Fotojornalistas denunciam agressões ao cobrir atos contra Bolsonaro
  • 08.07
  • 2021
  • 12:40
  • Thiago Assunção

Liberdade de expressão

Fotojornalistas denunciam agressões ao cobrir atos contra Bolsonaro

Quatro fotojornalistas denunciaram ter sofrido agressões por parte de um policial militar e de seguranças da ViaQuatro, concessionária responsável pela operação e manutenção da Linha 4-Amarela do metrô, durante a cobertura da manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em São Paulo, no último sábado, 3.jul.2021.

Os fotojornalistas registravam o confronto entre seguranças do metrô e manifestantes que quebraram portas de vidros de uma agência bancária e de uma concessionária na Rua da Consolação. A violência aconteceu em frente à estação Higienópolis-Mackenzie, região central da cidade, por volta das 20h. Nesse momento, Amauri Nehn, freelancer da agência Nurphoto, teve o seu equipamento fotográfico quebrado por um dos seguranças, apesar de estar identificado com uma credencial e usar um capacete de imprensa.

“Estava em um grupo de fotógrafos e cinegrafistas fazendo a cobertura, posicionado ao lado dos seguranças, quando um deles veio com o cassetete direto na lente da minha câmera”, contou Nehn.

Assim como Nehn, a fotógrafa freelancer Karina Iliescu afirma ter tido seu equipamento quebrado, além de ter levado uma coronhada de um segurança. Em entrevista à Abraji, Iliescu disse que, apesar de não estar representando nenhum veículo, estava próxima a outros colegas e também usava o capacete azul da imprensa. Em seu perfil no Instagram, deu detalhes sobre a violência:

“Cerca de seis seguranças da ViaQuatro do metrô ficaram encurralados pelos manifestantes e um deles, enquanto eu fazia a cobertura a uma certa distância, junto com outros profissionais da imprensa, bateu em mim com o cassetete, pegando no meu capacete e destruindo minha câmera”.

Jardiel Carvalho, freelancer da Folha de S. Paulo, declarou ter sido atingido por uma pedra lançada por um dos seguranças. “Se estivesse sem a máscara full face e sem o capacete, teria sofrido algo muito sério em meu rosto. Por sorte, só machucou meus dedos da mão direita”, disse.

Os três fotógrafos registraram boletim de ocorrência.

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Mão do fotógrafo após agressão dos seguranças | Foto: Jardiel Carvalho/Arquivo pessoal - cedido à Abraji

De acordo com Adriano Tomé, do coletivo Jornalistas Livres, a agressão que ele sofreu não partiu dos seguranças do metrô, e sim de um policial militar. “Assim que os PMs prenderam um dos manifestantes envolvidos no confronto, fui fazer o registro. O policial se sentiu ameaçado e me deu duas cassetadas”, conta. Tomé também trabalhou com identificação.

Letícia Kleim, assistente jurídica da Abraji, lembra que os jornalistas, os quais enfrentam situações de insegurança para realizar sua função de levar informações e registros fotográficos de interesse público à população, não podem ser eles mesmos alvos da ação de agentes de segurança e do próprio Estado com o intuito de coibir o exercício de sua profissão. "Práticas como essa, além de causar danos aos profissionais, contrariam a Constituição e os compromissos internacionais assumidos com a liberdade de imprensa", completa.
 
Recentemente, no julgamento em repercussão geral do caso do fotojornalista Alex Silveira, o Supremo Tribunal Federal firmou posicionamento da jurisprudência sobre a responsabilidade que o Estado tem de reparar os danos causados a jornalistas durante seu exercício profissional.

Em nota enviada à Abraji, a ViaQuatro informou que os agentes de segurança atuaram para garantir aos passageiros o direito de ir e vir durante as manifestações de 3.jul.2021: “Na tentativa de conter um grupo de manifestantes que estava vandalizando a estação Higienópolis-Mackenzie e agredindo seguranças, oito colaboradores sofreram ferimentos e cinco deles foram encaminhados a hospitais da região central de São Paulo”. A concessionária não comentou as agressões contra os fotógrafos.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) declarou, também por nota, que “vândalos depredaram patrimônio público e privado e hostilizaram e feriram policiais militares e agentes das forças de segurança”, afirmando ainda que o confronto se deu entre manifestantes e funcionários que fazem a segurança do metrô e não envolveram a PM. Apesar de ter sido questionada sobre a acusação feita pelo fotógrafo dos Jornalistas Livres, a assessoria de imprensa da SSP não mencionou diretamente o caso.

*Foto: cedida pela fotógrafa Karina Iliescu

Assinatura Abraji