• 21.11
  • 2012
  • 17:12
  • Karin Salomao

Jornalista fala sobre livro e carreira

37 anos depois da morte de Vladimir Herzog, ainda há uma história que precisa ser contada: a reação do Sindicato dos Jornalistas que levou a diversos movimentos pela democratização do Brasil. Para preencher essa lacuna, Audálio Dantas, presidente do sindicato em 1975, lança o livro “As duas guerras de Vlado Herzog”. “Essa história tinha que ser contada em detalhes e de dentro para fora”, diz o autor.

O livro narra as duas guerras por que Herzog passou. A primeira batalha foi travada quando ele ainda era criança. A Europa enfrentava a Segunda Guerra Mundial e parte da família Herzog fugiu da Iugoslávia para o Brasil, para não ser morta em campos de concentração. 

Vladimir chegou ao Brasil com nove anos e com a expectativa de encontrar paz. Ingressou no jornalismo em 1959 e, quando entrou na lista de subversivos comunistas do regime, começou a segunda guerra, da qual ele não sairia com vida. Ao se apresentar para prestar depoimento sobre seu envolvimento com o Partido Comunista Brasileiro, no dia 25 de outubro de 1975, foi preso, torturado e morreu no mesmo dia, vítima de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi). Até setembro desse ano, a versão oficial de sua morte era de suicídio - o Tribunal de Justiça de São Paulo, por iniciativa da Comissão da Verdade, determinou que a causa da morte deveria ser alterada nos documentos.

Antes de Herzog, outros jornalistas haviam sido mortos ou eram considerados desaparecidos. Vlado foi, no entanto, a primeira vítima a não ser sepultada em silêncio. A partir de seu assassinato, diversos movimentos pela redemocratização ganharam força, inclusive aqueles patrocinados pelo Sindicato dos Jornalistas. Para Audálio Dantas não fosse a reação do sindicato e os movimentos de protesto subsequentes, talvez a ditadura militar demorasse mais a cair.

A ideia para contar essa história surgiu em 2005, 30 anos depois da morte de Herzog. Dantas começou a pesquisa e, no final de 2011, o livro estava escrito. O ponto fundamental do livro é “resgatar o papel do sindicato no episódio”, segundo Dantas. “Vlado, além de vítima, foi uma figura muito especial. O livro o mostra como intelectual, humanista, uma pessoa preocupada com o conjunto da sociedade”, diz Dantas.

 

Carreira do autor

Dantas foi um grande repórter da Folha da Manhã e das revistas O Cruzeiro, Realidade e Manchete. Depois do episódio da morte de Herzog, Dantas interrompeu sua carreira nas redações depois de 20 anos, mas sem deixar o jornalismo. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, da Federação Nacional dos Jornalistas, da Imprensa Oficial de São Paulo e do Conselho da Fundação Casper Líbero. Também ocupou o cargo de vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Chegou a ser eleito deputado federal por São Paulo.

Sobre seus 20 anos como repórter, Dantas lançou o livro “Tempo de Reportagem”, ainda esse ano. O livro traz treze reportagens e incluir um capítulo sobre os bastidores de cada uma. Sobre grandes reportagens, ele avalia que “sempre haverá esse tipo de reportagem porque sempre haverá jornalistas dispostos”, mas falta espaço nos jornais. Para ele, é uma questão de economia: grandes repórteres e reportagens precisam de um investimento bem maior e mais tempo para apuração do que notícias “picadinhas na internet”. 

Para ele, a atenção à qualidade do texto é o que caracteriza o jornalismo impresso, “que demanda pesquisa e busca o compromisso com o aprofundamento”. Dantas é autor de mais de dez livros, entre eles, "O circo do desespero", "O menino Lula", "Repórteres (org.)" e "O Chão de Graciliano" - este último contemplado com o Prêmio APCA 2007. Uma de suas reportagens sobre uma favela paulistana deu origem a "Quarto de Despejo", compilação traduzida para 13 idiomas.

Assinatura Abraji