
- 21.10
- 2025
- 15:59
- Ramylle Freitas
Liberdade de expressão
Entrega de prêmio e celebrações marcam 50 anos da morte de Vladimir Herzog
Preservar a memória também é um ato de resistência e, após 50 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, faz-se necessário relembrar sua trajetória para reafirmar o compromisso com a democracia e com a liberdade de imprensa. Em 25 de outubro de 1975, Herzog foi torturado até a morte nos porões da ditadura militar que assolava o Brasil naquele período. Agora, 50 anos depois, homenageia-se sua memória com uma série de celebrações em São Paulo, além da entrega do Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo.
Vladimir Herzog, o Vlado, nasceu em 1937 em Osijek, cidade que fazia parte da Iugoslávia, atual Croácia. Em 1941, ele e sua família, de origem judaica, deixaram a Croácia rumo à Itália, fugindo do avanço do nazismo. Em 1946, imigraram para o Brasil, onde o jornalista viveu em São Paulo durante boa parte do final da infância e juventude. Foi naturalizado brasileiro em 1961.
Trajetória no jornalismo
Vlado cursou Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), atualmente chamada de FFLCH, da USP, de 1958 a 1964. Em 1959, iniciou sua carreira como jornalista, atuando como repórter em O Estado de S. Paulo. A partir de então, Herzog cobriu a inauguração de Brasília, viajou para a Argentina para cobrir o Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, acompanhou a campanha eleitoral e a posse de Jânio Quadros e documentou a passagem do filósofo e escritor Jean-Paul Sartre pelo Brasil.

*Foto: Acervo/Instituto Vladimir Herzog
Como jornalista, Herzog passou pela TV Cultura em 1973, para coordenar a redação do jornal Hora da Notícia, e, em 1975, assumiu a direção de jornalismo. Também trabalhou na TV Excelsior, na Rádio BBC de Londres, na Revista Visão, na agência de publicidade J. Walter Thompson, na TV Universitária da UFPE e no jornal Opinião e foi professor de jornalismo da FAAP e da ECA-USP.
Outubro de 1975
O jornalista foi procurado pelos militares na sede da TV Cultura no dia 24 de outubro de 1975, sob a suspeita de conexões com o PCB. Herzog compareceu para depor no DOI-Codi, em São Paulo, órgão de repressão do Exército durante a ditadura militar, no dia seguinte. De lá, nunca mais voltou. Vlado era militante comunista e não tinha nenhum envolvimento com atividades clandestinas, como declarou em seu depoimento.
Os militares responsáveis por sua morte forjaram uma cena para que acreditassem que o jornalista cometeu suicídio. A cena do falso suicídio foi montada e fotografada. Mas não enganou a sociedade civil. No dia 31 de outubro de 1975, cerca de 8 mil pessoas estiveram presentes na Catedral da Sé, em São Paulo, para a missa de sétimo dia pela morte de Herzog e para cobrar justiça e verdade.
A publicitária Clarice Herzog, viúva do jornalista, processou o Estado em 1978. Na época, ainda durante a ditadura, um juiz federal responsabilizou o governo pela morte de Vlado. No entanto, foi apenas em 2012 que o registro de óbito dele foi retificado, esclarecendo que ele foi assassinado na sala do DOI-Codi. Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) condenou o Brasil por negligência na investigação, julgamento e punição dos responsáveis pela morte de Vladimir Herzog.
Neste ano, o Prêmio Herzog está em sua 47ª edição e recebeu 485 inscrições, das quais 168 em texto; 58 em vídeo; 26 em áudio; 39 em multimídia; 40 em fotografia, 18 em arte e 168 em livro-reportagem. Os homenageados com as premiações especiais desta edição serão a jornalista e documentarista Dorrit Harazim e um dos principais defensores da democracia e dos direitos humanos, Dom Angélico Sândalo Bernardino (in memoriam). A cerimônia de entrega do prêmio acontecerá no próximo dia 27 de outubro, no Tucarena, em São Paulo.
Mas as celebrações do cinquentenário da morte começam no sábado, 25 de outubro, com um ato inter-religioso e um concerto musical na Catedral da Sé, local onde foi celebrada a missa de sétimo dia de Herzog, em memória de todos os mortos e desaparecidos da ditadura militar.
Já no domingo, 26 de outubro, acontecerá a inauguração da primeira etapa do Calçadão do Reconhecimento, na praça Memorial Vladimir Herzog, em São Paulo. A ideia é eternizar os nomes de todos os jornalistas e personalidades premiadas desde a primeira edição, em 1979. Foram produzidos tijolos com os nomes dos homenageados para serem colocados no Calçadão.
De acordo com o jornalista Sérgio Gomes, diretor da Oboré e um dos realizadores das iniciativas que acontecerão neste final de semana, o Calçadão foi construído ao longo de 2024, e o primeiro tijolo instalado homenageou o primeiro ganhador do Prêmio Herzog na categoria Jornal, Mouzar Benedito.
Para mais informações, acesse o link.
E na segunda-feira, 27 de outubro, das 14h às 17h, acontecerá a roda de conversas com os ganhadores e, das 20h às 22h, a cerimônia de premiação no Tucarena.
Comissão organizadora e promotora
A premiação é organizada pelo Instituto Prêmio Vladimir Herzog (IPVH), associação civil de direito privado, sem fins lucrativos ou político-partidários, fundada em novembro de 2022, em São Paulo.
A entidade reúne 18 instituições da sociedade civil, além da família Herzog: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Artigo 19; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Geledés; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Instituto Vladimir Herzog, Instituto Socioambiental (ISA); Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Coletivo Periferia em Movimento; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo e União Brasileira de Escritores (UBE).
Serviço:
- 25 de outubro, sábado, 19h, na Catedral da Sé: Ato inter-religioso em memória de Vlado e de todas as vítimas da ditadura.
- 26 de outubro, domingo, às 11h, na Praça Memorial Vladimir Herzog - Rua Santo Antônio, 33, Bela Vista, atrás da Câmara Municipal de São Paulo, ao lado do Terminal Bandeira: inauguração do Calçadão do Reconhecimento – aplicação de 1.625 tijolos nos quais estarão gravados o nome de cada um dos vencedores do PVH ao longo de suas 47 edições. Nesta primeira fase, os tijolos aplicados fazem referência aos 52 jornalistas homenageados com o Prêmio Especial. Conheça os nomes aqui.
- 27 de outubro, segunda-feira, no Tucarena (PUC-SP) – Rua Bartira, 347 - Perdizes: solenidade de premiação, das 20h às 22h, precedida da Roda de Conversa com os ganhadores, das 14h às 17h.
As atividades são públicas e gratuitas, sem necessidade de apresentação de convite.