Grupo de pesquisadores centraliza e facilita o acesso de milhões de informações sobre a Amazônia Legal

A Amazônia Legal é uma área de 5.217.423 km², que corresponde a 61% do território brasileiro. A região é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e por parte do Maranhão. Toda essa imensidão de biodiversidade essencial para a vida no planeta abarca também um universo de informações ambientais, econômicas e sociais. É esse vasto conjunto de dados que um recente projeto, o Data Zoom Amazônia, busca agrupar.

O Data Zoom Amazônia permite que os usuários gerem análises de dados a partir do cruzamento de diversas fontes, sendo uma importante ferramenta de pautas para jornalistas, pesquisadores e para o debate público. A iniciativa é do grupo Amazônia 2030, que reúne o Imazon, o Climate Policy Initiative, o Centro de Empreendedorismo da Amazônia e o Departamento de Economia da PUC Rio.

No site do projeto é possível obter visualizações e fazer análises sobre quatro pontos, da chamada Bacia Infográfica do projeto: Desenvolvimento, Mercado de Trabalho, Comércio Exterior e Desmatamento. Em cada um são criadas “histórias” com os dados, ou seja, cruzamentos de microdados, rankings, mapas interativos, análises e visualizações de milhares de informações referentes à Amazônia Legal, que mostram cenários da região, como comparar a criação bovina de municípios e seu nível de desmatamento, entender a relação do índice de progresso social de municípios com vários indicadores, fazer relações com mercado de trabalho, taxa de desemprego e taxa de informalidade.

“Ao longo deste ano temos previsão de lançar várias séries temáticas, que se tornarão rios adjacentes na nossa Bacia Infográfica. Os temas previstos englobam Energia, Agricultura, Criação Animal, Aquicultura, Finanças Públicas, Multas Ambientais, Climas e Emissão de Carbono, por exemplo”, conta o coordenador operacional do projeto, Francisco Cavalcanti, que também cursa pós-doutorado vinculado ao Departamento de Economia da PUC.

A lista atual de informações que a equipe do projeto cataloga já é extensa, com origem dos dados em órgãos públicos e organizações que estudam a Amazônia Legal:

• INPE-PRODES
  Dados sobre desmatamento raso na Amazônia Legal e taxas anuais de desmatamento na região.
   
• MAPBIOMAS

Traz as seguintes informações:

• tipo de cobertura do solo por biomas, estados e municípios - dados disponíveis de 1985 a 2020;
• transição entre coberturas por biomas, estados e municípios - dados disponíveis de 1985 a 2020; 
• desmatamento e regeneração por biomas e estados - dados disponíveis de 1988 a 2020; 
• áreas de irrigação por biomas e estados, dados disponíveis de 2000 a 2020; 
• qualidade do pastejo por bioma, estado e município -  dados disponíveis de 2010 a 2018.
   
• INPE-DEGRAD
  Dados sobre a degradação florestal na Amazônia brasileira, substituído pelo DETER-B em dezembro de 2016, disponíveis de 2007 a 2016.
   
• DETER
  Reúne informações sobre mudanças na cobertura florestal na Amazônia.
   
• MDIC – COMEX
  O repositório de dados Comex reúne dados extraídos do Siscomex (Sistema Integrado de Comércio Exterior), que contém informações de todos os produtos importados ou exportados do Brasil. Utilizando dados informados pelas empresas responsáveis pelo processo de transporte dos produtos, o sistema segue nomenclaturas padronizadas internacionalmente, como o Sistema Harmonizado e a Nomenclatura Comum Mercosul, que pertencem aos membros da organização Mercosul. Os dados têm periodicidade mensal e estão disponíveis a partir de 1989. De 1989 a 1996, foi adotado um sistema diferente de nomenclaturas, mas todas as conversões estão disponíveis em um dicionário no site do Comex.
   
• PPM
  Permite fazer o download de dados do PPM (Pesquisa da Pecuária Municipal). Este levantamento contém informações dos estoques pecuários nos municípios brasileiros, como dados referentes a bovinos e suínos. Também fornece informações sobre a produção de origem animal, como a produção de leite, ovos de galinha e s de codorna e mel, além do valor da produção durante o ano de referência. A periodicidade da pesquisa é anual, e a  cobertura geográfica é nacional, com resultados divulgados para o Brasil, Grandes Regiões, Unidades da Federação, Mesorregiões, Microrregiões e Municípios.
   
• PEVS
  Reúne informações sobre a quantidade e o valor da produção de exploração de recursos vegetais nativos e de maciços florestais plantados, entre outras informações. O levantamento é feito em nível municipal; e os dados estão disponíveis de 1986 a 2019.
   
• PAM
  A Produção Agrícola Municipal (PAM) é uma pesquisa anual de abrangência nacional realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que fornece informações sobre as safras brasileiras, com detalhamendo de 64 produtos agrícolas, 31 de lavoura temporária e 33 de lavoura permanente.
   
• IBGE – PIB
  Engloba informação sobre Produto Interno Bruto total e por atividade econômica,que podem ser analisados no âmbito nacional, estadual ou local, de 2002 a 2018.
   
• CEMPRE
  Abarca  informações sobre empresas e outras entidades e suas respectivas unidades locais formalmente constituídas, cadastradas no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). Os dados estão disponíveis de 2006 a 2019.
   
• SEEG
  Traz dados de estimativas de emissão de gases de efeito estufa de cidades e estados brasileiros. De acordo com o site “SEEG Brasil”, são avaliados todos os cinco setores que são fontes de emissões - Agricultura, Energia, Mudança do Uso do Solo, Processos Industriais e Resíduos -, com o mesmo grau de detalhamento contido nos inventários de emissões. Os dados fornecidos na Coleção 9 do SEEG abrangem o período de 1970 a 2020, exceto o Setor de Mudança de Uso do Solo, que possui a série de 1990 a 2020.
   
• IBAMA
  O projeto possibilita baixar e compilar dados sobre multas ambientais em nível municipal ou estadual da região amazônica. A função retorna os dados brutos ou um quadro de dados com agregados considerando, para cada período de localização, o número total de infrações, infrações que já foram a julgamento e número de autores únicos de infrações.
   
• SIGMINE
  Reúne informações das minas que estão sendo exploradas legalmente no Brasil, como sua localização, situação, produto sendo lavrado e área em metros quadrados. O levantamento é feito em nível municipal e estadual pela  Agência Nacional de Mineração (ANM).
   
• IPS
  Carrega informações sobre o desempenho socioambiental da Amazônia Legal. O levantamento é feito em nível municipal, e os dados disponíveis são de 2014 a 2018.
   
• CIPÓ
  Traz os mapeamentos da plataforma CIPÓ acerca das organizações envolvidas no combate aos crimes ambientais. Cada mapeamento consiste em uma listagem de atores ou acordos juntamente com atribuições e muitas descrições. 
   
• TerraClimate
  Engloba os dados do TerraClimate, do Climatology Lab, sobre muitas variáveis climáticas. Os dados estão disponíveis de 1958 a 2020.
   
• BACI
  Carrega dados desagregados sobre fluxos comerciais bilaterais para mais de 5.000 produtos e 200 países.
   

Como começar a usar

No site do projeto, na seção “Visualizações”, pode ser a melhor maneira de começar. O usuário pode conferir:

• Relação Entre Variáveis:
  • Área Desmatada e PIB Per Capita
  • Efetivo Bovino e PIB Per Capita
  • Efetivo Bovino e Área Desmatada)
     
• Rankings:
  • Atividades Econômicas Mais Dinâmicas
  • Ocupações Mais Dinâmicas
  • Campeões de Desmatamento
     
• Mapas Interativos:
  • Índice de Progresso Social 2021
  • Evolução do Desmatamento nos Municípios
  • Produção dos Municípios
  • Produção dos Estados
  • Mapa Estático dos Municípios
     
• Séries Temporais:
  • Ocupações no Trabalho
  • Atividades Econômicas
  • Mercado de Trabalho
  • Emissões de Gases Estufa na Agropecuária
  • Cobertura da Terra dos Municípios
  • Mudança de Cobertura dos Estados
  • Cobertura da Terra dos Estados
  • Países Destinos de Exportação
  • Exportação de Produtos por Municípios

“Nosso objetivo é permitir às pessoas contar histórias cruzando dados abertos. Então, queremos oferecer várias ferramentas para que o usuário encontre as relações sobre temas diversos. Eu acredito que as visualizações em gráfico de dispersão são uma ótima ferramenta para cruzar dados de fontes distintas, observar tais relações e assim torna-se pauta para matérias jornalísticas”, aponta Cavalcanti uma das formas de buscar informações jornalísticas no projeto.

A equipe do projeto prevê  incluir bases de dados que tratam de temas como Clima e Energia, no próximo mês, e seguir abastecendo a plataforma. “O objetivo é ser exaustivo com todos os dados que permeiam a Amazônia Legal. É um trabalho contínuo”, completa o coordenador operacional do projeto.

Dados abertos e pacote em R

O Data Zoom Amazônia foi gerido por vários colaboradores ao longo de 2021 e hoje é formado por uma equipe de cinco estudantes da graduação e dois da pós-graduação e  coordenadores das organizações (Imazon, Climate Policy Initiative, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Departamento de Economia da PUC Rio). Além do portal do projeto, a equipe criou um pacote na linguagem de programação em R.

Toda a documentação e exemplos de acesso estão no Github do projeto. O “datazoom.amazonia” oferece duas formas de obtenção de dados. A primeira é a forma “bruta” (raw_data = TRUE), em que o usuário pode ter acesso às bases de dados exatamente como as fontes originais entregam.

A segunda é a forma “limpa” (raw_data = FALSE), em que o pacote faz alterações no formato e nome das variáveis para tornar a base de dados mais inteligível. Em geral, o “raw_data = FALSE” gera bases ao nível do município, para os cruzamentos entre bases de dados para análises no site.

Outra questão importante para jornalistas investigativos, pesquisadores e cientistas de dados é que algumas bases utilizam indicadores únicos, como é o caso da função sobre os dados do IBAMA, em que é possível listar o CNPJ de empresas que tiveram multas ambientais. Os dados podem ser acessados pelo “raw_data = TRUE”.

No Github da Abraji, foi criado um script com exemplos de uso com o pacote Data Zoom Amazônia e com o cruzamento com informações de políticos extraídas do CEPESP Data.