• 03.12
  • 2012
  • 17:18
  • Abraji

Jornalismo Investigativo - definições de associados e seguidores

Na semana passada a Abraji fez uma convocatória para que jornalistas e estudantes opinassem: "O que é jornalismo investigativo?". O objetivo é montar um painel com diferentes posições a ser apresentado durante o seminário de comemoração dos 10 anos da Abraji.

Leia abaixo algumas das definições enviadas pela lista de sócios da Abraji e também pelo Facebook e participe:

Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil:
É o jornalismo de "precisão" e de fôlego que, através de pesquisa de campo e/ou trabalho de gabinete com dados e documentos, tem como objetivos a) trazer à tona informação de interesse público que alguém ou alguma instituição deliberadamente mantenha em sigilo e/ou b) retirar o véu de ignorância sobre determinado assunto, aprofundando significativamente o entendimento da sociedade sobre ele e trazendo novas interpretações que, principalmente, refutem a percepção corrente.

Marcos Ávila, estudante
O jornalismo investigativo é um espaço nobre criado para recuperar o ideal não mercadológico, mas social de base. A venda deste tipo de texto não está no informar, repassar, disseminar, apenas. Ganha a incumbência de exposição do conflito, moral social versus moral legal.

Acácio Rodrigues, Terra e TV Vitória:
Jornalismo investigativo é a arte de ter um olhar diferenciado. É produzir um material de qualidade, mesmo com uma pauta factual.

Daniela Arbex, Tribuna de Minas:
Penso que o jornalismo investigativo é o jornalismo de qualidade, que denuncia a realidade, mas, principalmente, ajuda a transformá-la.

Samuel Lima, citando Solano Nascimento:
Jornalismo investigativo só existe quando há investigação e quando quem investiga é o próprio jornalista.

Marcelo Tas, apresentador CQC:
Jornalismo investigativo é um pleonasmo vicioso, como subir para cima ou descer para baixo.

Rubens Valente, Folha de S.Paulo:
Jornalismo investigativo é uma ideia na cabeça e um processo nas costas. (RIP Glauber Rocha);
ou
Diz-se que notícia é quando o homem morde o cachorro. Jornalismo investigativo é indagar o que o cãozinho tem a dizer sobre isso;
ou
Eu não creio em jornalismo investigativo, mas que Collor, Renan, Lula, Sarney, FHC disseram que ele existe, ah existe. (RIP Borges). 

Kleber Vinicius S Monte, Estudante de Jornalismo, Universidade Castelo Branco - RJ
Ramo do jornalismo criado pra se diferenciar do jornalismo acomodativo. Conceitualmente, todo jornalismo é (ou deveria ser) investigativo. Mesmo o diário.

Luis Erlanger, da CGCOM (rede Globo):
Dizem que Geoge Orwell disse que jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Para que isso aconteça o jornalismo tem que ser necessariamente investigativo.

Mauri König, Gazeta do Povo e diretor da Abraji:
Tenho ressalvas quanto a essa afirmação, seja ela do George Orwell ou não. Há uma miríade de coisas que muita gente não quer que se publique, e com razão, pois não são necessariamente de interesse público. Acho que a primeira pergunta a se fazer no início de uma investigação jornalística é: quem vai ganhar com o que publicarei?  Acho que essa pergunta é um bom ponto de partida, mas não o único, naturalmente. A ela, somam-se outras, mas cito apenas três: os meios pelos quais conseguirei as informações são lícitos? O que pode acontecer com meu(s) informante(s) caso seja(m) descoberto(s)? Qual o limite da exposição do jornalista a riscos para obter a informação?

Lucio Vaz, autor de, entre outros, A Ética da Malandragem:
Primeiro, entendo como jornalismo investigativo a apuração que é feita, predominantemente, pelo próprio repórter. Informações de órgãos de investigação e fiscalização podem até enriquecer e aprofundar o material, mas a informação principal tem que ser obtida pelo próprio repórter, com métodos jornalísticos, sem escuta telefônica, sem busca e apreensão. Valem informações de órgãos oficiais quando são obtidas mediante o cruzamento de dados, a partir de bancos de dados oficiais ou de ongs. A reportagem de campo, com entrevistas e observação de fatos e pessoas, campanas, também são importantes. Relatórios da PF e denúncias do MP só valem como complemento.

Natalia Viana, A Pública, citando T.D.Allman:
Jornalismo genuinamente objetivo é aquele que não apenas apura os fatos, mas compreende o significado dos acontecimentos. É impactante não apenas hoje, mas resiste à passagem do tempo. É validado não apenas por ‘fontes confiáveis’, mas pelo desenrolar da história. E dez, vinte, quinze anos depois ainda serve como espelho verdadeiro e inteligente do que aconteceu

Jardel Hudson Albuquerque Gomes, estudante Centro Universitário Estácio FIC:
O Jornalismo Investigativo é um Segmento dentro do Jornalismo na qual sua função primordial é a de Investigar,Apurar,Checar,Checar novamente... enfim, através da investigação de atos de desvios na sociedade em geral, seu papel não se limita só em descobrir e denunciar mas, contribuir para uma sociedade mais crítica e à frente do seu tempo. 

Franciele Vargas, via Facebook:
Jornalismo investigativo é não aceitar o que as fontes relatam como verdade prontamente. É preciso um trabalho mais apurado e profundo no levantamento de informação, o que demanda paciência e tempo. O tempo que é tão escasso no jornalismo de rotina, no investigativo é primordial para que se tenha conhecimento concreto do que se está falando. Lembrando novamente que é preciso sempre apurar os fatos da melhor maneira "impossível", mas o investigativo sempre trazem grandes denúncias, o que implica em maior responsabilidade.

Viviane Araújo, via Facebook:
Como em quase todo investimento na vida, seja de tempo, capital ou ideias, é preciso definir o público/alvo. É certo que, por premissa jornalística, destinamos nosso trabalho a todos, e todos é a sociedade. Definido nosso público, passamos a assumir o compromisso de buscar a verdade e de ser o canal entre a população e o conhecimento desta; e acima disso, assumir a responsabilidade pelo nosso trabalho. Doar-se e não deixar que nenhuma pista fique de fora da investigação é fundamental. Ouvir, abrir a mente e contrapor ideias, opiniões e descobertas sempre que possível também é imprescindível. Não poupar esforços para conseguir e checar informações também é trabalho miúdo e indispensável. Por fim, relevar o que já existe para alcançar a novidade. Mais do que denúncia, o trabalho. Mais do que o trabalho, o impacto. E mais do que o impacto, a satisfação pessoal. Jornalismo investigativo é nada mais nada menos do que a essência da profissão, um pilar da democracia e um serviço basilar para o bem comum. Bem sabemos que a investigação tem custos, às vezes altos, mas que no fundo agregam valor ao que estamos realizando.

Global Investigative Journalism Network, via Facebook:
“Systematic, in-depth, and original research and reporting, often involving the unearthing of secrets and heavy use of public records and data, with a focus on social justice and accountability” (Global Investigative Journalism: Strategies for Support)

Thiago Herdy, diretor da Abraji e repórter de O Globo:
Jornalismo investigativo é bom jornalismo. Pode ser praticado em uma matéria sobre um acidente de carro ou o roubo do ministro. É melhor executado quando alia observação aguçada, determinação, dedicação (seja cinco horas ou dois meses) e fontes certas. Não pode cometer injustiça.

Angelina Nunes, diretora da Abraji e editora de O Globo:
Jornalismo investigativo é todo trabalho de jornalista que não se limita ao release, ao declaratório. O que o repórter deve fazer é cruzar dados, fuçar orçamento, ler editais, destrinchar leis, ouvir mais personagens, buscar as informações escondidas nas estatísticas. Uma boa matéria dá trabalho, requer tempo, algum dinheiro e capacitação.

Fernando Rodrigues, Folha de S.Paulo e Abraji:
O termo jornalismo investigativo deriva de seu congênere em inglês, “investigative journalism”. Nos países de língua inglesa muitos também consideram essa designação um pleonasmo. Ainda assim, o investigative journalism consolidou-se no mundo todo como sinônimo de bom jornalismo, de reportagens profundas, alentadas, que procuram esgotar um determinado assunto.

José Roberto de Toledo, Estadão, Rede TV e vice-presidente da Abraji: 
É mais fácil definir jornalismo investigativo pelo que ele não é: não é entrevista quebra-queixo, resumo de release, declaração de autoridade, curadoria de noticiário alheio. Investigar é procurar informações inéditas e socialmente relevantes, contextualizá-las no tempo e no conjunto de outras informações e contar uma boa história. Não precisa ser apenas sobre corrupção, não precisa mandar ninguém para a cadeia nem derrubar ministro.

Rosa Nívea Pedroso, professora de Teoria e Técnica da Reportagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul:
Partimos do princípio de que todo jornalismo é investigativo, temos que admitir que, ao usarmos o adjetivo investigativo, estamos sendo redundantes. Jornalismo Investigativo é uma redundância. Ou estamos nos referindo aos antigos resquícios do jornalismo que utiliza procedimentos de aferição dos fatos próprios da polícia. Por isto, a terminologia não é a mais adequada ao jornalismo contemporâneo. Quando realizamos reportagens sobre o passado histórico do Brasil, por exemplo, estamos fazendo uma investigação, estamos realizando uma pesquisa. Uma pesquisa que joga luzes sobre o passado, que traz novas revelações sobre o passado. O trabalho de apuração, de pesquisa, de investigação acessa novas trilhas sobre o passado, sobre o presente. Então, eu diria que esse jornalismo que realiza pesquisa, apuração em profundidade, deveria se chamar JORNALISMO DE REPORTAGEM. Na apuração (ou investigação, ou pesquisa) jornalística, o repórter utiliza métodos da Antropologia (como a etnografia) que é o trabalho de campo, a observação participante, a imersão (e não infiltração) no local. Utiliza os métodos da historiografia, através da busca, pesquisa e análise de documentos. O repórter se aproxima do historiador e do antropólogo (e não só da polícia, como vem sendo). O repórter vai se utilizar de toda gama de métodos de pesquisa disponíveis para conhecer o presente e o passado. Investigação não se refere só a crimes. A polícia e a perícia investigam melhor com métodos próprios de sua profissão. Se investigar é conhecer, é saber como aquilo aconteceu, a metodologia científica tem muito a ensinar aos jornalistas. Cientistas e jornalistas tem muito em comum, querem saber como aquilo acontece, por que aquilo aconteceu. Deixamos de trabalhar somente com notícias (relatos efêmeros) para trabalhar com reportagens (relatos em profundidade). A reportagem é uma forma de se conhecer o mundo, a realidade, os acontecimentos. E assim damos ao jornalismo mais uma dimensão, a dimensão do conhecimento. O jornalismo investigativo como uma forma de conhecimento.

Assinatura Abraji