- 26.05
- 2010
- 15:06
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Jornalista sequestrado e agredido acusa políticos de Juazeiro do Norte de serem mandantes do crime
O jornalista Gilvan Luiz Pereira, fundador e editor do jornal "Sem Nome", de Juazeiro do Norte no Ceará, foi sequestrado e torturado por homens encapuzados na noite de quinta-feira, 20 de maio. Ele ficou em poder dos sequestradores por cerca de 20 minutos, quando o carro foi interceptado pela polícia. Os agressores conseguiram fugir abandonando o jornalista desacordado.
Não há pistas sobre suas identidades ou paradeiro.O sequestro aconteceu por volta das 20h20. Segundo relatório da delegacia, testemunhas do rapto anotaram a placa do veículo, com registro na cidade de Porteiras, e ligaram para a polícia.
No momento em que foi encontrada, a vítima estava amarrada e com várias escoriações pelo corpo, além de ter o rosto ensanguentado. Nenhum pertence do jornalista foi roubado."Os homens encapuzados exigiram que eu fechasse os olhos e não dissesse nada, se não me matariam", contou Pereira em entrevista ao "Portal Imprensa". Ele afirmou ainda que sofreu diversas agressões e que acredita que teria sido morto se a polícia não tivesse aparecido.
Em seu jornal, Pereira publica artigos nos quais critica a administração do atual prefeito, Manuel Raimundo de Santana Neto (PT), acusado de irregularidades administrativas, fraudes em licitações e superfaturamento de obras.
Em entrevista ao "Portal Imprensa", Pereira atribuiu o mando do crime ao prefeito e ao vereador Roberto Sampaio (PSB). "Fiz uma denúncia recentemente sobre a esposa do vereador, que estava recebendo o "Bolsa Família" (auxílio do governo federal para pessoas com baixa renda) sem ter o perfil para isso". Pereira ainda relata que, antes do sequestro, recebeu duas ameaças de pessoas ligadas aos políticos.
O jornalista, que levou 46 pontos na cabeça, permaneceu internado na clínica São José até segunda, 24, a noite por motivos de segurança, segundo informações da clínica. Pereira afirmou que não sabe se voltará a fazer denúncias sobre os administradores da cidade por medo de novas retaliações.
O prefeito diz em nota que repudia a violência sofrida pelo jornalista. "Desprezando atitudes desta natureza praticadas por pessoas de caráter criminoso, reafirmo o propósito de concitar a autoridade policial para que investigue rápida e eficazmente esse odioso fato, para que os culpados sejam punidos severamente como exige a Lei. Minha índole não acalenta a imundície desse gesto nem qualquer tipo de atentado a vida alheia".Na nota, a prefeitura diz ainda que "em entrevista concedida a diversos meios de comunicação, Dr. Santana, assegurou que todas as acusações feitas à sua pessoa são falsas".
"Apesar de Gilvan Luiz Pereira ser um panfletário e não um jornalista nós repudiamos o ato de violência sofrido por ele. Esse crime não deve ser ligado à política. Eu represento o prefeito, mas pelo que conheço da índole do vereador Roberto Sampaio também afirmo que ele não tem relação com o crime", afirmou José Carlos Pimentel, advogado do prefeito de Juazeiro.
Segundo ele , o prefeito enviou ofício, ao Secretário de Segurança Pública do Estado, Roberto das Chagas Monteiro, e ao Ministério da Segurança Pública "solicitando providências no sentido de apurar os fatos sobre a agressão sofrida pelo Sr. Gilvan Luiz Pereira".
Pimentel afirmou ainda que já entrou com ação contra Fábio de Souza Tavares, que em entrevista logo após ao caso teria chamado o prefeito de "canalha", e Gilvan Luiz Pereira por injúria, difamação e calúnia.
O vereador Roberto Sampaio também negou a autoria do crime. "Jamais usaria a minha representatividade política em nome da violência. Tenho um nome a preservar. O Gilvan sempre falou mal de mim, mas eu nunca tive raiva dele". Sampaio disse ainda que espera que a polícia desvende o caso por ter sido um caso grave de violência. Hoje na Câmara, reafirmou que repudia qualquer tipo de violência.
O delegado de Polícia Civil de Juazeiro do Norte, Levi Leal, anunciou que pode intimar para depor o prefeito Manoel Santana e o vereador Roberto Sampaio caso se confirmem as suspeitas dele serem mandantes do sequestro seguido de tortura.
"Segundo o próprio irmão da vítima ele mexeu com muita gente. O delegado já tem alguns nomes de suspeitos, mas não tem qualquer vinculação comprovada com o crime", afirmou Pimentel.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou nota condenando "as covardes agressões praticadas contra o editor do jornal "Sem Nome"". A nota diz que a ANJ espera que as autoridades, além apurar devidamente o ocorrido identifiquem os agressores e tomem as providências cabíveis para sua punição.