- 11.01
- 2024
- 12:06
- Laura Toyama
Formação
Liberdade de expressão
Especial traz artigos com projeções para os desafios do jornalismo em 2024
Em sua oitava edição, o especial Jornalismo no Brasil: 2024 é composto por 10 artigos sobre previsões para a profissão neste ano que se inicia. Em parceria com a Abraji, o Farol Jornalismo publicou, em dezembro de 2023, textos de 11 autores sobre temas relevantes: a crise climática, as eleições municipais, o uso da inteligência artificial, a desinformação e a conquista do público, a diversidade, entre outros.
Confira os principais desafios abordados nos artigos do especial.
“Em 2024, emergência climática precisará ser a pauta de todas as editorias” ⎯ Giovana Girardi
No primeiro artigo da série, a jornalista de ciência e meio ambiente Giovana Girardi relembrou episódios climáticos que marcaram o ano de 2023, como as tragédias causadas pelas chuvas no litoral norte de São Paulo e a fumaça que tomou Manaus. Para ela, “esses exemplos parecem ter dado um chacoalhão na grande imprensa”.
Girard acredita que o tema será cada vez mais abordado para além dos eventos climáticos. “Quanto mais cedo o jornalismo incorporar que o mundo já é outro nas suas reportagens, melhor vamos poder cobrar governantes e empresas e ajudar a sociedade a entender as mudanças no clima”.
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“A comunicação feita por indígenas é o arco e flecha do século 21” ⎯ Ariene Susui
No segundo artigo da série, a jornalista e ativista Ariane Susui fala sobre a comunicação feita por indígenas e a importância da presença dos povos originários nos meios de comunicação para preservar sua cultura.
Para ela, a comunicação indígena, que é diversa e plural, tem a coletividade como um de seus pontos principais. As raízes da comunicação indígena estão fixadas na terra, e ela reforça a importância dessa relação. “Sem território não há comunicação, não há vida.”
A autora também ressalta que a presença de comunicadores indígenas é uma estratégia de defesa dos direitos de seus povos, especialmente quando retoma para si o controle de uma narrativa antes imposta. Sua análise é de que, apesar das lacunas ainda existentes, o surgimento de redes de comunicadores e líderes indígenas representa um movimento contra-hegemônico no jornalismo.
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“2024: o ano em que faremos manuais de redação para uso de IA” ⎯ Cristina Tardáguila
O terceiro artigo é de autoria da jornalista e fundadora da Lupa, Cristina Tardáguila. Ela escreve sobre as previsões de aplicação de Inteligência Artificial no próximo ano e de que forma o jornalismo deve se preparar para incorporar o uso dessa tecnologia em redações.
Para Cristina Tardáguila, é importante que as redações delimitem o uso de IA e estabeleçam diretrizes claras para quais ferramentas são aceitas e quais não são, além de elaborarem manuais de redação sobre o tema.
Entre questionamentos sobre a validação do que é produzido através dessa tecnologia e em que medida postos de trabalho podem ser afetados por isso, ela lista alguns casos reais de erros e reflete sobre a necessidade de investimento em capacitação de profissionais da imprensa. “Quem não quiser perder o bonde da história precisa estar preparado para encarar os desafios impostos pela IA de frente e com os bolsos abertos.”
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“É hora de reconquistar o público capaz de garantir a sobrevivência do jornalismo” ⎯ Juliana Doretto e Thaís Helena Furtado
As jornalistas Juliana Doretto e Thaís Helena Furtado abordam o importante papel da juventude e sua influência nas tendências do jornalismo brasileiro no quarto artigo do especial.
As autoras remontam uma linha do tempo do jornalismo que identificou os jovens como um grupo de consumo, que mais tarde colaborou para segmentar as produções de acordo com seus principais interesses. “Passou a existir uma preocupação com linguagens e estéticas que agradassem especificamente aos jovens.”
A partir da análise dos manuais de redação dos cinco maiores veículos de comunicação brasileiros, Doretto e Furtado identificaram que as menções a crianças e jovens só aparecem em diretrizes de como podem ser protegidas, mas sem vir acompanhada de modos de citá-las como fontes relevantes, mesmo em reportagens nas quais são os protagonistas.
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“Audiência precisa ser parte da solução de qualquer problema do jornalismo” ⎯ Maurício Ferro
O jornalista Maurício Ferro escreve, no quinto artigo publicado, sobre como o relacionamento com a audiência é uma das bases atuais do jornalismo.
Para Ferro, o jornalismo deve ser capaz de, além de impactar, engajar as pessoas de forma que o desejo de se informar seja genuíno. Ele traz dados recentes sobre como o Brasil tem alta taxa de desinteresse nas notícias e um público leitor que as relaciona a sentimentos de negatividade e sobrecarga aos noticiários. Mas, apesar desses números, se declara otimista. “Até mesmo aqueles que dizem evitar notícias, falam que estão interessados em alguns tipos de informação”.
O autor sugere algumas estratégias para melhorar a relação com a audiência, como a gamificação, adotada por grandes redações estrangeiras, conteúdos mais interativos, espaços para feedback e transparência.
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“Combate à desinformação é o caminho contra desertos de notícias sobre eleições municipais” ⎯ Jamile Santana
No artigo número seis da série, a jornalista de dados Jamile Santana fala sobre o importante papel do jornalismo local no combate à desinformação durante as eleições.
Diante de uma crescente era da desinformação, Jamile Santana aponta os chamados desertos de notícia como locais com pouca qualidade da informação, especialmente em nível local. Apesar do alto custo, ela aposta no investimento em agências de checagem locais, como o Amazônia Check e o Coar, da região Norte do país, para enfrentar o ecossistema da desinformação, que afeta os processos democráticos.
“Para 2024, o jornalismo local precisa estar preparado para lidar com a desinformação. Dar um passo para trás e noticiar conceitos básicos, sobre como as organizações públicas funcionam, quais atribuições cada uma tem”, sugere a autora. Para ela, o jornalismo local é a base da interlocução entre o cidadão e sua comunidade.
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“Vamos tornar mais diversa a cultura organizacional das redações em 2024?” ⎯ Sanara Santos
No sétimo artigo desta série especial, a jornalista Sanara Santos escreve sobre a necessidade de diversificar a cultura organizacional das redações de jornalismo pelo país.
Para ela, uma das dificuldades que redações de jornalismo enfrentam, mesmo as iniciativas independentes, é de se libertar de um modelo de funcionamento espelhado na mídia hegemônica. “Poucas vezes as organizações conseguem criar uma cultura que realmente representa as pessoas que compõem a redação, impossibilitando a permanência desses corpos”. Em sua leitura, a cultura está associada a seus fundadores e não rompe com estruturas de privilégio observadas na sociedade.
Para virar o jogo, Sanara Santos sugere três eixos de mudança que podem ser aplicados por líderes de redações: maior sensibilidade de lideranças para questões de diversidade; diálogos sobre saúde mental de jornalistas; treinamento de inclusão para as equipes.
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“É possível fazer uma outra cobertura de segurança pública em 2024” ⎯ Fausto Salvadori
O jornalista Fausto Salvadori escreve sobre como a mídia independente pode se sobrepor à cobertura jornalística de segurança pública feita pela mídia hegemônica.
Para Salvadori, o jornalismo feito por grandes veículos faz condenações sumárias e se apoia em concepções racistas e estereotipadas. “Não se trata apenas de omitir ou deixar de denunciar violações cometidas pela polícia e outros órgãos do sistema de Justiça. Muitas vezes os jornalistas se tornam, eles próprios, violadores de direitos, em cumplicidade com as forças de segurança”.
Para ele, esse jornalismo é reflexo da ausência de um verdadeiro estado democrático de direito. Para além dos programas policialescos, o jornalismo violador de direitos também privilegia o discurso de autoridades sobre outros grupos sociais, se caracterizando como chapa branca.
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“Enfrentamentos mercadológicos serão desafios à regulação das plataformas em 2024” ⎯ Ana Regina Barros Rêgo Leal
No nono artigo da série, Ana Regina Barros Rêgo Leal escreve sobre o conflito entre a regulação das plataformas e uma tentativa do jornalismo de se aproximar de novos públicos.
Para a autora, as redes sociais configuram hoje um terreno fértil para conectar pessoas ao noticiário, que, em sua maioria, não se interessam muito pelos meios tradicionais de veiculação de conteúdo. “No contexto das plataformas digitais e suas redes sociais, o jornalismo é um vetor de atração para a atenção dos usuários, o que interessa potencialmente aos grandes conglomerados tecnológicos”.
No entanto, esses espaços têm se demonstrado os hospedeiros de grande parte dos discursos desinformantes. É neste ponto que a autora aponta o conflito com a regulação das mídias, inserida inicialmente no Projeto de Lei 2630/20, conhecido como PL das Fake News. Suas perspectivas são de que, nessa briga, o jornalismo sairá prejudicado.
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“Atravessada na sociedade, desinformação vai impor desafio contínuo ao jornalismo em 2024” ⎯ Gabi Coelho
No décimo e último artigo da série, a jornalista e diretora da Abraji Gabi Coelho escreve sobre a complexidade do debate em torno da desinformação no Brasil.
Para Coelho, é preciso lançar um olhar prospectivo sobre os caminhos que o jornalismo trilhará em 2024, em uma tentativa de retomar sua credibilidade, ao mesmo tempo em que tenta sobreviver à ascensão do uso irregular de inteligência artificial, dos novos formatos de disseminação de fake news e da falta de transparência.
“O equilíbrio delicado entre regulação e liberdade de expressão é central na luta contra a desinformação”, escreve ela, ao comentar sobre como políticas públicas podem auxiliar no combate a esse cenário sem limitar a liberdade de imprensa. “Projetar cenários para 2024 é mais do que uma previsão; é uma tentativa de esboçar possíveis futuros a partir do quadro atual”.
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