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Lidando com as ameaças. O trabalho investigativo no jornalismo regional

Publicado em 28 de julho de 2014 em Comunique-se

Como funciona o jornalismo investigativo na imprensa local? Pensando em levar a profissionais da área e estudantes de comunicação a resposta para essa pergunta, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) reservou um painel de seu último congresso, realizado na última semana em São Paulo, para discutir o tema. Para isso, reuniu os repórteres James Alberti (RPC TV), Cristiano Pavini (jornal A Cidade) e Fábio Oliva (Blog do Fábio Oliva).

Escalado para mediar o encontro dos outros dois jornalistas com os participantes do congresso, Alberti, que colabora na direção da Abraji, relatou que sabe muito bem como funciona o trabalho da imprensa que atua fora dos holofotes de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O repórter da RPC TV, afiliada da TV Globo na região de Curitiba, citou o caso em que ele e um produtor tiveram de recorrer ao disfarce para conseguir se livrar de possíveis ameaças.

“Estávamos gravando em uma estrada do interior do Paraná e tínhamos uma denúncia em uma fazenda. Um dos ‘seguranças’ desconfiou da nossa presença, mas nosso produtor, que entende bem de agronomia, conseguiu se sair bem. Disse que estávamos interessados em comprar terras por ali, demonstrou conhecimento, falou do solo, de plantação”, contou Alberti. “Conseguimos seguir com a pauta, mas, em determinado momento, acredito que viram a gente filmando. Ligamos para a redação e mandaram a gente sair de lá correndo”.

Repórter de A Cidade, diário que circula na região de Ribeirão Preto (SP), Pavini contou que ainda não foi alvo direto de ameaças, mas que tem conhecimento de histórias que envolvem ameaças de políticos a jornalistas. Apesar de saber de histórias nesse sentido, reforçou que, em cidades do interior, o crescimento da qualidade do noticiário investigativo passa pela mudança de mentalidade dos profissionais da área. “Há a ilusão de que o jornalismo local não é tão forte”.

Ameaça. Eis uma palavra que Fábio Oliva, jornalista com mais de 30 anos de carreira e que atua na região de Montes Claro, interior de Minas Gerais, sabe bem o significado. Cansado de ser ameaçado por políticos, além de alvo de processos e calúnias (como ter sido chamado, por um blog, de “psicopata januarense”, em referência à cidade de Januária), o profissional decidiu que aprenderia a lidar sozinho com isso. Resultado? Formou-se em Direito e criou uma ONG para auxiliar pessoas de baixa renda que, segundo define, são as maiores vítimas da corrupção que não chega a ser denunciada.

“Temos de ter a noção de que a corrupção mata. Um dinheiro que é desviado daqui e dali fazem pessoas morrer. Morrem até de fome”, desabafou o jornalista-advogado, que definiu o seu trabalho em uma frase: “incomoda porque busca revelar o que muitos querem esconder”. Ele aproveitou a apresentação no congresso da Abraji para levantar a possibilidade da imprensa, de modo geral, mudar a abordagem ao noticiar casos de desvios de verba em órgãos públicos, por exemplo. “Quem rouba não é corrupto. É ladrão”.

Assinatura Abraji