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Jornalismo digital cresce na América Latina, mas sustentabilidade financeira continua sendo um desafio

Publicado em 10 de fevereiro de 2016, por Teresa Mioli, no blog Jornalismo nas Américas do Knight Center at University of Texas. 

Em meios de comunicação nativos digitais, jornalistas na América Latina descobriram playgrounds para o jornalismo independente, investigações aprofundadas e visualizações de dados criativas. No entanto, estas conquistas também trazem um conjunto de desafios, incluindo a sustentabilidade financeira tirando partido da tecnologia digital e da interação com comunidades.

A organização sem fins lucrativos mexicana Factual, que trabalha para melhorar a capacidade técnica de meios de comunicação e jornalistas latino-americanos, publicou recentemente seu "Primeiro Estudo de Mídia Digital e Jornalismo da América Latina" para descobrir as melhores práticas de um seleto grupo de meios de comunicação digitais na região.

Jordy Meléndez, co-fundador da Factual e autor do estudo, disse que acredita que os meios de comunicação latino-americanos têm muito a aprender uns com os outros. Ele e os demais autores do documento estudaram 34 meios de comunicação digitais "para entender seus objetivos, desafios, obstáculos e modelos de negócios".

“Desde 2008, a região tem experimentado um `boom´ de meios nativos digitais, agências de notícias que estão fazendo excelente jornalismo e transformando a forma como as histórias são contadas - mas ninguém havia parado para estudá-los de forma sistemática e em detalhe", contou Meléndez em uma entrevista com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Os meios escolhidos são de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Peru, Uruguai e Venezuela. Eles precisavam ser sites nativos digitais sem edições impressas, com foco na política nacional e com uma equipe editorial fixa e atualizações de conteúdo frequentes, explicou Meléndez.

Os pesquisadores analisaram características como modelos de negócios, sustentabilidade, rentabilidade, equipamentos, o uso da tecnologia e melhores práticas associadas com o ambiente digital.

O estudo inclui resumos de cada meio de comunicação, olhando para os aspectos acima mencionados e para alguns projetos especiais criados por cada site.

Meléndez viu que esses sites de mídia digital eram inovadores na adoção de novos modelos de negócio e na utilização do jornalismo de dados para transmitir informações.

Com projetos como a série em cinco partes "Meninas em Jogo", baseada em quadrinhos e investigação de formato longo, Meléndez disse que a brasileira Agência Pública "encontrou novas maneiras de contar histórias complexas". 

Ele apontou para o site pioneiro El Faro (El Salvador), que foi fundado em 1998 e diversificou seu modelo de negócios para incluir projetos como o "La Tienda El Faro", onde vende livros, música, filmes e desenhos.

E no Peru, Ojo Público “tem usado jornalismo de dados de modos formidáveis”, segundo Mélendez. O projeto  “Cuentas juradas”, sobre as prestações de contas dos candidatos à prefeitos do país, ganhou o "Data Journalism Award" de 2015.

Depois de toda a sua pesquisa, o que Meléndez encontrou como o maior desafio para iniciar um meio de comunicação digital?

"Alcançar a sustentabilidade financeira, sem dúvida", disse Meléndez.

"O documento constatou que 85% dos veículos de notícias digitais começaram sem um modelo de negócio claro e dependendo pesadamente da publicidade", explicou Meléndez. "Isso torna mais difícil manter a sobrevivência e a independência editorial, e distrai fortemente a atenção do editor-chefe, que na maioria das vezes prefere dedicar seu tempo exclusivamente ao jornalismo."

Além disso, Meléndez disse que os meios de comunicação digitais ainda têm um longo caminho a percorrer para utilizar todo o potencial das tecnologias digitais.

Assinatura Abraji