• 03.07
  • 2013
  • 14:44
  • Cleyton Vilarino

Jornalistas estão com formação política débil, aponta estudo

Os jornalistas são majoritariamente não sindicalizados, de formação política débil e com pouca capacidade de análise crítica. As conclusões são do estudo do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. A pesquisa foi conduzida pela professora e coordenadora do CPCT Roseli Fígaro junto com os doutorandos Rafael Grohmann e Cláudia Nonato e será lançada em livro no dia 15 de agosto.

O estudo teve início em 2010 com quatro tipos de amostras:profissionais abordados por redes sociais (principalmente via e-mail), profissionais do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, jornalistas contratados de uma grande empresa editorial de São Paulo efreelancers. Foram ouvidos 538 jornalistas no total em todo o estado de São Paulo.

As conclusões qualitativas foram as que mais espantaram os pesquisadores. Elas revelaram uma formação humanística muito fraca e um foco muito claro na técnica por parte dos profissionais. O pesquisador Rafael Grohman conta que entre os relatos que mais o chocou estava o de uma profissional que afirmou não haver nada que o curso de jornalismo pudesse ensiná-la que a empresa já não o tivesse feito: “ela disse ‘tem um amigo meu que faz física e trabalha aqui e ele é muito bom`. Eu contei para ela que ele fazia jornalismo também, e ela respondeu: ‘por que raios ele foi fazer jornalismo? A faculdade não tem nada a ensinar para ele que a empresa não tenha ensinado. Jornalismo é uma profissão prática`”, conta.

Em contrapartida, o doutorando também critica a baixa presença do debate do jornalista enquanto profissional nas universidades, justamente em um momento em que a categoria presencia uma série de demissões. “O jornalista poucas vezes se pensa enquanto trabalhador, ele é o super-herói, o salvador da pátria”, explica. “Acho que o maior crédito do nosso livro é provocar essa discussão. A classe dos jornalistas está trabalhando muito e não está olhando direito para essas questões tão fundamentais”, afirma Grohmann.

No aspecto profissional, o estudo também apontou para uma precarização das condições de trabalho, num processo de densificação (quando a mesma quantidade de trabalho passa a ser realizada por um número menor de pessoas). Roseli Fígaro conta que o baixo engajamento e descrédito na organização da categoria talvez seja reflexo das condições de trabalho. “Acredito que isso se dê pela atual situação de empregabilidade e pela precarização desses laços, que tornam a questão da sindicalização e da organização muito frágeis”, afirma.

Uma outra pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e divulgada em abril deste ano aponta que 45,4% da categoria estão insatisfeitos com o salário e 48,2% com outros benefícios salariais. De acordo com o próprio levantamento da UFSC, apesar de 86% dos jornalistas ganharem até 10 salários mínimos, menos de um terço desta maioria está na faixa de renda entre cinco e 10 salários. 

A pesquisadora da USP conta que, questionados sobre se conseguiam arranjar tempo para planejar a sua vida, os profissionais mais jovens e os freelancersforam os que menos apontaram ter condições de fazê-lo. “Isso quer dizer trabalhar hoje, para consumir hoje e não saber como será seu trabalho no ano que vem”, explica a professora. Ela aponta que essas pessoas, com instabilidade e dificuldade em se relacionar com o mundo do trabalho, não vislumbram soluções coletivas.

Serviço

Livro “As mudanças no mundo do trabalho do jornalista”(E-book) - Roseli Figaro (Org.), Cláudia Nonato e Rafael Grohmann
Lançamento: 15 de agosto, na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509, São Paulo)
Preço sugerido: R$ 47,00. Promoção de lançamento: desconto de 30% para professores e de 20% para o público em geral.

O livro está disponível para aquisição no site da Editora Atlas.


Assinatura Abraji