Insatisfeitos com reportagem, presidente e filho atacam repórteres e imprensa
  • 14.09
  • 2019
  • 17:05
  • Abraji

Liberdade de expressão

Insatisfeitos com reportagem, presidente e filho atacam repórteres e imprensa

O presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) usaram redes sociais para expor fotos e informações de jornalistas nesta sexta-feira e neste sábado (13/09 e 14/09/2019). Dessa forma, incitaram seus seguidores a ofender, ameaçar e intimidar os profissionais. Trata-se de uma atitude típica de políticos autoritários, e não de quem tem compromisso com o princípio constitucional que garante a liberdade de expressão. Quem se vale de sua posição de poder para instigar o público contra a imprensa busca restringir sua atuação – em uma democracia, é inadmissível que isso ocorra.

Bolsonaro e seu filho ficaram contrariados com uma reportagem da revista Época. Sem se identificar como jornalista, um repórter da revista contratou aulas de coaching de Heloísa Bolsonaro, esposa de Eduardo, e descreveu as sessões em texto intitulado “O coaching on-line de Heloísa Bolsonaro: as lições que podem ajudar Eduardo a ser embaixador”.

A Abraji nunca se manifesta sobre os critérios editoriais dos órgãos de imprensa. Em um ambiente democrático, todos devem ser livres para cobrir qualquer assunto, da forma como considerarem adequada. A crítica aos veículos e jornalistas também deve ser livre - é normal que sua atuação passe pelo escrutínio dos participantes da esfera pública. Mas a própria democracia passa a ser alvo quando críticas se transformam em ataques, ainda mais se estes provêm de representantes eleitos e são amplificados e coordenados por redes sociais.

Na manhã da sexta-feira, Jair Bolsonaro, em mensagem para seus 5,1 milhões de seguidores no Twitter, qualificou “parte da grande imprensa” como “inimiga”. Pouco depois, acusou o repórter João Paulo Saconi (Época) de “se passar por gay para se consultar” com a nora do presidente, com o objetivo de fazer a reportagem.

Desde então, Saconi passou a ser atacado nas redes sociais por meio de centenas de ofensas, questionamentos agressivos e exposição de sua imagem junto a textos de desqualificação. Eduardo Bolsonaro chamou o jornalista de “mau caráter” e publicou uma foto dele no Twitter, intensificando a onda de ataques.

No início da tarde deste sábado, o deputado expôs no Twitter fotos de Daniela Pinheiro e Plínio Fraga, respectivamente diretora de redação e editor-chefe de Época, e os qualificou como “comparsas” de Saconi. Publicou ainda a hashtag #familiaMarinholixo.

O repórter de Época não “fingiu” ser gay, como acusou o presidente. Em trecho do texto, ele diz: “Após uma hora de sessão, revelei a Heloísa que sou gay”.

Em sua postagem, o presidente afirma ainda que o jornalista “gravou” as sessões. Na reportagem, porém, Saconi narra ter dito à própria Heloísa que as consultas haviam sido registradas “em relatos”: “Heloísa foi informada na última quarta-feira que os encontros foram registrados em relatos que seriam publicados e, mesmo convidada a comentar os tópicos do diário, preferiu não se manifestar”.

A Abraji repudia o ataque aos jornalistas de Época, agravado pela disseminação de informações falsas sobre Saconi, e chama a atenção para o fato de que há precedentes. Em março, o presidente redistribuiu peça manipulada que difamava a repórter Constança Rezende, e, em julho, afirmou que Miriam Leitão havia mentido sobre ter sido torturada durante a ditadura. O que acontece agora, como se vê, não é um caso isolado.

Diretoria da Abraji, 14 de setembro de 2019.

Assinatura Abraji