Jornalistas organizam manifesto em apoio a Patricia Campos Mello
  • 12.02
  • 2020
  • 10:00
  • Abraji

Liberdade de expressão

Jornalistas organizam manifesto em apoio a Patricia Campos Mello

Foto: Renato Parada/Abraji

Na manhã desta quarta-feira (12.jan.2020), jornalistas brasileiras organizaram manifesto em apoio à jornalista da Folha de S. Paulo Patricia Campos Mello. Mais de 2.400 profissionais já assinaram o documento. A iniciativa não é da Abraji, mas conta com apoio da associação.

A mobilização começou logo após a repórter ser alvo de insultos proferidos por ex-funcionário de uma empresa especializada em disparos em massa de mensagens de Whatsapp na CPMI das Fake News, no Congresso Nacional, na terça-feira (11.jan.2020). 

Hans River do Rio Nascimento disse que a jornalista "queria sair" com ele em troca de informações para uma reportagem. A alegação, falsa e de cunho machista e misógino, refere-se ao processo de investigação de Campos Mello para a reportagem sobre o uso fraudulento de nomes e CPFs para permitir o envio de mensagens durante o processo eleitoral, publicada em dez.2018. Após as insinuações, a Folha apresentou os documentos que refutam o depoimento.

O manifesto em apoio à repórter, construído de forma coletiva e horizontal, apresenta uma primeira versão da lista de assinaturas, porém, mais nomes serão adicionados nos próximos dias. As assinaturas para o manifesto podem ser enviadas através do formulário. Além das jornalistas, há artistas e profissionais de outras áreas manifestando apoio. Entre elas, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres.

A Abraji endossa o manifesto. Maiá Menezes, do conselho fiscal da associação e repórter especial de Política do jornal O Globo, considera o documento “um gesto voluntário de jornalistas do Brasil inteiro que se sentiram atingidas diretamente e indignadas com a mistura entre o público e o privado”.

Em 2017, levantamento publicado pela Abraji em parceria com a Gênero em Número e com apoio do Google News Lab mostrou que 59% das jornalistas que responderam à pesquisa presenciaram ou tomaram conhecimento de uma colega sendo assediada no exercício de sua profissão por uma fonte.

Também nesta terça (11.jan.2020), a Abraji divulgou nota em repúdio aos ataques feitos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que replicou insinuações do depoente Hans River, em tom jocoso, em seu perfil no Twitter. Após a publicação, seus seguidores endossaram as ofensas e mentiras nas redes sociais.

Patricia Campos Mello, que também é diretora da Abraji, declara que “as ofensas misóginas da testemunha mentirosa e de deputados como Eduardo Bolsonaro são uma agressão contra todas as mulheres e mostram como as jornalistas mulheres têm sido sistematicamente vítimas de difamação e intimidação", afirma.

Para a conselheira da Abraji e coordenadora do Programa Tim Lopes, Angelina Nunes, o episódio representa uma tentativa de calar o jornalismo. “O linchamento virtual é danoso e tem o propósito de reduzir a discussão, o trabalho investigativo. Quando faltam argumentos, essas pessoas partem para o ataque pessoal, para inventar boatos e nos atacar de forma inaceitável. Precisamos dar um basta”, defende Nunes.

 

(*) Texto alterado às 17h40 de 12.02.2020 para atualização de informações.

Assinatura Abraji