- 10.11
- 2022
- 19:06
- Abraji
Liberdade de expressão
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Júri condena quatro dos cinco acusados de envolvimento na execução do jornalista Valério Luiz
Foto: Julgamento dos acusados de envolvimento na execução de Valério Luiz. Reprodução/TV Anhanguera
Adiado por diversas vezes desde 2014, o Júri Popular dos acusados de envolvimento na execução do jornalista Valério Luiz condenou, nesta quarta-feira (9.nov.2022), quatro dos cinco réus, após três dias de julgamento em Goiânia. Maurício Borges Sampaio, o então vice-presidente do Atlético Clube Goianiense, foi apontado como mandante do crime e sentenciado a 16 anos de prisão.
Outros três condenados pelo assassinato do jornalista são: Ademá Figueiredo Aguiar Filho, Urbano de Carvalho Malta e Marcus Vinícius Pereira Xavier. Policial militar, Ademá Figueiredo foi considerado o autor dos disparos e recebeu a pena de 16 anos de reclusão em regime fechado. Urbano de Carvalho, acusado de ter sido o motorista e de contratar Ademá Figueiredo para cometer o crime, recebeu a pena de 14 anos. O quarto condenado é Marcus Vinícius Pereira Xavier, açougueiro, que teria cedido moto, capacete e roupas para Figueredo executar o jornalista e chegou a confessar. Ele também recebeu pena de 14 anos. O único absolvido foi o PM Djalma Gomes da Silva.
A decisão do Tribunal de Justiça de Goiás cabe recurso.
Durante os dez anos em que o crime ficou impune, o Júri Popular foi adiado por diversas vezes sob várias justificativas. Um exemplo, em 2019, o adiamento ocorreu a partir da alegação do juiz responsável de que não haveria estrutura para comportar julgamento de tamanha repercussão no Foro correspondente. Desde 2020, o Conselho Nacional de Justiça determinou o adiamento de júris por causa da pandemia da covid-19.
O filho da vítima, o advogado e assistente de acusação Valério Luiz Filho, avalia que a violência contra os comunicadores no Brasil segue um determinado padrão. "Geralmente, são crimes praticados por pessoas poderosas. Pela elite financeira, empresarial, militar. Aqui não foi diferente. Meu pai teve sua vida ceifada em razão dos comentários que fazia contra um diretor de clube de futebol”, afirmou à Abraji.
Valério Luiz Filho lembra que houve obstáculos muito difíceis a serem superados no caso do seu pai. "Além do alento particular da família, tenho certeza que também é paradigmático para talvez começar um novo ciclo aqui no Brasil. E servir de exemplo para tanto aqueles que ameaçam os jornalistas saberem que é possível serem responsabilizados. E também para a família das vítimas verem que isso pode ser solucionado”, concluiu.
Katia Brembatti, presidente da Abraji, disse que, apesar de tantos adiamentos, a decisão judicial é um marco: ´Poiss dá uma resposta à sociedade. É importante que o Judiciário passe essa mensagem, de punição severa a um crime tão bárbaro”.
Como o jornalista foi executado
O crime ocorreu em 05.jul.2012 em Goiânia, Goiás. Valério Luiz foi executado com seis tiros quando estava de saída do seu local de trabalho, a Rádio Jornal 802 AM. O radialista era conhecido pelas críticas que fazia na área de esportes, principalmente futebol.
Segundo o Ministério Público, Maurício Sampaio se incomodava com as falas de Valério Luiz. Em 17.jun.2012, o jornalista teria dito a seguinte frase ao comentar a saída de Sampaio da diretoria do Atlético Goianiense: “nos filmes, quando o barco está afundando, os ratos são os primeiros a pular fora”.
Valério Luiz fazia críticas ao cartola goiano e também comentava sobre a diretoria do clube. Na época, em 2012, o time se encontrava em uma má fase do Campeonato Brasileiro. De acordo com Valério Luiz Filho, em um texto que ele publicou no site da Abraji em 2015, o jornalista costumava dizer em seus programas que “O Atlético está na série A, mas não é time de série A, não”.
À época, o filho do jornalista explicou que o pai era torcedor do time goianiense e acusava a diretoria atleticana de usar “o brasão do clube para captar dinheiro escuso”. Ainda de acordo com esse relato, o jornalista esportivo “criticava Sampaio, em particular, por supostamente utilizar recursos para a aquisição de jogadores que mal seriam testados em campo e serviriam apenas de lucro nas futuras negociações com outros cartolas”.