- 12.08
- 2019
- 12:30
- Natália Silva
Liberdade de expressão
Em São Paulo, exposição celebra a trajetória de Vladimir Herzog
Do fim ao começo. É assim que a história de Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar brasileira, será contada na 46ª edição do programa Ocupação, que entra em cartaz quarta-feira (14.ago.2019) no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. A morte do jornalista, que tornou-se um símbolo da luta pela democracia no Brasil, é o ponto de partida de uma exposição que celebra a trajetória de Vlado. A entrada é gratuita e a mostra ficará em cartaz até 20.out.
A exposição, realizada em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, reúne fotografias, reportagens e depoimentos de amigos e familiares que conviveram com o jornalista ao longo de seus 38 anos de vida. Os visitantes também terão contato com a produção jornalística e audiovisual de Vladimir que, desde o início de sua carreira, tinha interesse pela linguagem multimídia. Um teaser da exposição está disponível aqui.
Vlado Herzog nasceu em 27.jun.1937 em uma cidade localizada na antiga Iugoslávia, atual Croácia. Em decorrência da Segunda Guerra Mundial, ele e sua família deixaram seu país de origem. Primeiro, viveram na Itália. Quando o país foi ocupado pelas tropas aliadas, mudaram-se para o Brasil.
Vlado, ao contrário do que muitos pensam, não era um apelido, mas o nome de registro do jornalista. Durante a juventude, Vlado passou a assinar como Vladimir “porque lhe parecia menos exótico aos ouvidos brasileiros”, segundo sua biografia. Com o passar dos anos, seu nome oficial tornou-se a maneira como pessoas próximas o chamavam carinhosamente.
Vladimir formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1959. No ano seguinte, começou sua carreira como repórter no jornal O Estado de S. Paulo. Em 1964, dois meses antes do golpe militar, casou-se com Clarice. Em 65, Vladimir foi convidado para trabalhar na BBC em Londres, na Inglaterra, onde nasceram seus dois filhos: Ivo e André.
A família voltou para o Brasil no final dos anos 60, quando a ditadura militar entrava em sua fase mais violenta. O retorno aconteceu para que Vladimir assumisse o posto de diretor de jornalismo TV Cultura. Na mesma época, ele começou a dar aulas de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP. No final de outubro de 1975, militares o convocaram para prestar depoimento no DOI-CODI, em São Paulo, por conta de seu trabalho à frente da emissora e sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro.
Na manhã de 25.out, Vladimir se apresentou voluntariamente no prédio localizado na rua Tomás Carvalhal, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Às 15 horas, o Serviço Nacional de Informações declarou que Vladimir Herzog havia cometido suicídio no DOI-CODI. A foto do jornalista enforcado com os joelhos encostando no chão e as marcas de tortura observadas pelo rabino Henry Sobel -- líder da comunidade judaica da qual Vladimir era membro -- durante a preparação para o enterro, indicavam que a versão oficial não era verdadeira. Em 2012, o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira confirmou em sua primeira entrevista à imprensa que a cena fora montada.
A morte de Vladimir gerou comoção e mobilizou a primeira grande manifestação contra as práticas da ditadura militar desde 1968, quando o AI-5 foi decretado. A despeito das tentativas do governo de dificultar o acesso ao local, milhares de pessoas se reuniram diante da Catedral da Sé, no centro de São Paulo, para o culto ecumênico de 7º dia em memória do jornalista, celebrado em 31.out.1975.
A certidão de óbito de Vladimir só foi retificada em 2013, a pedido da Comissão Nacional da Verdade.
No lugar de "enforcamento por asfixia mecânica", o documento traz como causa da morte “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do segundo Exército DOI-Codi".
Serviço
Ocupação Vladimir Herzog - Itaú Cultural
De 14.ago até 20.out
Entrada gratuita