• 04.06
  • 2012
  • 06:46
  • -

Homenagens marcam 10 anos da morte do assassinato do jornalista Tim Lopes

No último sábado (2.jun.2012), o Jornal Nacional exibiu reportagem com as homenagens feitas no Rio de Janeiro para homenagear o jornalista Tim Lopes, assassinado por traficantes há dez anos, enquanto fazia uma investigação sobre abuso de menores e tráfico de drogas na Vila Cruzeiro.

A morte de Tim Lopes motivou a criação da Abraji, que também completa dez anos. O jornalista será homenageado no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, com a exibição de um trecho do filme "Histórias de Arcanjo - um documentário sobre Tim Lopes", feito pelo filho do jornalista, Bruno Quintella.

Confira abaixo a reportagem do JN.

 


Veja o vídeo

Homenagens no Rio de Janeiro marcaram neste sábado (2) os dez anos do assassinato do jornalista da TV Globo Tim Lopes.

Cada lenço branco representava um dia desde a morte de Tim Lopes. E já se passaram 3.653 dias. “Está muito lindo. Está muito bonito para o meu filho que está lá em cima”, diz Maria do Carmo Lopes, a mãe de Tim Lopes.

Neste sábado (2), os moradores do Alemão viveram um dia de cidadania. Tiveram acesso a muitos serviços: fazer documentos como identidade, certidões, carteira de trabalho. Havia espaço para cuidar do visual.

“Fazendo uma homenagem ao Tim Lopes. Também sou estudante do colégio Tim Lopes”, diz a estudante Deise de Carvalho.

E muita diversão para as crianças. No palco, música e depoimentos. O jornalista William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, falou sobre o colega: “Passados dez anos, vendo essa foto dele, claro que a saudade dele é imensa. Mas há também uma certeza, entre todos nós colegas de Tim, de que o grito indignado que se ouviu no Brasil inteiro, com a morte dele, não foi um grito em vão. Aquele grito produziu um movimento e este dia, este momento aqui é o resultado do movimento provocado por aquele grito”.

“A presença do Tim Lopes entre nós, entre os jornalistas, entre a história do jornalismo brasileiro está garantida a partir da sua vida e a partir do seu trabalho”, declarou Celso Schroder, presidente da Fenaj.

“Apurando, cobrando apuração, fazendo manifestações e tentando chamar a atenção da sociedade e a atenção até da própria categoria dos próprios jornalistas sobre a diferença que é antes de Tim Lopes e depois de Tim Lopes na cobertura de áreas de risco. Foi um marco pra gente”, diz Suzana Blass, presidente do Sindicato dos Jornalistas do RJ.

“Um jornalismo eficaz, um jornalismo realmente que consiga realizar o que ele pensava desde o início que era esse envolvimento com a comunidade, esse envolvimento com a população, esse envolvimento do país, tem que ser um jornalismo de qualidade. Tem que ser um jornalismo bem feito. Valeu Tim!”, destacou Marcelo Beraba, diretor da Abraji.

Para o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, o trabalho de Tim Lopes foi um divisor de águas para a região: “A tirania que existia aqui tentou calar a boca da imprensa. Matou um profissional. E hoje, o paradigma se inverte. Hoje os profissionais podem vir aqui, mas muito mais do que isso, a sociedade pode vir aqui”, destacou.

Até quem nem era nascido quando Tim Lopes morreu sabe da herança que ele deixou: “Ele é importante pra todo mundo até hoje”, diz uma menina. “Ele morreu tentando ajudar a tirar os bandidos daqui”, diz um menino.

O filho de Tim, o também jornalista Bruno Quintela, prepara um documentário sobre a vida do pai.

Na madrugada do dia 2 de junho de 2002, chamado pelos próprios moradores, Tim Lopes fazia uma reportagem-denúncia sobre abuso de menores e tráfico de drogas em um baile na Vila Cruzeiro, no conjunto de favelas do Alemão. Segundo os moradores, as meninas que não participavam do evento sofriam represálias. Tim foi sequestrado, torturado e assassinado por traficantes. Desde o dia da sua morte, os jornalistas do Rio, do Brasil e, especialmente, da TV Globo, mobilizaram-se pela punição dos assassinos. Somente no Jornal Nacional, nos três meses após a morte, foram 17 horas de reportagem cobrando a prisão dos bandidos.

Dos nove indiciados pelo assassinato do jornalista, dois morreram e sete foram condenados por homicídio triplamente qualificado, formação de quadrilha e ocultação de cadáver. O mandante, Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, recebeu pena de 28 anos e meio de prisão. Cláudio Orlando do Nascimento, o Ratinho; Claudino dos Santos Coelho, o Xuxa; Reinaldo Amaral de Jesus; Fernando Sátyro da Silva; e Elizeu Felício de Souza, o Zeu, foram condenados, cada um, a 23 anos e seis meses de prisão. Ângelo Ferreira da Silva, condenado a 15 anos de prisão. André da Cruz Barbosa, o André Capeta, foi encontrado morto em agosto de 2002. Maurício de Lima Matias, o Boi, morreu em uma troca de tiros com a polícia.

O Complexo do Alemão era um conjunto de favelas dominado por bandidos até que, em novembro de 2010, as Forças Armadas, a Força Nacional e as polícias civil e militar tomaram a região, expulsando os traficantes. A fuga em massa foi registrada e transmitida ao vivo pela Globo.

Homem de fé, Tim Lopes foi homenageado neste sábado (2) com um culto que reuniu representantes das igrejas católica, evangélica e do candomblé.

Às 16h, as pessoas começaram uma caminhada até a Pedra do Sapo, local no alto do Conjunto do Alemão, onde Tim Lopes foi morto. Durante o trajeto, cantos e oração. No fim, um manto colorido foi estendido no chão com uma camisa que pertencia a Tim Lopes.

Todos rezaram o Pai Nosso e acenderam 51 velas, idade que o jornalista tinha quando foi assassinado.

“Difícil, mas necessário. Ele merecia essa homenagem”, declarou a irmã de Tim Lopes.

 

Assinatura Abraji