• 28.03
  • 2012
  • 15:09
  • Karin Salomao

Jornalistas de El Salvador são ameaçados pelas maiores quadrilhas do país

 

Jornalistas do periódico salvadorenho “El Faro” estão sob ameaça das duas maiores quadrilhas de El Salvador: a Mara Salvatrucha – também conhecida por MS-13 – e Barrio 18. Os criminosos divulgaram uma nota em que repudiavam o diretor do jornal, Carlos Dada, e o próprio El Faro, considerados por eles tendenciosos e mentirosos. Embora o comunicado das quadrilhas não os ameace diretamente, é claro para a empresa que há uma mensagem.

O comunicado foi uma reação à reportagem publicada no dia 14 março e assinada por Óscar Martínez (que esteve no 6º Congresso da Abraji), Carlos Martínez, Sergio Arauz e Efren Lemus sobre um possível acordo entre o governo e os grupos criminosos para reduzir a taxa de homicídios no país.

De acordo com a reportagem, desde o dia 8 de março mais de 30 líderes das duas gangues haviam sido transferidos de presídios de segurança máxima para outros, com regime menos rígido. No mesmo período, os homicídios no país caíram de 14 para 6 por dia, uma redução de 59%. Em duas semanas, foram registradas 79 mortes. Segundo a Polícia Nacional Civil de El Salvador, a taxa não é usual. Antes disso, eram 95 por semana, assassinatos causados principalmente pelas disputas entre as duas quadrilhas. 

No texto, os repórteres citam um criminoso da Mara Salvatrucha que afirma: chefes da quadrilha deram ordens de suspender assassinatos e avisaram ter sido transferidos de cadeias de segurança máxima de Zacatecoluca. Ainda de acordo com o informante, os chefes disseram “estar de férias”.

No dia 16 de março, o ministro da Justiça do país, David Munguía Payés, concedeu uma entrevista coletiva convocada para desmentir a negociação entre governo e grupos criminosos noticiada pelo “El Faro”.

Na ocasião, o ministro David Munguía Payés admitiu ter transferido cerca de 30 presos de centros de segurança máxima. Mas, segundo ele, por razões humanitárias e rumores de um plano de fuga. A diminuição dos assassinatos seria, segundo Munguía Payés, resultado da “coordenação e do trabalho de inteligência da Polícia”.

Ao assumir o cargo, Munguía Payés prometeu uma redução de 30% dos homicídios no país ao cabo de um ano. Mas seu primeiro trimestre terminou em fevereiro e registrou alta na taxa.

 

REPERCUSSÃO

Em entrevista ao jornal El Diario de Hoy, porta-vozes das duas quadrilhas negaram que os jornalistas estivessem sob ameaça. El Diablo, um dos membros da Mara Salvatrucha, negou também a negociação com o governo.

Os jornalistas do “El Faro” foram advertidos pelo ministro Munguía Payés de que poderiam estar em perigo. Ao Comitê de Proteção aos Jornalistas, Munguía assegurou que era sua "responsabilidade dar proteção a qualquer salvadorenho ameaçado e em perigo". Nenhuma ajuda foi oferecida, porém, segundo Carlos Dada, aos jornalistas ameaçados.

No dia 20 de março, o bispo militar Fabio Colindres, o núncio Apostólico, representante diplomático do Papa em El Salvador, Luigi Pezzuto, e o ex-deputado Raul Mijango revelaram que a Igreja Católica atuou como intermediária na trégua entre as duas gangues.

No dia 26 de março, debaixo de toldos coloridos elaborados pelos próprios presidiários, duas missas foram celebradas nos presídios de Ciudad Barrios e Cojutepeque, em Cuscatlán, pelo representante do Papa Bento XVI e pelo bispo militar, em frente a centenas de membros das principais quadrilhas salvadorenhas, para comemorar a trégua. Tanto Colindres como Mijango falaram de um "entendimento" entre as gangues, e não de negociações entre gangues e o governo ou a Igreja.

Segundo relatório da ONU, Honduras e El Salvador têm as maiores taxas de homicídio do mundo. Tanto a Salvatrucha quanto a Barrio 18 têm raízes no sul da Califórnia. Os grupos saíram de El Salvador, Guatemala e Honduras procurando refúgio das guerras civis dos anos 1980.


 

Assinatura Abraji