• 03.07
  • 2012
  • 14:05
  • Karin Salomao

Lucas Ferraz relata como localizou autor da fotografia que marcou a ditadura militar

Uma das imagens mais icônicas da ditadura militar brasileira é a foto da morte de Vladimir Herzog, de 1975. Um dos “suicidados” do regime foi fotografado por Silvaldo Leung Vieira, fotógrafo da Polícia Civil e com 22 anos, na época. Anos mais tarde, o fotógrafo foi entrevistado por Lucas Ferraz, repórter da Folha de S.Paulo e confirmou que a pose de Herzog fora manipulada. Ferraz estará no 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo para falar sobre essa entrevista.

O título da reportagem de Lucas Ferraz é “Instante Decisivo”, expressão cunhada pelo famoso fotógrafo francês Henri Cartier Bresson, segundo o qual o fotógrafo deve sempre procurar retratar o momento decisivo em suas imagens. Para Ferraz, a fotografia de Herzog compõe justamente um desses instantes. A imagem, chocante, ajudou a derrubar a versão oficial de que o jornalista da TV Cultura preso pelo regime militar em [data], havia se suicidado. Segundo Ferraz, a morte de Herzog foi “um crime que ajudou no processo de abertura democrática no país”. 

A reportagem de Ferraz também vem em um momento importante da história do país. Com a instauração da Comissão da Verdade, e a consequente ampliação da possibilidade de pesquisar histórias de torturas e mortes no regime, reacendeu-se o interesse sobre esses crimes. Para ele, iniciativas como a Comissão têm um êxito maior “quando a imprensa faz a sua parte”, ao “mudar a forma como o país conhece a sua história”, como ocorre na Argentina. “O jornalismo pode contribuir para aumentar o conhecimento da verdade e da história”, afirma Ferraz.

 

A entrevista

A ideia da pauta veio por acaso, quando um colega mencionou ter encontrado o fotógrafo Silvaldo. Ferraz estava voltando de seu posto como correspondente internacional na Argentina. Para conseguir falar com o fotógrafo, o jornalista procurou alguém da família. Afinal, Leung não é um sobrenome muito comum. Conseguiu encontrar a mãe de Silvaldo, que passou os contatos de e-mail e do telefone dele, em Los Angeles. Ele passou as semanas seguintes conversando com o fotógrafo sobre os eventos de 1975.

Por telefone, Silvaldo disse a Ferraz que “tudo foi manipulado, e infelizmente eu acabei fazendo parte dessa manipulação”. “Depois me dei conta que havia me metido em uma roubada. Isso aconteceu, acho, porque eles precisavam simular transparência.” 

Em um mês de apuração, Ferraz não apenas escutou a história que levaria à fotografia ícone do sistema de tortura da ditadura militar. Para buscar outras fontes, ele foi atrás de diversos documentos do governo de São Paulo. Encontrou a ficha de Silvaldo na Polícia Civil com diversas informações, incluindo uma suspensão por não querer tirar fotos de presos que haviam sido torturados. Outras fontes foram o Diário Oficial e a Comissão da Anistia.

Ferraz diz que fazer um bom jornalismo “não é impossível, só demanda tempo”. Ele destaca que, para achar as informações que procura, o jornalista deve buscar no lugar certo. 

 

7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Quando: 12, 13 e 14 de julho de 2012

Onde: São Paulo - Universidade Anhembi Morumbi - campus Vila Olímpia - unidade 7 (Rua Casa do Ator, 275)

Inscrições: http://bit.ly/7Congresso

Assinatura Abraji