu mesmo com rótulos.

Agora, eu ganhei quatro prêmios Esso, com reportagens. Uma é a menção honrosa. Essa menção honrosa foi em 1961. Havia no RN um povoado isolado do mundo chamado Sibaúma. E chama Sibaúma. Hoje é um município. Esse povoado era habitado só por negros, descendentes de escravos fugitivos. Eles fugiram, se isolaram ali, fizeram barreiras, ninguém saía e ninguém entrava, a não ser o líder. Era uma organização tribal. O vigário da paróquia do território onde estava o povoado convenceu o líder a se integrar no mundo, a abrir uma picada. Eu fui lá no Jipe que inaugurou a picada.

Então esse era o fato. O fato tinha uma importância fundamental, mas era preciso olhar aquilo como além de um fato. Se você se ativer meramente à materialidade das coisas, você vai fazer um relato pobre. Então a investigação jornalística, o olhar jornalístico precisa estar em todas as ações jornalísticas.

Agora, o que eu fiz? Eu tentei explicar, investigar o porquê daquilo. Fui levantar a história, fui investigar o ancião, porque era a única pessoa que podia contar a história, porque era a pessoa mais velha, entrevistei uma porção de gente e contei a história daquele povoado. Mas, se não tivesse havido o fato, e se o fato não tivesse sido divulgado, a reportagem depois talvez não tivesse sido realizada.

Então, acho que são aqueles momentos. O jornalismo tem que saber fazer relatos, tem que saber fazer desvendamentos e tem que saber fazer discussões, elucidações etc.. Eu acho que o conjunto disso é jornalismo. Se investigativo? Provavelmente."

Assinatura Abraji