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Equipe do Globo é ameaçada em município do interior do Pará
Publicado em 26 de julho de 2012 em O Globo
Uma equipe do GLOBO enviada a Redenção (PA) para investigar fraudes envolvendo a prefeitura foi ameaçada e coagida na segunda-feira pelo prefeito e candidato à reeleição, Wagner Fontes (PTB-PA), investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. A jornalista Carolina Benevides e o fotógrafo Marcelo Piu deixaram a cidade com dois policiais federais.
Na entrevista, o prefeito disse:
— Estou falando para que você embase suas perguntas, até para que você possa refletir sobre o que eu vou te dizer. Se (alguém) falar mal a fim de difamar, pode ser que amanhã ou depois esteja morto.
O prefeito contou a história de um blogueiro da região que, segundo ele, “sumiu”. Disse que, no dia anterior ao desaparecimento, procurou o blogueiro, conhecido como Júnior, e disse a ele: “Se você continuar fazendo o que está fazendo comigo, a injustiça que está fazendo comigo, vai custar caro para você. Porque pode ter certeza absoluta de que Deus vai colocar a mão sobre você e cobrar o que você está fazendo comigo”.
— Não sei se ele repensou, se foi preso. Ele sumiu — relatou.
Fontes disse ter “visão ampla da liberdade de imprensa”. E falou de novo do blogueiro:
— Ele foi preso. Não foi por minha causa. Houve uma coincidência, a polícia estava concluindo um processo de investigação. Foi preso como traficante.
A ameaça foi registrada em ocorrência na Polícia Federal de Redenção. No documento, consta que o prefeito coagiu e ameaçou a equipe, tendo deixado transparecer que um acidente poderia acontecer ou ainda que algo ilícito poderia ser encontrado com a equipe. A certidão menciona que um funcionário da prefeitura disse ao fotógrafo que sabia qual era o carro da reportagem, além de perguntar onde a equipe estava hospedada.
A equipe ficou sob proteção da PF. Na manhã de terça-feira, foi acompanhada pela PF até a saída do perímetro urbano de Redenção. Minutos depois de a PF ter retornado à cidade, dois policiais militares pararam o carro da equipe e pediram carona. Avisado, o delegado da PF Luis Felipe da Silva fez com que a equipe voltasse a Redenção. Segundo ele, no município não é comum que PMs abordem carros pedindo carona. Foi feito um adendo à certidão de ocorrência. Dois policias federais escoltaram a equipe até a divisa com Tocantins.
Advogado do PTB e primeiro-secretário jurídico do partido, Luiz Gustavo Pereira da Cunha disse que o PTB “repudia qualquer censura à imprensa”:
— Esse episódio é lastimável, pedimos desculpas antecipadas — disse o advogado, afirmando que, caso O GLOBO peça esclarecimentos à Executiva Nacional, esse pedido será levado ao Conselho de Ética do PTB.
A Polícia Militar do Pará disse “não identificar ameaça à vida ou integridade física da jornalista ou das pessoas que estavam com ela”. A PM pediu que a queixa seja feita por escrito.
O Comitê de Liberdade de Expressão da Associação Nacional de Jornais (ANJ) afirmou que “considera esse episódio um claro atentado ao direito de informar e de ser informado”. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) considerou o episódio absurdo e informou estar preocupada com a situação dos jornalistas no interior do Brasil, onde têm ocorrido mais assassinatos.