- 27.09
- 2012
- 11:29
- Karin Salomao
Jornalista é detido e tem livros de sua autoria apreendidos
No último 19 de setembro, durante debate na Universidade Federal de Goiás em Catalão, o juiz André Luiz Novaes Miguel comandou apreensão de exemplares do livro Operação Ouro Negro – História do milionário assalto aos cofres da Prefeitura de Catalão na gestão de Adib Elias, do jornalista Cristiano Silva. Silva também foi detido por desacato a autoridade e levado à delegacia.
Juiz eleitoral da 8ª Zona Eleitoral de Catalão (GO), Miguel entrou no campus da universidade por volta das 21h30 e recolheu 38 exemplares do livro, que seriam autografados, e quatro banners. No início deste ano, o magistrado decretou a extinção do processo sobre a Operação Ouro Negro, retratada no livro. Ele não foi encontrado para esclarecer as apreensões.
Segundo Marco André Ávila, chefe do cartório da 8ª Zona Eleitoral de Catalão, o pedido de busca e apreensão dos livros foi feito por representantes da coligação do candidato a prefeito Adib Elias (PMDB). Elias foi investigado durante a Operação Negro por desvio de mais de R$ 10 milhões da prefeitura, que deveriam ser destinados à pavimentação das ruas da cidade. Ávila afirma que a Justiça Eleitoral considerou o livro propaganda eleitoral ilegal contra Elias.
O juiz também apreendeu os equipamentos de alguns cinegrafistas e fotógrafos que registravam a confusão. Ele determinou que todos entregassem suas máquinas e retirou os cartões de memória onde estavam armazenadas as fotos tiradas durante a prisão do jornalista. Segundo o chefe do cartório eleitoral, não havia jornalistas no local, apenas produtoras dos partidos. Na delegacia, Cristiano Silva deu seu depoimento. Ele, cinegrafistas e fotógrafos só foram liberados por volta de 1h30 do dia seguinte.
O jornalista disse que vai recorrer à Justiça para garantir a circulação de seu livro. “Os outros livros que doei para a biblioteca da UFG também foram apreendidos. Quis saber que tipo de crime eu cometi”, disse Silva à reportagem do DM.
O caso de desacato gerou um processo, que terá sua primeira audiência no dia 31 de outubro. “Vou comparecer no dia 31 de outubro a Catalão, data da audiência e do meu aniversário, para defender com provas que não houve desacato. Vou pedir indenização por danos morais, e por censura”, diz.
Operação Ouro Negro
O livro relata a denúncia e o início da investigação do Ministério Público e da Polícia Civil de Goiás, batizada de Operação Ouro Negro, que resultaram na descoberta de um desvio de mais de R$ 10 milhões da prefeitura de Catalão, durante o mandato de Adib Elias. Os recursos seriam destinados à pavimentação das ruas da cidade. Sem julgamento, o processo foi arquivado porque o juiz André Luiz Novaes Miguel, responsável pelo caso entendeu que as provas, obtidas com autorização da Justiça, eram ilegais. A Justiça ordenou então a destruição das provas.
Para o chefe do cartório da 8ª Zona Eleitoral de Catalão, Marco André Ávila, “o livro é uma mera cópia do processo e a maior parte dos documentos no livro é ilegal” e que, por isso, o livro não poderia circular. Ele citou como exemplo as escutas telefônicas feitas durante a operação.
Geordano Paraguassu, advogado do jornalista Cristiano Silva, afirma que as escutas telefônicas não estão no livro. Ele também afirmou não ter recebido nenhuma notificação de que a circulação do livro seria proibida.
Não é a primeira vez que o jornalista enfrenta problemas por causa do livro. No último dia 3, quando falava do lançamento para rádios e TVs de Catalão, Cristiano Silva teria recebido ameaças de pessoas próximas a Adib. Conforme matéria do site de notícias Brasil 247, o jornalista relatou da seguinte forma a abordagem: "Quando deixei a redação do jornal Diário de Catalão, os homens me abordaram, um deles disse em tom irônico: ´ah, mete bala na cara desse vagabundo. Vamos fazer picadinho dele, igual fizemos com o livro´. O outro riu e disse: ´tem que acertar no olho para não estragar a pele´”.
Aos agressores, Cristiano afirma ter dito que não temia nada, tendo se mantido calmo. O jornalista, que tem outros trabalhos investigativos publicados, explica não sentir qualquer arrependimento de ter ido a fundo na Operação Ouro Negro.