• 18.07
  • 2012
  • 10:31
  • Karin Salomao

Jornalista lança livro sobre o Araguaia durante o Congresso

Leonêncio Nossa, repórter de O Estado de S.Paulo, lançou  seu livro “Mata!” em coquetel no 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Editado pela Companhia das Letras, o livro é um emaranhado de histórias sobre a Guerrilha do Araguaia.

Durante o Congresso, Leonêncio também palestrou sobre os limites entre história e jornalismo, destacando as vantagens que historiadores e jornalistas têm ao se apropriar das técnicas um do outro. A experiência em grandes reportagens já vem de longa data. Ele é autor de "Viagens com o presidente" (em parceria com Eduardo Scolese), "Homens invisíveis" e "O Rio" e dos cadernos especiais “Guerras desconhecidas do Brasil” e “Os meninos do Contestado”, publicados em O Estado de S. Paulo. 

O livro gira em torno de dois protagonistas. O ex-agente Sebastião Curió Rodrigues de Moura - o major Curió, um dos mandantes das ações do exército – e Áurea, uma das guerrilheiras. São dois personagens que mexem com o imaginário. Curió, por ser um ator importante para a história e pesquisa sobre direitos humanos. Já Áurea pode não ter sido a guerrilheira mais destacada, mas foi uma referência para o autor durante o processo de apuração do livro. Leonêncio a conheceu em 1997, quando leu uma nota sobre ela, em um jornal. Guardou a nota recortada em sua carteira e começou a se interessar pelo assunto.

Para apurar e escrever o livro, Leonêncio se dedicou por quase dez anos. As primeiras entrevistas com o Major Curió começaram em 2002. Em 2009, teve acesso total aos arquivos do major militar. “Ao folhear os documentos secretos, encontrei os rascunhos do livro que Curió começou a escrever ainda nos anos 1970”, conta o jornalista. “Em sete folhas de papel de seda, o militar relatou os motivos para romper o silêncio e contar o que sabia sobre a guerrilha.”

Os documentos guardados por Curió — que foi prefeito de Curionópolis, cidade do Pará batizada em sua homenagem, e se manteve no poder até ser cassado em 2008 por compra de votos — contrariam o discurso dos militares de que os arquivos da ditadura foram destruídos e, portanto, seria impossível reconstituir os acontecimentos do período. 

Esses documentos secretos causaram transtorno ao jornalista. Em 2008, quando Leonêncio já tinha parte dos arquivos do major, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh entrou com pedido na Justiça de recolhimento desses documentos, sob pena de busca e apreensão na casa dele. Parlamentares se indignaram com o pedido, por considerar que isso quebraria o sigilo de fonte jornalística, e os documentos não foram apreendidos.

“Queria contar uma história do Araguaia. Essa história tinha o tempo próprio para ser feita. É complexa e cheia de personagens”, diz ele. Para conseguir trazer uma narrativa que fosse mais próxima do real, o jornalista entrevistou mais de 150 pessoas. No livro, são citadas mais de mil personagens. “Para esclarecer documentos inéditos do arquivo do mais conhecido agente da repressão, fui atrás de pescadores, garimpeiros, mulheres de cabarés, cortadores de castanha, barqueiros, pistoleiros, participantes de revoltas e agricultores expulsos de suas terras”, diz.

Essa apuração minuciosa é necessária para contar a história da guerrilha, segundo Leonêncio. Para ele, o modelo de grande reportagem do passado, em que se fazia de 10 a 20 entrevistas, não pode ser aplicado a esse caso. “O modelo de testemunha única, que conta sozinha a história, está ultrapassado, pereceu”.

Por isso, Leonêncio se empenhou em entrevistar pessoas simples e do campo. “O jornalista precisa usar mais as suas próprias ferramentas para contar a história do país”, diz. 

Assinatura Abraji