• 02.05
  • 2016
  • 11:44
  • Amanda Ariela

Jornalismo esportivo será discutido no 11º Congresso da Abraji

O uso de técnicas de investigação avançadas no jornalismo esportivo será o tema do painel  “Investigação no esporte com documentos públicos”, parte da programação do 11º Congresso da Abraji. Os jornalistas Rodrigo Mattos e Lúcio de Castro, com vasta experiência na cobertura especial do esporte, compartilharão detalhes de suas apurações sobre irregularidades em confederações e em grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas com o uso de informações públicas.

No início deste ano, Lúcio de Castro revelou que o presidente da CBF, Antonio Carlos Nunes de Lima, recebia irregularmente uma mesada da Força Aérea Brasileira. Mesmo tendo trabalhado no Exército, Lima era considerado “vítima de ato de exceção de motivação política” e recebia R$ 14,7 mil por mês como indenização para anistiados da ditadura, segundo informações contidas em documentos públicos. 

O jornalista também investigou o mau uso do dinheiro público pelo presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). “Tudo começou com um pedido de Lei de Acesso na Eletrobrás, então patrocinadora da CBB, além de consulta de processos na justiça”, conta Castro. “A partir daí, foi um trabalho de garimpagem em uma imensa base de dados e um sem fim número de documentos. Meses trancado em uma sala em consulta, separando, cruzando dados”. 

Já o repórter Rodrigo Mattos acumula experiência na cobertura de grandes eventos esportivos: cobriu três Copas do Mundo e uma Olimpíada. Em 2012, revelou indícios de que Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, beneficiou um amigo empresário com um contrato milionário do Comitê Organizador Local da Copa de 2014, em retribuição à compra de um apartamento por preço bem abaixo do mercado. Para apurar essa informação, conta Mattos, “foi necessário levantar o registro de imóveis e verificar a transação imobiliária. Depois, comprovar que a empresa que tinha ganho a concorrência do Comité Organizador Local era de propriedade do empresário.”

De acordo com Mattos, “é possível realizar uma investigação principalmente com documentos dos governos envolvidos na organização das Copas do Mundo e das Olimpíadas, seja no Brasil ou no exterior”. Ele conta que os gastos com infraestrutura são feitos nas diferentes esferas de poder e isso envolve procedimentos que podem ser rastreados. “No caso dos comitês organizadores, a investigação é possível também por meio de contratos obtidos em cartórios ou de documentos que eles têm de publicar,” complementa.

Para Castro e Mattos, o uso de documentos públicos na cobertura do esporte é fundamental. “Não só pode enriquecer o jornalismo investigativo esportivo, como também é o caminho mais seguro e eficiente para alcançar bons resultados”, diz Castro. Rodrigo Mattos complementa: “É por meio deles que se consegue provar informações dadas por fontes sobre negócios irregulares e favorecimentos em diversas instâncias”.

Com a Lei de Acesso a Informação (LAI), os jornalistas viram aumentar a amostra de documentos públicos ao alcance, o que permite que as reportagens sejam realizadas de maneira mais segura, segundo Castro. Ele considera que a regra “foi uma imensa conquista e avanço no caminho da transparência”.

Ambos os jornalistas, porém, enfrentam o descumprimento da LAI em alguns órgãos públicos. Em agosto de 2015, Mattos publicou especial sobre a opacidade do governo e da prefeitura do Rio de Janeiro sobre documentos relacionados às Olimpíadas. Castro considera que “o endurecimento e má vontade no acesso, com imposição de obstáculos descabidos, reforça a convicção de que aquele caminho deve ser seguido”.

Em sentido mais amplo, o painel do Congresso discutirá a importância e a possibilidade de fazer jornalismo de interesse público na área esportiva. Para Lúcio de Castro, é “primordial para o jornalismo brasileiro separar jornalismo de eventos, jornalismo de direitos de transmissão”. Ele considera que hoje em dia há confusão entre esses ramos, levando o jornalismo esportivo a ficar “chapa branca”. Rodrigo Mattos coloca que a partir dos anos 90, o jornalismo investigativo no esporte cresce cada vez mais e que “o problema maior, que atinge todo o jornalismo, é a falta de recursos humanos. No dia-a-dia, há pouco tempo e poucos braços para realizar esse tipo de cobertura”. 

“Investigação no esporte com  documentos públicos” acontecerá no dia 23.jun.2016, das 14h às 15h30.

Assinatura Abraji