- 30.05
- 2022
- 17:42
- Abraji
Liberdade de expressão
Eventos marcam os 20 anos da morte de Tim Lopes
Os 20 anos da morte do jornalista Tim Lopes serão lembrados nesta semana por uma série de eventos organizados pela Abraji e outras instituições, entre eles uma missa e um ato na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro. Repórter da Globo, Tim Lopes foi sequestrado, torturado e executado por traficantes, no Complexo do Alemão, em 2.jun.2002, quando produzia uma reportagem no local.
O assassinato de Tim Lopes, um dos grandes repórteres investigativos do país, é um triste marco na história do jornalismo brasileiro. O crime abalou a imprensa e fez os meios de comunicação buscarem condições mais seguras para o exercício da profissão. Influenciou a criação da Abraji naquele mesmo ano.
O primeiro evento em homenagem a Tim Lopes será uma cerimônia religiosa no Santuário Cristo Redentor, situado na estrada para o Corcovado, às 10h. A liturgia será lida pelo padre Omar, reitor do templo, e celebrada em conjunto com frei Davi.
Tânia Lopes, irmã do jornalista, afirmou que a data é carregada de tristeza e saudade. “Tim deixou um legado incontestável, sendo o precursor do jornalismo investigativo, e não pode ser esquecido. Com o contexto político que vivemos hoje no Brasil, de retrocesso e perdas de direitos duramente conquistados, mais do que nunca, meu irmão deve ser lembrado e homenageado”, destacou.
Para Marcelo Beraba, membro do Conselho Curador e primeiro presidente da Abraji, a lembrança do assassinato de Tim Lopes remete à força do jornalismo que ele praticou. “O Tim hoje estaria inconformado com a violência que atinge o jornalismo, os jornalistas e as instituições democráticas, e estaria na linha de frente da resistência. Ao mesmo tempo, sei que ele estaria orgulhoso das dezenas de iniciativas criadas ao longo destes 20 anos por jovens repórteres e comunicadores pobres das nossas favelas e periferias”, disse Beraba. “Tim estaria engajado numa dessas iniciativas, de peito aberto, indócil, vivendo o jornalismo para corrigir injustiças e desigualdades. Que a lembrança dele nos remeta sempre para a força e o compromisso do seu jornalismo”.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em parceria com a Abraji, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ), realizará um encontro na mesma data, no auditório da ABI, no Rio. O evento terá transmissão ao vivo para o canal ABITV, no YouTube.
A Abraji será representada por Gabriela Moreira, conselheira fiscal da organização. “O Tim Lopes nos ensinou muito, tanto em vida, trabalhando como repórter, quanto em sua morte. Se podemos encontrar um legado em uma partida trágica como foi a do Tim, foi que isso reforçou nossa consciência de que juntos somos melhores”, afirmou.
O quadro Conteúdo sem fronteiras, que faz parte do podcast Jornalismo sem trégua, do Programa Tim Lopes, divulgará um episódio especial sobre o legado do jornalista no dia 2.jun.2022. Os dois convidados para o podcast são o jornalista, produtor e roteirista Bruno Quintella, filho de Tim Lopes, e o jornalista e escritor Alexandre Medeiros.
Quintella considera que seu pai ficou conhecido pelo modo como observava a diversidade nas redações e nas pautas em que trabalhou. “Ele chegava para as pessoas e falava: ‘Aqui nessa redação, preto anda de cabeça erguida’. Já começava a chegar dessa forma, assim é que ele recebia as pessoas”, explicou. Já Medeiros disse acreditar que um dos legados de Tim Lopes para o jornalismo são suas habilidades profissionais. “A coisa de você conseguir circular, antever as coisas, e pautar a si mesmo. Era uma coisa que ele sabia fazer como ninguém”, afirmou.
O assassinato do jornalista Tim Lopes também foi o tema da primeira temporada do podcast Jornalismo sem Trégua, que relata as investigações policiais, a caçada de 109 dias ao mandante do assassinato, o traficante Elias Maluco, e o julgamento dos acusados. Jornalismo sem trégua e Conteúdo sem fronteiras estão disponíveis no Spotify e em todos os aplicativos que reproduzem podcast, incluindo o perfil da Abraji no YouTube.
O Programa Tim Lopes
Em 2017, a Abraji criou o Programa Tim Lopes para acompanhar casos de assassinatos de jornalistas brasileiros no exercício da profissão. Hoje, há quatro casos sob acompanhamento do programa.
O primeiro trata do radialista Jefferson Pureza, de 40 anos, morto na noite de 17.jan.2018, com três tiros no rosto, quando descansava na varanda de sua casa. O crime ocorreu em Edealina, interior de Goiás. Segundo os depoimentos que constam do inquérito, o assassinato foi negociado por R$ 5 mil e um revólver calibre 38. Seis acusados foram presos. Os três adolescentes envolvidos no crime cumpriram medidas socioeducativas e foram liberados meses depois. O dono do lava-jato onde aconteceu a negociação do crime foi condenado a 14 anos. No entanto, foram absolvidos o vereador apontado como mandante e o seu caseiro, que apresentou os adolescentes ao político. A acusação recorreu e pediu novo julgamento.
A morte do radialista Jairo de Souza, de 43 anos, assassinado ao subir a escadaria que dá acesso à Rádio Pérola FM, no dia 21.jun.2018, entrou como o segundo caso. O crime ocorreu em Bragança, no Pará, quando Jairo chegava ao trabalho para apresentar seu programa matinal “Show da Pérola”, que ia ao ar das 5h às 9h. Ele foi baleado com dois tiros depois de passar por um portão e subir alguns degraus da escadaria. Segundo investigação policial, a ordem de execução partiu de um grupo de extermínio composto por dez homens e teria custado R$ 30 mil. Um vereador foi acusado de ser o mandante, mas ainda não houve julgamento. Eles foram indiciados e, depois de vários recursos, aguardam o julgamento em liberdade.
O terceiro caso é o do jornalista Lourenço (Léo) Veras, de 52 anos, assassinado na noite de 12.fev.2020, com 12 tiros, quando jantava com sua família, no município paraguaio de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com a cidade de Ponta Porã (MS). Veras noticiava a disputa do narcotráfico na região e já havia recebido ameaças de morte. O crime ainda está sob investigação do Ministério Público e da polícia paraguaia. A promotoria denunciou um suspeito à Justiça, mas não houve julgamento.
A morte do blogueiro Givanildo Oliveira, de 46 anos, na noite de 7.fev.2022, em Fortaleza, é o quarto caso do programa. As investigações mostraram que sua morte foi motivada pela publicação de uma nota, em seu portal Pirambu News, sobre uma operação policial que resultou na prisão de um traficante do Comando Vermelho (CV), que atuava na área de Areia Grossa. As investigações continuam em andamento.
O Programa Tim Lopes, realizado pela Abraji com financiamento da Open Society Foundations, é coordenado por Angelina Nunes, ex-presidente da Abraji.