• 29.01
  • 2015
  • 13:44
  • IJNet

Jornalismo começa a experimentar com realidade virtual nos Estados Unidos

Quer que as pessoas se envolvam mais com as notícias? Coloquem-nas dentro delas.

Associada, muitas vezes, com os jogos, a realidade virtual agora está sendo usada para proporcionar experiências imersivas em reportagens interativas. Para isso, um sistema com câmera de 360 graus grava uma cena e o “leitor” se sente dentro dela.

Essa é a ideia por trás da nova produção de realidade virtual dos diretores Crhis Milk e Spike Jonze em parceria com a VICE News, chamado “VICE News VR: Millions March”. O filme de oito minutos leva os espectadores para dentro das ruas de Nova Iorque durante os protestos de dezembro, onde se pode ver dez mil pessoas clamando por uma polícia mais responsável. O filme foi lançado na semana passado no Sundance Film Festival.

“Minha expectativa é que a VR (virtual reality, em português, realidade virtual) seja a ferramenta que faltava para sentirmos mais compaixão uns pelos outros”, disse Milk, diretor de videoclipes e fotógrafo, à VICE. “Eu acredito que a VR tem o potencial para mudar fundamentalmente o jornalismo.”

Para vivenciar o projeto, os espectadores têm três opções principais. Eles podem usar um capacete de visão periférica, ou um dispositivo de VR, como o Oculus Rift. Além disso, um novo app para dispositivos móveis de realidade virtual, desenvolvido pela VRSE, empresa fundada por Milk, pode ser baixado em um smartphone e conectado a um dispositivo, como o Google Cardboard (que pode ser feito em casa com um pedaço de papelão e o telefone). Ou os espectadores podem ainda baixar o app e assistir ao filme diretamente no telefone, mas perdendo alguns dos recursos 3D.

No último outono, o Des Moines Register lançou sua primeira experiência com VR: uma história imersiva e explicativa sobre a agricultura familiar nos EUA, chamada Haverst of Change. Os espectadores entendem como tecnologia, imigração e globalização estão mudando a agricultura familiar.

O Register e sua empresa-mãe Gannett contrataram a Total Cinema 360 para gravar o vídeo em 3D. O projeto levou cerca de três dias para ser filmado, e três meses para ser concluído, custando cerca de U$ 20.000,00, de acordo com o American Journalism Review.

Para produzir esse projeto, um repórter e um fotógrafo do Register trabalharam em tempo integral com quatro funcionários do Total Cinema 360 usando tanto câmeras GoPro quanto Gloogle Glass para fazer a filmagem, segundo o ONA 2014 Student Newsroom.

Apesar de Harvest of Change ter sido planejado para ser assistido com o Oculus Rift, a maioria das pessoas ainda não tem acesso a essas ferramentas, já usadas amplamente por gamers e programadores, mas ainda não disponíveis comercialmente. Harvest of Change também foi oferecido em versão gratuita 2D. Gannett trabalhou recentemente em seu canal de noticias local KUSA9 para criar o segundo projeto VR, que vai levar os espectadores para dentro do FIS Alpine World Ski Championships, em Vail, Colorado.

Mas especialistas dizem que programas jornalísticos com realidade virtual estão começando a ficar mais acessíveis ao público. Ano passado, o Facebook adquiriu o Oculus Rift e, agora, a expectativa é que o dispositivo seja lançado em versão para consumidores no fim deste ano. A Microsoft também introduziu recentemente óculos 3D, chamados HoloLens, para pessoas interagirem com imagens holográficas. E há expectativa de que o YouTube deve lançar uma plataforma para vídeos em 360 graus.

Dan Pacheco, professor de jornalismo na Newhouse School of Public Communications, na Universidade de Syracuse, disse ao American Journalism Review que acha que a VR pode ser a maneira perfeita de apresentar mapas interativos em 3D e reportagens sobre desastres naturais. Outras possibilidades de uso seriam em zonas de guerra, eventos esportivos e ao vivo.

E isso é importante para conseguir engajar uma nova geração de consumidores de notícias ao redor do mundo.

“Nós estamos explorando o sistema auditivo e visual do seu cérebro,” Milk contou ao The New York Times. “A parte mais essencial do jornalismo é construir para as pessoas uma imagem do que é realmente estar ali. Com esse projeto, a audiência realmente vai se sentir como se estivesse lá.”

Assinatura Abraji