- 11.10
- 2019
- 12:00
- Natália Silva
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Livro-reportagem aborda realidade da população LGBT no cárcere
Atrás das grades da Penitenciária Feminina da Capital, no Carandiru, mulheres são tratadas como homens. Em “Presos que Menstruam”, a jornalista Nana Queiroz ouve e dá voz às presas e às suas famílias, atingidas pela violência de gênero e pela miséria do sistema carcerário brasileiro, que hoje abriga a terceira maior população prisional do mundo.
O livro de Nana foi a inspiração de um dos trabalhos de conclusão de curso apresentados durante o 14º Congresso da Abraji: “Transviados no cárcere: um retrato das LGBTs no sistema penitenciário”, TCC de Felipe Sakamoto e Lucas Cabral, hoje formados em Jornalismo pela Cásper Líbero. O livro conta a história de pessoas da comunidade LGBT encarceradas em penitenciárias de São Paulo e Minas Gerais.
Lucas Cabral conta que leu “Presos que Menstruam” enquanto estava no segundo ano da faculdade. “Ela aborda a questão LGBT, mas não aprofunda. E por isso fiquei com algumas ‘pulgas’ atrás da orelha”, comenta. “Queria saber mais como LGBTs vivem lá dentro.”
A investigação para descobrir qual é a realidade de LGBTs encarcerados, as regras de convívio às quais são submetidos em nome da sobrevivência e a relação com agentes penitenciários levou cerca de um ano e meio. Segundo Cabral, parte do tempo foi consumida pelos processos burocráticos necessários para obter autorização para entrar em prisões. Por isso, o jornalista aponta o planejamento como algo essencial para fazer um bom TCC: “Entenda melhor o mundo sobre o qual você quer escrever e as possíveis dificuldades.”
Dentro das grades, surgiram outros obstáculos. “Foi difícil criar intimidade com os detentos. A rotatividade é muito grande e, por sermos homens, tivemos dificuldade de aproximação com mulheres”, conta Cabral. Por isso, ele e Sakamoto, que haviam decidido entrevistar apenas pessoas presas para o livro, decidiram conversar também com egressos — como são chamados aqueles que passaram pelo sistema penitenciário e estão livres. Cabral destaca que é necessário ter flexibilidade para repensar a estrutura do trabalho em momentos de dificuldade. “Abrir nossa mente para essa possibilidade foi o que possibilitou a conclusão do TCC.”
O livro-reportagem reúne histórias de pessoas presas em penitenciárias, sem deixar de lado os dados que dão ao leitor um panorama da complexidade do sistema carcerário do Brasil. Além da narrativa, Cabral e Sakamoto apresentam no começo do livro um glossário para facilitar a compreensão das gírias e expressões usadas pela população LGBT dentro das cadeias.