• 11.05
  • 2010
  • 13:20
  • Jornal ANJ

Investir na formação profissional é vital

Por José Roberto de Toledo*

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) nasceu em 2003, com dois objetivos: melhorar a qualidade do jornalismo praticado no Brasil e lutar pela liberdade de acesso às informações públicas. Pode-se dizer que, apesar dos recursos precários, e graças ao trabalho voluntário de seus filiados, tem alcançado sucesso nas suas metas.

Ao lado da ANJ e dezenas de outras entidades da sociedade civil, a Abraji ajudou a fundar o Fórum de Acesso às Informações Públicas, o principal responsável por convencer o governo federal a enviar projeto de lei ao Congresso Nacional regulamentando o direito dos cidadãos de conhecer todas as informações públicas não submetidas a sigilo.

No outro front, a Abraji contribuiu para melhorar a qualidade do jornalismo investindo na capacitação de repórteres e editores.Nesses pouco mais de seis anos de funcionamento, treinou mais de 3 mil jornalistas em dezenas de cursos e seminários, além de ter organizado quatro congressos internacionais. É a principal difusora, no Brasil, das técnicas de Reportagem com Auxílio do Computador (RAC).

Sem fins lucrativos e voluntariamente abrindo mão de qualquer tipo de recurso governamental, a Abraji fez parcerias com jornais, redes de TV, universidades e entidades sem fins lucrativos brasileiras e do exterior para viabilizar os
programas de treinamento.

Entre as redações que já receberam cursos da Abraji estão alguns dos principais jornais do país: Folha de S.Paulo,O Globo, O Estado de S.Paulo, Gazeta do Povo,Estado de Minas, Diário de S.Paulo,Extra, Correio do Povo e Folha de Londrina.

Os cursos têm atingido seu objetivo de aprimorar e renovar o jornalismo que fazemos.Vale a pena citar dois casos exemplares.

A série de reportagens provavelmente mais premiada da história recente,“Os Homens de Bens”, publicada por O Globo em
2005, foi facilitada pelas técnicas que alguns jornalistas da equipe premiada com o “Esso” e o “Rei de Espanha” aprenderam em
cursos de RAC da Abraji.Usaram planilhas eletrônicas para organizar os milhares de dados compilados pelos repórteres e calcular a evolução patrimonial de todos os deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Mais recentemente,outra equipe de repórteres,desta vez da Gazeta do Povo,usou técnicas de RAC aprendidas em cursos da Abraji para organizar um gigantesco banco de dados com todos os atos dos “Diários Oficiais secretos”da Assembleia Legislativa do Paraná.Além de produzir uma série de reportagens baseada nesse material.

Coincidência ou não,O Globo e Gazeta do Povo são dois dos jornais que mais frequente e assiduamente têm requisitado cursos à Abraji.Seus repórteres, redatores e editores foram treinados para aumentar a eficiência de suas buscas na internet,para analisar grandes quantidades de dados numéricos usando planilhas eletrônicas, a organizar bancos de dados para facilitar o cruzamento e recuperação de informações.

Quando um jornal ou TV contrata a Abraji para capacitar seus jornalistas, um treinador da associação vai até a redação ou local de treinamento e dá um curso tipo “mãos na massa”que pode durar de 8 a 16 horas, dependendo do tipo escolhido. Como se trata de um workshop, é necessário que cada jornalista disponha de um computador com acesso à internet e Excel (ou outra planilha eletrônica) para praticar o que está sendo ensinado.

A divisão de tempo fica à escolha do jornal: podem ser várias manhãs seguidas ou concentrar tudo em um dia. Os temas podem ser introdução ao RAC, organização de banco de dados, RAC avançado, cobertura de eleição e pesquisas eleitorais, investigação de gastos públicos, cobertura de temas sociais, ou uma combinação de conteúdos feita sob medida.

Os custos são de R$ 5 mil por oito horas aula,mais despesas de transporte e hospedagem do instrutor, se houver
necessidade de descolamento para outra cidade.

Outra modalidade de curso, estes gratuitos, são os programas de treinamento desenvolvidos pela Abraji em parceria com o Instituto Ayrton Senna, com o Open Society Institute e com a ONG Contas Abertas. São cursos presenciais e a distância. No final do próximo mês de julho, a Abraji realizará o 5º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Trata-se do maior evento brasileiro voltado à capacitação de jornalistas.

Serão três dias de cursos e seminários, com foco emtemas como cobertura eleitoral, investigação do crimeorganizado e cobertura da Copa do Mundo e das Olimpíadas.Está prevista a presença de mais de 80 palestrantes, na maioria jornalistas dos principais veículos de comunicação brasileiros e estrangeiros.As inscrições devem ser abertas a partir de maio, no site da Abraji.

A Abraji é uma associação sem fins lucrativos,mantida pelo pagamento das anuidades de seus filiados,pelos recursos angariados na prestação de serviços de treinamento para veículos de comunicação,pelos eventos como o seu congresso anual e por projetos patrocinados por parceiros como o Open Society Institute. Tem sede em São Paulo.

Os diretores trabalham de modo voluntário, sem remuneração.A atual diretoria foi eleita em dezembro de 2009,para um mandato de dois anos.O presidente é Fernando Rodrigues (Folha de S.Paulo), e o vice-presidente é Marcelo Moreira (TV Globo). Os outros nove diretores representam redações do Rio Grande do Sul,Paraná, Minas Gerais, São Paulo,Ceará e Amazonas.

Para saber mais sobre a Abraji e sua atividade:
[email protected]

 

* José Roberto de Toledo, jornalista, é coordenador de projetos da
Abraji e colaborador de O Estado de S.Paulo

Assinatura Abraji