“Essa é a potência da rede colaborativa: além de ter o recurso, aprender”, diz Géssika Costa no Jornalismo Sem Trégua
  • 16.10
  • 2024
  • 12:51
  • Ramylle Freitas

Formação

Liberdade de expressão

Acesso à Informação

“Essa é a potência da rede colaborativa: além de ter o recurso, aprender”, diz Géssika Costa no Jornalismo Sem Trégua

Qual a importância das redes colaborativas? Como desenvolver e diversificar a sustentabilidade no jornalismo? Essas foram algumas das questões abordadas pela jornalista Géssika Costa, coordenadora de projetos na Associação de Jornalismo Digital (Ajor), fundadora e diretora de conteúdo no Olhos Jornalismo, durante live do Jornalismo Sem Trégua, da Abraji. Géssika compartilhou dicas sobre sustentabilidade e financiamento. Para assistir a live, que foi mediada por Angelina Nunes, coordenadora do Programa Tim Lopes, e transmitida no Instagram da Abraji na última quarta-feira (10 de outubro), basta clicar neste link

De acordo com Géssika, apesar de os editais serem um bom caminho para a sustentabilidade no jornalismo, existe a necessidade de que forneçam subsídios voltados ao pagamento institucional e não apenas direcionados a projetos editoriais. 

“Editais são bons caminhos junto com outras fontes de receitas. No Brasil, os editais estão muito atrelados a projetos editoriais, no sentido de produção de conteúdo. E o grande desafio, na verdade, não é a produção daquele conteúdo, e sim a questão da própria sustentabilidade da operação daquela redação. Ou seja, como é que a gente vai fazer para pagar os repórteres? E esse é um grande problema dos editais no Brasil, de sempre oferecer o recurso muito mais direcionado a projetos editoriais e não uma grana mais institucional de manutenção daquela operação”, contextualizou ela.

Como saída para essa questão, a jornalista aponta a importância da diversificação das receitas, como o investimento em membresia e o incentivo à cultura de doações para o jornalismo. “A gente ainda não tem uma cultura de doação, mas aos poucos algumas iniciativas têm investido nesses programas de membresia, de comunidades, que apoiam as iniciativas jornalísticas. E essa é também uma das formas de sustentabilidade. Se você conseguir, por exemplo, 10 pessoas para doar 10 reais por mês, já são 100 reais. Então, aparentemente parece pouco, mas, para a realidade de muitas organizações, principalmente de jornalismo local, aquele valor que está sendo doado já pode ser considerado uma ajuda”, disse.

Outras formas de diversificar a sustentabilidade

Além disso, Géssika também comentou sobre outras formas de diversificar a receita, como investir na captação de recursos por meio da Lei Rouanet, inscrevendo projetos com fundo cultural que podem ou não envolver o jornalismo, a venda de conteúdos patrocinados, como em espaços do site ou em uma newsletter, e a monetização das redes sociais.

“São vários caminhos para essa chamada diversificação de receita e novas formas de sustentabilidade no jornalismo. Mas, além dessas iniciativas mais ativas, eu acho que o que a gente também não pode deixar de falar é da relevância de incidir politicamente para que a classe política, os governos, enxerguem o jornalismo como política pública. Para que façam editais de fomento ao jornalismo, coloquem o jornalismo no orçamento público”, pontuou a jornalista.

Como gerir seu próprio negócio?

Sobre como administrar seu veículo de comunicação, Géssika orienta a buscar organizações que sejam do eixo do jornalismo independente, para se inspirar com base nas experiências desses veículos. “A gente vê na Ajor muitas organizações que buscam exemplos de outras organizações, compartilhando essas experiências, e isso faz com que essas redes cresçam, se profissionalizem cada vez mais e mantenham suas operações.” 

A jornalista também indica que os veículos independentes busquem cursos de capacitação. “Eu acho que inovação é isso, você ter uma ideia, fazer o teste e, principalmente, fazer muita pesquisa sobre a área que você quer colocar uma iniciativa. Entender se aquela região tem uma cobertura ou não, qual o diferencial do seu produto perante outros produtos que já existem”, explicou.

A importância da rede colaborativa no jornalismo

Segundo Géssika, quando se pensa em redes colaborativas, é essencial situar os veículos sobre o que acontece naquela determinada região, traçar um plano de pauta para colocar as ideias que devem ser desenvolvidas e criar estratégias para distribuir esse conteúdo. 

“O que a gente precisa fazer é planejar essa rede colaborativa para que todas as organizações possam aproveitar a potencialidade de cada uma e, principalmente, abrir o diálogo para ouvir o que cada uma tem a dizer. E principalmente depois que acabar essa rede colaborativa, fazer um levantamento que mostre quais foram esses impactos, sejam impactos de republicação, crescimento nas redes sociais ou institucional de maneira financeira”, disse.

Como exemplo de projeto de rede colaborativa, a jornalista cita como exemplo a Marco Zero Conteúdo, que possui um projeto editorial de financiamento de jornalismo no Nordeste, com o objetivo de produzir reportagens sobre o direito à cidade, na capital, com o recorte das eleições.  “Além do financiamento dessa produção de reportagem, a Marco Zero está dando mentoria de como a gente pode fazer para prestar contas sobre os recursos que a gente está recebendo. Então, a rede colaborativa surge não apenas para ajudar no financiamento, mas também para ajudar a financiar e a manter de pé esse projeto.”

“Essa é a potência da rede colaborativa: além de ter o recurso, aprender. E a partir daquela aprendizagem, você consegue aplicar para projetos futuros e ter mais sucesso”, destacou.

Assinatura Abraji