- 28.04
- 2020
- 14:00
- Mayara Paixão
Formação
Manual dá orientações sobre como verificar desinformação e manipulação da mídia
Em um contexto no qual o trabalho dos checadores de fatos se fortalece ao redor do mundo, o Centro Europeu de Jornalismo (EJC, da sigla em inglês) lançou, nesta terça-feira (28.abr.2020), um manual de verificação da desinformação e manipulação midiática no ambiente digital. O Verification Handbook pode ser acessado de forma gratuita, e conta com o apoio do Craig Newmark Philanthropies.
O guia está disponível originalmente em inglês e é dividido em quatro capítulos e mais de 20 seções. Logo na introdução, é possível acompanhar discussões sobre os conceitos de desinformação e manipulação da mídia, além das especificidades que a democratização digital trouxe para a produção de conteúdos enganosos.
Na sequência, os capítulos detalham, com explicações e estudos de casos, o processo de investigação de diferentes atores e conteúdos, e aconselham sobre quais as práticas mais recomendadas para repórteres e jornalistas realizarem o trabalho. O manual também orienta como investigar sites, verificar imagens, detectar robôs digitais, analisar anúncios em redes sociais e monitorar materiais produzidos nos aplicativos de mensagem.
Em um dos estudos de caso, por exemplo, Charlotte Godart e Johanna Wild, do Bellingcat, projeto especializado em investigações com código aberto, explicam como descobriram o uso massivo de contas falsas no Twitter para apoiar a política pública chinesa em meio aos protestos que tomaram as ruas de Hong Kong no segundo semestre de 2019.
Profissionais de diversos projetos contribuem com o manual. A organização é assinada por Craig Silverman, um dos principais especialistas do mundo em verificação de conteúdos e editor de mídia do BuzzFeed News.
O jornalismo brasileiro também participou da construção do guia. Sérgio Lüdtke, editor do projeto Comprova, uma coalizão de 24 organizações de mídia que investiga rumores sobre políticas públicas, desenvolveu o estudo de caso sobre a desinformação que tomou conta das redes sociais e dos aplicativos de mensagem após o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro receber uma facada em 6.set.2018.
Para Lüdtke, o conteúdo disponibilizado no manual é relevante, em especial, “em um momento em que a desinformação tem o potencial de influenciar em decisões que podem desorganizar as sociedades e produzir danos que coloquem em risco a vida de pessoas”.
O editor do Comprova, projeto coordenado pela Abraji, reforça que o trabalho de checagem exige conhecimento de ferramentas de investigação, metodologia de verificação, compreensão da lógica das redes sociais e, principalmente, da dinâmica da desinformação — conteúdos explorados no novo guia.
“Ainda que a checagem de dados não seja uma novidade para o Jornalismo, são poucos os jornalistas treinados para fazer verificação de conteúdos compartilhados em redes sociais. (...) A boa notícia é que um profissional treinado para essas disciplinas também está preparado para investigar qualquer conteúdo gerado pela audiência, matéria-prima cada vez mais abundante para o jornalismo”, afirma Lüdtke.
Os organizadores do material indicam a leitura de sua primeira versão, produzida em 2014, para aqueles que começaram a acompanhar o tema há pouco tempo.