Manifestantes atacam ao menos seis equipes de imprensa no 7 de setembro
  • 08.09
  • 2021
  • 18:29
  • Abraji

Liberdade de expressão

Manifestantes atacam ao menos seis equipes de imprensa no 7 de setembro

Atualizado em: 9.set.2021

Manifestantes impediram duas vezes que uma equipe de vídeo da Jovem Pan gravasse imagens durante a cobertura das manifestações em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na terça-feira (07.set.2021), em São Paulo. Os apoiadores do presidente chegaram a arremessar garrafas e pedaços de madeira contra os profissionais da rádio. “Por sorte, não saímos feridos”, contou o repórter Maicon Mendes.

A Abraji registrou ao menos outros quatro ataques como esse nas manifestações realizadas no Dia da Independência do Brasil, sem mencionar falas e faixas com discurso estigmatizante contra a imprensa. Três ocorreram em Brasília, onde, segundo estimativas recebidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), reuniram-se cerca de 150 mil pessoas. Três, em São Paulo, em que compareceram por volta de 125 mil manifestantes, de acordo com a Polícia Militar.

Foi quando Mendes noticiou no início da noite o número de presentes na Avenida Paulista que ele se tornou um alvo. Com os números oficiais em mãos, o repórter relata ter descido à frente da empresa de jornalismo multimídia para gravar uma tomada, mas foi logo interrompido. “Esses dados são mentirosos. Vocês estão propagando fake news”, o jornalista diz ter ouvido de apoiadores de Bolsonaro.

O coro de ofensas, segundo o repórter, fez com que mais manifestantes se somassem ao cerco. “As pessoas de um bar ao lado começaram a arremessar objetos contra mim e o cinegrafista João Cagnin. Conseguimos nos desviar, mas algumas garrafas atingiram veículos da Jovem Pan”, recorda.

Os ataques, conforme relata o jornalista, foram contidos apenas com a chegada de reforços da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que formaram um cordão para proteger os profissionais de imprensa. Mendes diz que pretende registrar boletim de ocorrência do ataque. “Os rostos dos agressores podem ser identificados nas imagens que publiquei em minhas redes sociais”, declarou.

Mais cedo, o repórter havia sido impedido de gravar imagens nas redondezas do Batalhão da Polícia Militar da esquina da Avenida Angélica e, por recomendações do diretor de jornalismo, havia retornado para a sede da emissora. “Acharam que éramos da TV Globo. Começaram a gritar [sem usar máscara de proteção contra covid-19]: ‘Cadê o crachá? De onde você é?”.

Mendes explica que o uso da canopla é evitado durante gravações de atos políticos para evitar discriminação por parte de partidários de políticos. “Mesmo quando mostrei que era da Jovem Pan, não pararam”, recorda. Os profissionais de imprensa conseguiram retornar à empresa apenas com o apoio de escolta policial.

No final do protesto em São Paulo, uma equipe de televisão da Band também foi atacada por apoiadores do presidente. “Aproveitamos o clima que parecia mais tranquilo para gravar uma passagem a 10 metros de distância de um grupo de PMs. Quando avisei que o Toninho Barbosa e o Paulo César estavam sendo cercados, os agentes se limitaram a dizer que ‘não poderiam sair do lugar’”, contou o repórter Pedro Pannunzio em seu Twitter.

“Globo Lixo! Fora, jornalista!”, os apoiadores do presidente gritavam em coro contra os profissionais da TV Band.

Segundo Pannunzio, a Polícia Militar interveio apenas após a reclamação de um transeunte sobre a inoperância deles. Como o repórter e sua equipe não sofreram agressões físicas ou tiveram equipamentos danificados, ele afirma ter decidido não registrar boletim de ocorrência.

Procurada pela Abraji, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo declarou que a Corregedoria da instituição está à disposição para apurar a denúncia sobre a falta de ação dos agentes, e a Polícia Civil, para registrar os fatos, em qualquer DP na cidade de São Paulo ou na Delegacia Eletrônica.

De acordo com a SSP, a PM organizou um esquema especial de policiamento para garantir a segurança de toda a população durante os atos realizados hoje (07/09). "Não há registro de feridos ou ocorrências graves, até o momento. O trabalho dos policiais resultou na prisão de cinco criminosos e evitou que fossem usados objetos como facas, soco inglês, rojões e componentes para a produção de coquetel molotov", acrescentou.   

Os repórteres Amanda Rossi, Ana Paula Bimbati e Leonardo Martins, do UOL, foram ofendidos por um participante do ato: "Você é jornalista? UOL é da Foice de São Paulo. Todo esquerdista tem que morrer".

Brasília

Sob perseguição e ameaças, jornalistas do site Metrópoles também foram expulsos do ato bolsonarista no Distrito Federal. As vítimas foram o fotojornalista Hugo Barreto e o repórter Raphael Veleda, que considerou a experiência “inaceitável”.

“Vão embora! Não olhem para trás! Esquerda sem vergonha”, esbravejou um dos manifestantes em vídeo divulgado pelo Metrópoles. Ao fundo da gravação, é possível escutar xingamentos e palavras de baixo calão. Os profissionais tiveram de sair do protesto sob escolta da PM do Distrito Federal.

Conforme relata Veleda, os profissionais de imprensa registravam agressão de manifestantes a equipes de documentaristas “impedidas violentamente de trabalhar”, quando foram retaliados. “Intimidação que não nos impede de publicar”, salientou.

Na quarta-feira (8.set.2021), a videorrepórter da CNN Brasil Natália André relatou à Abraji que ela e um colega do SBT precisaram de escolta da PM para entrar e sair do Ministério da Saúde, onde foram orientados a aguardar por cinco horas. "Aos berros, manifestantes pró-Bolsonaro me xingavam", detalhou.

Apoiadores do presidente tentaram invadir o prédio nos atos que seguiram as manifestações do Dia da Independência do Brasil.

Segundo André, momentos antes da chegada dela, os manifestantes perseguiram equipes do SBT e da Record, que, inclusive, tiveram de deixar materiais de filmagem para evitar agressões. "Um pedestre muito solidário resgatou o equipamento deles e entregou para a repórter da Record [que pediu para não ter seu nome identificado], que estava em segurança dentro do ministério", disse. Com a dispersão dos invasores, os profissionais de imprensa foram levados às suas respectivas emissoras por viaturas da polícia.

Sobrou até para quem não era repórter. Apoiadores do presidente confundiram o auditor aposentado da Controladoria Geral da União Anamim Lopes Silva com um jornalista da TV Globo e o cercaram. “Eu levei muito chute, muito soco nas costelas”, relatou o funcionário público em vídeo no Twitter.

“Eu reclamei que os manifestantes faziam um piquete da morte [em referência à aglomeração que bloqueava a passagem] em frente ao Ministério da Saúde, e começaram a falar coisas improcedentes”, contou Silva.

Foto de capa: Reprodução/Twitter de Maicon Mendes

Assinatura Abraji