- 04.09
- 2023
- 15:45
- Abraji
Liberdade de expressão
Jornalista trava batalha judicial com LinkedIn para retornar à rede social
Depois de mais de dez anos atuantes no LinkedIn, o jornalista João Luiz Domenech Oneto foi banido da plataforma e hoje trava uma batalha na Justiça para retomar seu perfil. Domenech tem extensa carreira no jornalismo de redação (como O Globo) e no mundo corporativo (como a Coca-Cola) e, no início da pandemia de covid-19, passou a notar na rede social o crescimento de postagens de desinformação e conteúdo falso. Logo, começou a combatê-las e a expor o que considera falha da plataforma no combate a fake news.
O resultado, no entanto, se voltou contra ele. Ele foi banido pela rede social sob alegação de descumprimento das normas de utilização do perfil e por suposto assédio a quem o ofendeu, como mostram postagens documentadas por ele no processo que move contra o LinkedIn na Justiça do Rio de Janeiro. "Para minha perplexidade, eles dizem que o culpado sou eu. Mesmo diante de todos os insultos registrados. Querem me transformar em um extremista", afirmou ele em vídeo recente divulgado na internet logo após a audiência de tentativa de conciliação com a plataforma, que não colocou fim ao processo.
A Abraji procurou o LinkedIn para ouvir seu posicionamento sobre o caso, mas a empresa afirmou que não comenta situações com usuários específicos por questão de privacidade. Em nota, fez a seguinte declaração: “A principal missão do LinkedIn é criar oportunidade econômica para cada membro da força de trabalho global. Acreditamos que o processo político desempenha um papel fundamental nisso e incentivamos conversas sobre política, desde que sigam nossas políticas para Comunidades Profissionais. Aplicamos consistentemente essas políticas a todos e não toleramos discurso de ódio, desinformação ou assédio.”
Além de ofensas, Domenech sofreu ameaças; e os usuários não foram punidos. Nas postagens que documentam o processo e às quais a Abraji teve acesso, há linguagem vulgar, ameaças e ofensas. “Você está sendo bem macho, João. De repente vai receber uma visita surpresa aí na sua casa… você e seu bando de esquerdopatas… aí vai aprender a ser homem”, ameaçou um dos usuários. “Ameaça? Isso é muito sério. Devidamente registrado e será denunciado à polícia e ao Ministério Público”, respondeu Domenech, marcando a empresa em que o usuário afirmava ser um dos diretores.
“Cara, se você não parar de escrever merda aqui sobre política eu vou tomar minhas providências. Último aviso, ok?”, escreveu outro usuário, em tom ameaçador. No entanto, ao receber a denúncia, a plataforma afirmou que “avaliou a mensagem e determinou que não houve violação das nossas Políticas para Comunidades Profissionais”.
Em depoimento à Abraji, Domenech afirmou que a intimidação chegou até sua família. Um dos usuários mandou mensagem a uma parente dele, que tem o mesmo sobrenome, afirmando que iria visitar o seu comércio.
“Seja homem e vamos nos encontrar para se educar à força”, escreveu outro usuário, que não foi banido ou punido pelo LinkedIn. “Vou denunciar você à polícia. Já registrei suas ameaças”, respondeu Domenech, que recebeu mais uma ameaça: “[eu] vou é te achar”.
As postagens com desinformação denunciadas pelo jornalista diziam coisas como: “a cloroquina cura, máscaras não servem para nada, assintomáticas não transmitem, isolamento foi idiotice e Bolsonaro tinha razão”. “Três comprimidos de ivermectina salvam mais que duas doses da vachina.”
Domenech e seus advogados pedem não só a reintegração do profissional à rede como reparação por danos causados pelo embate e por sua exclusão de uma plataforma importante para sua atuação profissional.
Sobre os ataques, ele afirmou que nunca vira antes o tipo de perseguição que sofreu. "Foi um comportamento de manada", afirmou ele, destacando que a divulgação de fake news eram orquestradas.
"Fui achando um fio de que eram os mesmos perfis, de pequenos empresários, principalmente do Sul do país. Havia perfis falsos e pessoas operando vários perfis. Devo ter milhares de prints. Diante disso, eu, que sempre escrevi sobre comunicação empresarial (hoje ele atua como consultor), tive como primeira reação denunciar essas postagens, mas o sistema automático sempre dizia que não havia nada errado. Me sinto assediado moralmente. Mas essa denúncia contra o LinkedIn não é apenas sobre mim. A plataforma está abrigando criminosos que atentam contra o país e contra outras pessoas."