- 06.11
- 2024
- 13:15
- Isadora Ferreira
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Jornalismo sem Trégua discute desafios e oportunidades para os podcasts jornalísticos
Nesta quarta-feira, dia 6 de novembro, a Abraji lança o 5º episódio de No Rastro da Notícia, da série Jornalismo sem Trégua da Abraji. O episódio conta com a participação dos jornalistas e podcasters Aldenora Cavalcante e Rodrigo Alves, para discutir podcasts sob três perspectivas: financiamento, diversidade de narrativas e as transformações no ambiente midiático.
Com a mediação de Angelina Nunes, coordenadora do Programa Tim Lopes, o episódio apresenta as visões de Aldenora Cavalcante, jornalista e pesquisadora focada em questões de raça, gênero e direitos humanos, e Rodrigo Alves, autor do podcast Vida de Jornalista e criador da produtora Escuta Aqui. Os jornalistas compartilham os bastidores dos processos de criação e produção, além de discutirem ferramentas e iniciativas para a sustentabilidade de projetos independentes.
Financiamento: de onde vem o apoio?
A busca por sustentabilidade financeira no meio dos podcasts exige estratégias criativas e adaptáveis. Rodrigo Alves destaca a necessidade de manter o engajamento constante para viabilizar o financiamento. “Hoje vivemos num momento em que plataformas digitais exigem coisas diferentes o tempo todo para gerar engajamento, audiência e, consequentemente, financiamento; e o podcast não é diferente disso.” Ele explica que, além das plataformas, é possível obter recursos por meio de editais, apoio dos ouvintes e parcerias, embora isso demande esforços frequentes.
Aldenora Cavalcante também reconhece a relevância dos editais, especialmente para produtores de regiões fora do eixo Sudeste e Centro-Oeste. “O podcast é uma mídia em que grupos marginalizados conseguem se apropriar, de alguma forma, para criar produtos que dialoguem entre si e construam uma comunidade”, diz a jornalista. No episódio, a questão da remuneração é colocada como um ponto-chave a ser avaliado, especialmente para jornalistas independentes de diferentes regiões, reforçando a importância da descentralização da produção e da remuneração. Para Aldenora Cavalcante, direcionar conteúdos para nichos específicos é mais impactante do que buscar grandes audiências.
Rodrigo Alves acrescenta que discutir os impactos da diversidade de narrativas, viabilidade dos projetos e processos de produção, é indispensável.
“Eu sempre acho que temos que retomar esses papos com frequência, refletir um pouco sobre o que fazemos e não apenas realizar o trabalho de forma mecânica, na correria do dia a dia, sem muita reflexão. Acho que a reflexão é sempre muito importante; e o episódio cumpre o propósito de nos fazer pensar sobre o nosso ofício.”
O bate-papo mostra a importância de trazer perspectivas plurais e autênticas, ressaltando a relevância da representatividade regional na podosfera.
Diversidade na podosfera: inclusão de vozes e perspectivas variadas
A diversidade nas produções sonoras em tempos de internet também foi abordada pelos convidados de Jornalismo sem Trégua. Aldenora Cavalcante comenta sobre a inclusão de vozes de diversas regiões e contextos para romper com o olhar centralizado. Ela sugere que temas de gênero e raça, muitas vezes tratados por uma única perspectiva, poderiam ganhar mais pluralidade. “Precisamos refletir sobre o lugar dos convidados, evitando que pautas de raça e gênero sejam sempre tratadas pelos mesmos recortes”, comenta.
Aldenora conta que, antes de criar o Malamanhadas podcast, ela e a equipe consumiam produções feministas do Sudeste, mas não se sentiam representadas, o que as motivou a desenvolver um projeto com um recorte especificamente nordestino. Ela menciona ainda a Rede Cajueira, uma iniciativa que facilita o acesso a fontes de todo o país, promovendo uma maior diversidade de narrativas. Para a jornalista, “essas fontes podem ser utilizadas em diversas temáticas, sem se limitar a temas nichados”.
Rodrigo Alves ressalta que, atualmente, há ferramentas que possibilitam a inclusão de uma diversidade real nos conteúdos produzidos. “Não há mais desculpa para não trazer vozes de diferentes regiões e contextos. A Rede Cajueira, mencionada por Aldenora, é uma dessas ferramentas que ampliam nosso leque de fontes e tornam o conteúdo mais plural”, explica. Além disso, no episódio, ele conta que costuma revisitar temporadas anteriores de materiais produzidos e, em seguida, realizar um levantamento sobre a diversidade das fontes e dos temas abordados, buscando evitar uma única narrativa. “Acredito que, neste episódio, tivemos a oportunidade de discutir questões essenciais para essa produção.”
Mesacasts e podcasts com vídeo: o impacto na compreensão da mídia
Os entrevistados também discutiram a diferença entre podcasts narrativos e programas em vídeo, como os mesacasts, cada vez mais populares em plataformas como o YouTube. Rodrigo Alves observa que o termo "podcast" tem sido amplamente usado para descrever esses formatos. "Os programas de YouTube sequestraram o termo podcast”, brinca. Ele aponta que isso pode gerar confusão sobre o que define o formato de podcast jornalístico, que vai além de uma simples conversa. Segundo Rodrigo, a produção de um podcast envolve apuração, roteirização, locução e ilustrações sonoras, características que diferenciam o formato de um videocast ou mesacast.
Aldenora Cavalcante compartilha sua visão sobre a nomenclatura, lembrando que, anos atrás, o podcast era frequentemente descrito como uma “rádio na internet”. Para ela, embora essa comparação possa ajudar a familiarizar quem não conhece a mídia, simplifica demais a complexidade dos podcasts jornalísticos. “A popularização do podcast fez com que as pessoas entendessem que tudo aquilo que envolve uma mesa de conversa pode ser chamado de podcast”, reflete Aldenora, destacando que essa visão amplia o conceito de podcast, mas também pode diluir sua identidade como produto narrativo e jornalístico.
Este episódio de No Rastro da Notícia revela os bastidores da podosfera e está disponível no Spotify do Jornalismo Sem Trégua, além de outros tocadores de áudio. Fique ligado nas redes da Abraji para acompanhar mais produções.