- 15.07
- 2009
- 10:55
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Fausto De Sanctis e Rubens Valente falam sobre crime organizado no congresso da Abraji
Para o repórter de Brasil da Folha de S. Paulo Rubens Valente a Operação Satiagraha foi um divisor de águas dentro da Polícia Federal: o número de operações de combate a drogas subiu significativamente enquanto aquelas que investigam crimes do colarinho branco despencaram. Rubens e o juiz Fausto De Sanctis, responsável por prisões da Satiagraha, estiveram na mesa “Judiciário e o combate ao crime organizado” no sábado 11 de julho, durante o congresso da Abraji.
“A PF adotou claramente uma linha mais conservadora no combate à corrupção”, disse Rubens Valente. Segundo os levantamentos feitos pelo repórter, houve uma descentralização das ações da Polícia Federal desde que a Operação Satiagraha foi deflagrada em julho de 2008. Com o auxílio de gráficos, Rubens mostrou que desde então o número de operações de combate à corrupção despencou. “Só o Paulo Pereira da Silva foi investigado nesse ano“, disse Rubens referindo-se ao deputado federal Paulinho da Força, investigado pela Operação Santa Teresa.
O juiz Fausto Martin De Sanctis, especializado em crimes de lavagem de dinheiro, fez uma longa crítica à atuação da imprensa e dos próprios juízes nos casos de crime organizado. “Jornalistas e juízes gastam tempo defendendo seus direitos, isso é fato. Mas recusam-se a admitir suas difíceis responsabilidades. Muitas vezes os juízes, ou jornalistas ao fazerem suas entrevistas, não permitem a resposta completa; a não audiência de alguém resulta em absoluta arrogância”, disse.
Ele ressaltou que hoje percebe um grande medo de seus colegas do judiciário para com os jornalistas, quando são procurados para entrevistas. “O jornalista precisa de muita concentração para extrair as informações do juiz sem comprometê-lo e sem comprometer a sua matéria”, disse.
Na primeira parte de sua apresentação, De Sanctis deu um panorama das leis e práticas de combate ao crime organizado em outros países e comparou-as com o Brasil. “Na França basta que se prove que uma pessoa é ligada ao crime organizado para que ela perca seus bens. O Brasil ainda não avançou nisso”, disse. Ele frisou que é essencial que os países tenham ações coordenadas para o combate a crimes. “Falar em crime organizado é falar em cooperação política internacional, porque o crime realmente se globalizou”, disse.
Perguntado sobre as eventuais frustrações que teve como juiz, Fausto de Sanctis disse que se frusta ao não ver resultados práticos e imediatos de seu trabalho: “a decisão judicial não é apenas uma questão de teoria jurídicas abstratas e de notas de rodapé em manuais de direito. Ela tem a ver com as conseqüências práticas para o cotidiano do povo”.
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