• 25.09
  • 2007
  • 15:02
  • Mariana Baccarin

Imaginação é mais importante que uso de softwares, diz professor José Luis Dader

O Jornalismo de Precisão, muitas vezes, é feito de maneira intuitiva pelos jornalistas porque a imaginação é mais importante que o uso de softwares especializados. A afirmação foi feita pelo professor José Luis Dader, um dos teóricos mais consagrados no estudo do Jornalismo de Precisão, em curso sobre o tema que deu aos sócios da Abraji no dia 22, no Centro Cultural da Espanha.

 

O professor na Universidad Complutense de Madri, na Espanha, trouxe ao Brasil alguns casos de matérias feitas usando o Jornalismo de Precisão, publicadas em jornais espanhóis como El Mundo e El Pais. Jornalismo de Precisão é aquele, basicamente, em que as reportagens são fundamentadas em pesquisas feitas pelos próprios jornalistas e não cedidas por fontes. A idéia desse tipo de jornalismo é aplicar o método científico de investigação na apuração de notícias. Com isso, além de descobrir informações e novas realidades por pesquisas próprias, o jornalista pode conferir, complementar e, principalmente, questionar dados já prontos que chegam às redações como verdades absolutas.

 

Entre os casos apresentados, estava uma matéria sobre uma lenda urbana: os taxistas tiram proveito dos turistas. De uma forma convencional, essa abordagem poderia ter sido feita através de relatos pessoais de turistas ou denúncias, muito raras. O outro lado poderia ser ouvido pelo representante da associação dos taxistas. Mas todas essas possibilidades não passam de opiniões. A maneira de tratar o tema de forma mais precisa, segundo Dader, é usando o que ele chama de “método de estudo experimental”.

 

Na matéria em questão, dois jornalistas experimentaram esse método de estudo. As regras eram: não opinar sobre caminhos e um deles só falaria inglês. Durante a manhã do experimento, os dois partiram sempre do mesmo ponto e foram ao mesmo destino, que variaram entre hotéis, aeroportos, museus e praças. No jornal, um gráfico com o tempo e o custo de cada viagem,  comparando-as. O jornalista que falou espanhol preencheu uma coluna e o outro, que se fez passar por turista, outra. No final, o resultado: o “turista" pagou cerca de 7,7 euros a mais e demorou 35 minutos extras para completar o percurso. Após o gráfico, ele mostrou textos com as impressões dos dois jornalistas. “Os dados são o coração da reportagem”, disse Dader. Segundo ele, o cruzamento de dados é uma das peças chave desse tipo de jornalismo. “As notícias muitas vezes estão nas bases de dados, não na rua”, afirmou.

 

O professor explicou que essa análise não é uma representatividade estatística -- são apenas indicadores analíticos --, mas “quando a diferença de comportamento é muito alta entre o grupo A e B não existe casualidade”. Segundo ele, as análises podem ser quantitativas, seguindo técnicas de RAC, ou qualitativas, através de grupos de discussão.

 

Outro exemplo apresentado no curso foi sobre como o uso da internet para comunicação política pode favorecer a democracia. Para isso, o próprio professor pesquisou quais os políticos espanhóis tinham e-mail no ano de 1999 e enviou uma mensagem padrão para todos. Na mensagem, ele apenas perguntava se uma pessoa comum poderia se corresponder com o tal político por e-mail. Como era o início da internet, ele apenas coletou os dados e os arquivou. Segundo o professor, essa prática é importante para o Jornalismo de Precisão, mas não costuma acontecer redações, que julga imediatistas demais.

 

Em 2005, ele repetiu a experiência. Desta vez criou alguns personagens e fez perguntas simples e diretas aos políticos. O resultado do trabalho foi apresentado num jornal espanhol sem ouvir fontes, apenas a partir dos dados -- quem respondeu os e-mails e quem não retornou.

 

Uma das principais dificuldades que Dader percebe é a falta de investimento dos jornais em macroprojetos, que requerem muita pesquisa e dedicação. Segundo o professor, os jornais estão fazendo um jornalismo comercial, que é incapaz de repetir as experiências para observar novos resultados. Muitas vezes uma coleta de dados pode servir para uma matéria que será feita daqui alguns anos. De acordo com o teórico, as redações consideram o Jornalismo de Precisão caro, lento e uma prática que requer muita dedicação, mas, segundo ele, “só é necessário imaginação”.

Assinatura Abraji