Jornalistas contam sobre os bastidores da reportagem especial

Publicado no site Unicos.cc, por

Matheus Fernandes (5° semestre de Jornalismo/Unisinos)

Mariana Blauth (3° semestre de Jornalismo/Unisinos)

A rotina de um repórter que trabalha com investigações sigilosas, com a denúncia de furtos e corrupções não é fácil. Além de pesquisar dados, buscar informações exclusivas e dedicar-se quase em tempo integral para uma reportagem, o profissional pode passar por experiências negativas. A vida do jornalista investigativo foi assunto da palestra de Mauri König e Giovani Grizotti no 2° Seminário de Jornalismo Investigativo, em Porto Alegre.

Vencedor de dois Prêmios Esso de Jornalismo, König contou como foi produzir a reportagem “Polícia Fora da Lei”, publicada no jornal Gazeta do Povo, um dos principais do Paraná. A matéria especial revela corrupções e irregularidades cometidas pela Polícia Civil do Estado, como uso particular de viaturas e o desenvolvimento de delegacias fantasmas.

Por meio da denúncia de uma fonte ligada ao governo, o jornalista montou uma equipe e acompanhou as atividades do órgão durante cinco meses. Três deles foram dedicados à investigação de funcionários. “Montamos campana na porta de algumas delegacias e seguimos os carros. Descobrimos oficiais  usando o automóvel do órgão para ir ao mercado ou para passar o fim de semana na praia”, conta o jornalista.

Durante esse período, a equipe analisou dados que não correspondiam com a realidade, como o caso de um delegado que gastou R$ 7 mil na compra de uma placa de identificação para sua delegacia. “Nesses cinco meses, fomos construindo provas de tal maneira que, quando interrogados, os oficiais não puderam contestar”, explica König.

Mauri conta sobre os detalhes das investigações. (Foto: Aline Kauana Cezar)

O repórter investigativo do Grupo RBS Giovani Grizotti falou sobre o processo de elaboração da reportagem “Máfia dos Pardais”, que mostrou a falta de critérios para a instalação de pardais e lombadas em locais com maiores índices de acidentes de trânsito, além do pagamento de propina às empresas especialistas na colocação desses instrumentos. O material foi veiculado no programa Fantástico, da Rede Globo, em março de 2012.

O jornalista explica que a reportagem, que levou três meses para ser finalizada, revelou um esquema de corrupção na locação de radares, falta de critérios na instalação dos equipamentos e fraude no sistema de gerenciamento de multas. “Em 17 anos de experiência na RBS, essa foi a reportagem que mais repercutiu”, salienta.

Segundo Grizotti, para produzir um trabalho investigativo é preciso que o tema seja de interesse público e traga repercussão. Mencionando outras reportagens feitas por ele, o profissional contou que as matérias especiais surgem por meio de denúncia de fonte, percepção do repórter, acompanhamento de investigação oficial e datas especiais (períodos de golpes no comércio, por exemplo). “O profissional deve estar antenado, a partir da leitura de jornais e acompanhamento de telejornais”, diz.

O trabalho de jornalista investigativo envolve riscos ao profissional. Grizotti conta que já passou por situações desfavoráveis, como a divulgação de sua própria imagens. No ano passado, por exemplo, a fotografia registrada na carteira de habilitação do repórter foi panfletada. Segundo ele, apenas um desses casos foi investigado.

Palestra: Boas histórias: Polícia Fora da Lei e reportagens / Horário: 16h às 17h30min

Palestrantes: Mauri König e Giovani Grizotti

* Mauri König: jornalista do Gazeta do Povo, um dos mais premiados do Brasil e vencedor de dois Prêmios Esso.

* Giovani Grizotti: repórter especial da RBS TV, formado em Jornalismo pela PUCRS e conquistou mais de 45 prêmios na carreira.

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