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Governo criará observatório para acompanhar ameaças a jornalistas

Publicado no Valor Econômico em 11 de fevereiro de 2014

O governo federal, em parceria com a Unesco, deve criar nos próximos meses um observatório para acompanhar as ameaças a jornalistas. A informação foi divulgada na tarde desta terça-feira, 11, pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário.

A ministra afirmou que a secretaria, através do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), divulgará na segunda, 17, em Brasília, um relatório detalhado sobre as condições de trabalho e os riscos enfrentados por jornalistas no Brasil. Além da criação do observatório, o relatório deve ainda sugerir a abertura de uma linha específica dentro dos programas de proteção à testemunha capaz de proteger jornalistas.

Manifestações

O relatório mapeou um total de 77 casos de violência contra profissionais da imprensa nos últimos cinco anos, alguns deles fatais. Os dados, cuja colheita começou em fevereiro de 2013, no entanto, não incluem a violência nas manifestações que vitimou na segunda, 10, o cinegrafista da rede Bandeirantes Santiago Andrade.

De acordo com a coordenadora do CDDPH, Tássia Rabelo, a inclusão das informações sobre agressões e ameaças sofridas nas manifestações será feita nos próximos dias, a tempo de constar no relatório.

O relatório foi desenvolvido por um grupo de trabalho com a participação de órgãos do governo e entidades da sociedade civil, como a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

A criação do observatório foi uma sugestão da Unesco, que ofereceu parte de suas instalações no Rio de Janeiro para abrigar a instituição. Entre as atribuições do observatório estará o acompanhamento de estatísticas acerca das ameaças e ataques a membros da imprensa.

Na tarde desta terça, Maria do Rosário fez um discurso duro em defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa. Citando o caso de Santiago Andrade, a ministra afirmou que atos de violência por parte de manifestantes são indefensáveis e pediu que os dois jovens envolvidos no ataque que vitimou o cinegrafista sejam responsabilizados.

"A democracia jamais é uma obra acabada", lembrou a ministra em seu discursou na Comissão da Verdade do Rio. "Se lutamos para que a polícia tenha uma atuação correta, é impossível, hoje, não observar quantos passos atrás se dá, quando quem se apresenta como manifestante se utiliza das práticas que são insuportáveis para quem defende os direitos humanos", afirmou.

Ao lado da ministra, o teólogo Leonardo Boff também lamentou a morte de Santiago Andrade. Em um discurso pela condenação à violência, Boff afirmou que a fala da esposa do cinegrafista "é uma encíclica para a sociedade brasileira. Ela falou do amor, nenhuma palavra de ódio. Ela falou com uma serenidade que deve ter tocado o coração dos brasileiros", disse ele.

Assinatura Abraji