- 01.06
- 2012
- 14:14
- Karin Salomao
Jornalistas aprendem como prevenir riscos em coberturas de conflito armado em 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo
Em um curso de três horas de duração, jornalistas poderão aprender como se proteger em coberturas perigosas. A mesa “Medidas de proteção para jornalistas em coberturas de conflito armado”, dia 12 de julho, às 9h, apresentará quais os riscos a que estão expostos os jornalistas que aceitam a missão de trabalhar em zonas de guerra e que recursos de proteção estão disponíveis para esses profissionais. Marcelo Moreira (TV Globo/Abraji), João Paulo Charleaux (Conectas Direitos Humanos) Rodney Pinder (International News Safety Institute/Inglaterra), Frank Smyth (Global Journalist Security/EUA) estarão presentes na mesa, para discutir a proteção dos jornalistas que se embrenham em situações das mais perigosas para conseguir a melhor história.
Charleaux alerta que a proteção ao jornalista que cobre conflitos armados ainda é uma cultura incipiente nas empresas jornalísticas. Ele considera que “seria necessário adotar protocolos mais eficazes e animar o debate nas redações sobre medidas de proteção”. O objetivo de João Paulo Charleaux é animar o debate em torno da questão de medidas de proteção ao jornalista em cobertura de conflitos armados. “Nós, jornalistas não sabemos falar sobre os maus bocados que passamos. Precisamos conversar mais, para saber o que fazer”, diz.
Rodney Pinder diz que um dos problemas para a difusão dessas medidas é que é dada uma maior atenção aos correspondentes internacionais em grandes guerras. Na verdade, os correspondentes são apenas uma pequena proporção dos jornalistas assassinados. 93% dos jornalistas, segundo o site do INSI, nasceram e viveram nos países onde foram mortos.
“Não existe risco zero em algumas coberturas, em guerras ou tiroteios por exemplo”, diz Moreira. Segundo Pinder, a única maneira totalmente segura de evitar os riscos dessas situações é não reportá-las. A reportagem e a liberdade da imprensa de reportar, no entanto, são vitais para a sociedade, diz ele, o que torna essa opção inviável. A alternativa, então, é que o jornalista reconheça os riscos e se prepare para eles, através de informação e treinamentos de segurança apropriados. Preparar os jornalistas para perigos em áreas de guerra, como minas terrestres ou outras armadilhas, poderia ajudar um jornalista na cobertura de nações como Afeganistão ou República Democrática do Congo, por exemplo. “Se os matadores são profissionais, os jornalistas também deveriam ser”, diz Pinder. “A idéia não é eliminar o risco, apesar de ser possível. Mas ajudar os jornalistas a reduzir a margem de risco”, completa Smyth.
No Brasil, Moreira e Pinder já realizaram em conjunto dois treinamentos de segurança para jornalistas. Este ano, estão atuando em duas frente: um novo treinamento no Rio de Janeiro e um outro treinamento, maior, com a ajuda do governo inglês para realizar um curso para treinadores. Esse curso tem por objetivo treinar jornalistas experientes a repassar este conhecimento aos colegas mais jovens.
Autocensura
Um dos empecilhos para a proteção dos jornalistas, para os palestrantes, é a impunidade dos crimes cometidos contra a imprensa. Segundo o relatório do International News Safety Institute (INSI), os países mais perigosos para o trabalho dos jornalistas são o Paquistão, México, Irã e Líbia. Na América Latina, alguns países estão sujeitos aos perigos dos cartéis de narcotraficantes. Os jornalistas nestes países sofrem sequestros, assassinatos e são continuamente ameaçados.
Como 9 em cada 10 casos de assassinato seguem impunes, “o assassinato se torna uma maneira sem riscos para silenciar a reportagem”, diz Pinder, diretor do INSI. Esses crimes não apenas silenciam o repórter, mas mandam uma mensagem de que não se deve cobrir essas áreas. “Isto faz com que alguns jornalistas pratiquem a autocensura, eles deixam de investir em matérias arriscadas com medo de sofrerem algum tipo de retaliação”, diz Moreira. “Esses cantos obscuros da sociedade não estão sendo expostos como deveriam”, lamenta Pinder.