- 11.04
- 2019
- 15:00
- Natália Silva
Acesso à Informação
Lições do Panama Papers três anos depois
Em 3.abr.2019, a investigação Panama Papers, liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, sigla em inglês), completou três anos. A apuração dos documentos do escritório panamenho Mossack Fonseca — que auxiliava na abertura de empresas offshore, usadas para sonegação de impostos em alguns casos — contou com a participação de quase 400 jornalistas de 76 países, que passaram mais de um ano realizando apurações na base de dados construída pelo ICIJ.
José Roberto de Toledo, ex-presidente da Abraji, participou da investigação no Brasil, realizando a cobertura para o jornal O Estado de S.Paulo, onde trabalhava à época. “Foi o trabalho de equipe mais impressionante que eu participei em 32 anos de carreira, porque a quantidade de jornalistas era uma coisa absurda”, comenta o jornalista, que atribuiu o mérito do sucesso da investigação à coordenação realizada pelo ICIJ. “A base de dados que eles conseguiram montar para que todo mundo pudesse pesquisar era gigantesca e muito eficiente.”
Segundo o balanço divulgado pelo ICIJ no terceiro aniversário da investigação, o Panama Papers ajudou a recuperar mais de US$1,2 bilhão ao redor do mundo. No Brasil, de acordo com apuração do Poder360, que também participou do trabalho, o impacto financeiro não aconteceu. A Receita Federal afirma que ainda não conseguiu verificar as informações coletadas sobre o país.
Mateus Netzel, diretor-executivo do Poder360, afirma que o principal impacto das investigações realizadas em diversos países foi incentivar o debate sobre paraísos fiscais e provocar mudanças nas leis para evitar o desvio de dinheiro. “Nos casos que tiveram dinheiro recuperado diretamente, melhor ainda”, comenta.
Toledo e Netzel classificam o modelo de trabalho adotado pelo ICIJ como “vitorioso” e atribuem a isso o desenvolvimento de novas investigações colaborativas semelhantes, como o Paradise Papers e o Implant Files. “O Panama Papers é uma prova de que é possível fazer investigações transnacionais com veículos que, a princípio, nunca teriam contato entre si, e que podem juntos cobrir casos relevantes como esse”, argumenta Netzel.