Jornalistas e especialistas discutem tendências do jornalismo em seminário da Abraji
  • 04.05
  • 2017
  • 10:40
  • Mariana Gonçalves

Liberdade de expressão

Acesso à Informação

Jornalistas e especialistas discutem tendências do jornalismo em seminário da Abraji

O seminário “O futuro do jornalismo”, realização da Abraji em parceria com a ESPM e com os consulados canadense e norte-americano no Brasil, ocorreu na manhã de ontem (3.mai.2017) na unidade da ESPM em São Paulo. Com painéis sobre novos formatos de mídia e transparência e acesso à informação, o evento comemorou o quinto aniversário da Lei de Acesso à Informação (LAI) e o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

Os cônsules gerais Ricardo Zuniga e Stéphane Larue, dos Estados Unidos e do Canadá, abriram o seminário destacando a liberdade de informação e sua importância para as democracias. “Estamos aqui para celebrar esse direito fundamental”, disse Zuniga. “É um direito da sociedade civil exigir informação, para ter capacidade de interpretar o mundo em que vive.” Nesse sentido, a transparência dos governos – e até mesmo o jornalismo investigativo, ressaltou – são fundamentais. “Qualquer pessoa no mundo tem sede de informação”, completou Larue, mencionando sua experiência em países fechados. 

Em seguida, o professor e jornalista Andre Deak, da ESPM, mediou o painel “Novos formatos no Brasil”, que apresentou o modelo de negócio de veículos de jornalismo em ascensão, como o Nexo Jornal e a agência Volt Data Lab, e o crescente uso de narrativas em dados. A palestra contou com a presença da jornalista Karla Mendes, da co-fundadora do Nexo Renata Rizzi e de Sergio Spagnuolo, fundador do Volt Data Lab.

O jornalismo de dados foi o destaque do painel. “Acho que, hoje em dia, temos espaço para produzir”, disse Mendes. Para ela, que tem mestrado em jornalismo investigativo e de dados pela University of King’s College, o jornalismo de dados é relevante porque é empírico, permite a reinvenção do ofício, dá ao repórter independência em relação às fontes e possibilita análises variadas. “Você pode contar histórias de forma interativa”, destacou. Spagnuolo, por sua vez, mencionou o desafio de monetizar o jornalismo de dados. Para se manter, o Volt Data Lab tem apostado na produção constante, em projetos próprios e na prestação de serviços a outros veículos -- e na perseverança. “Para nós, não existe um só modelo [de negócio], mas a contínua construção de planos”, disse Spagnuolo. 

Renata Rizzi preferiu destacar o projeto editorial do Nexo que, além do trabalho com dados e novas formas de narrativa, investiu no jornalismo de contexto, conseguindo espaço para se diferenciar entre veículos tradicionais. “Saber que determinado evento aconteceu é uma coisa; quando você entende o contexto, o debate se qualifica”, afirmou Rizzi. Até agora, o veículo, exclusivamente digital, tem recusado publicidade e se mantido por meio de assinaturas. Embora chegar às pessoas seja a parte difícil, a taxa de conversão de leitores para assinantes tem sido satisfatória, disse Rizzi. 

O segundo painel, com mediação do jornalista Daniel Bramatti, membro do Estadão Dados e diretor da Abraji, trouxe à discussão a importância do acesso a informações de interesse público. O correspondente no Rio de Janeiro da Thomson Reuters e a americana Patrice McDermott, ex-diretora executiva da OpenTheGovernment.org, defenderam a atuação do jornalismo para promover o acesso às informações de interesse público. A. 

Para McDermott, a Lei de Acesso a Informações norte-americana já está estabelecida (é uma lei de 1967), passou por mudanças que a aprimoraram, é disponível para qualquer pessoa e apresenta poucas restrições, mas ainda não vale para todas as entidades do governo federal norte-americano e enfrenta dificuldades para se fazer valer em alguns casos. “O problema é a falta de liderança [para fazê-lo funcionar efetivamente]”, disse. Ela afirmou não saber ainda como será tratada a lei na administração de Donald Trump.

Chris Arsenault contou episódios de sua carreira como repórter e ressaltou o papel dos jornalistas de sempre “dizer aquilo que alguém não quer que seja dito”, às vezes correndo riscos e nem sempre entrando “pela porta da frente”, mas trazendo luz a temas de interesse público.

Assinatura Abraji