• 11.03
  • 2013
  • 08:40
  • Nathalia Carvalho

Falta de interesse dos estudantes prejudica o jornalismo investigativo, avaliam especialistas

Publicado em 11 de março de 2013 pelo Comunique-se

Atualmente, fala-se muito sobre jornalismo investigativo e as novas ferramentas que podem auxiliar o profissional na busca de boas informações e história. A grande questão que fica sem resposta é o motivo de os profissionais investirem tão pouco neste tipo de trabalho. Em conversa com jornalistas e estudantes durante o 1° Seminário Regional de Jornalismo Investigativo da Abraji, a professora da Anhembi Morumbi, Cleofe Monteiro, e o diretor do curso de pós-graduação em Jornalismo com ênfase em direção editorial da ESPM, Eugênio Bucci, falaram sobre os impasses e mudanças que precisam ser realizadas para mudar a situação.

Para a professora Cleofe, o ensino de jornalismo investigativo é muito complicado, levando em conta que o aprendizado não começa apenas na faculdade, mas também nas redações. Assim, comenta que existem quatro pontos de entrave no mercado: sistema de trabalho, espaço, edição e alto custo. Além disso, há, segundo ela, certa acomodação dos jornalistas. "Existe uma acomodação nos próprios estudantes. Eles não querem ser jornalistas investigativos. Aqui na Anhembi Morumbi, sempre pergunto no final da disciplina quem gostaria de investir nessa área e geralmente ninguém quer". A comunicadora explica que este cenário prejudica a profissão e que, neste momento, as universidades precisam descobrir uma forma de fazer os estudantes gostarem de jornalismo. "Eles precisam gostar de fazer reportagem e de gastar as solas dos sapatos nas ruas". 

A opinião de Eugênio Bucci é a mesma. "As escolas precisam mudar o modelo", disse durante o encontro. De acordo com o diretor, estudar comunicação se tornou obrigatório e alguns pontos devem ganhar atenção. "Precisa dar atenção a estudos sobre linguagens, números, democracias, liberdade, humanidades, reportagem, cultura, crítica e gestão de negócios", comentou. Bucci afirma que é falsa essa opinião de que jornalista não gosta de números. "O jornalismo investigativo tem muitos números e o profissional tem que ser bom em matemática". Sobre o mercado de trabalho, ele explica que noções de marketing, gestão de pessoas em redação, fluxo editorial, distribuição e capacitação de recursos deveriam estar na grade das universidades.

A questão do diploma é um dificultador nesta questão do ensino, segundo o professor da ESPM. Bucci afirma que a exigência cria obstáculos que impedem alternativas de formação profissional. "Poderíamos formar jornalistas que tivessem estudado direito e economia num curso de pôs graduação onde as técnicas de jornalismo fossem prioridades. Isso existe em outros países", comentou. Para ele, o Brasil poderia abrir caminhos para que o ensino fosse menos sufocado e mais reflexivo. A conversa foi mediada pelo colunista do Estadão e diretor da Abraji, José Roberto de Toledo.

Assinatura Abraji