• 04.04
  • 2016
  • 13:46
  • Amanda Ariela

Elvira Lobato será homenageada no 11º Congresso da Abraji

A eterna repórter Elvira Lobato será homenageada no Congresso da Abraji de 2016, ano em que completa quatro décadas de uma carreira profissional marcada por investigações de excelência reconhecida, fidelidade aos mais elevados princípios do jornalismo e atenção ao interesse público.

Nascida em Minas Gerais, Elvira começou a trabalhar como repórter ainda antes de se formar: em 1973, estreou na coluna social da Gazeta do Povo. Conciliou as aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro com passagens pelo Diário de Notícias, pela assessoria de imprensa do extinto INAMPS, pela iniciativa LIDE (que produzia jornais sindicais), pelo jornal Luta Democrática e pela Última Hora. Como freelancer, colaborou para o Jornal Opinião e a revista da Fundação Getúlio Vargas.

Durante a faculdade, Elvira já ouvia que o jornalismo era uma área sem futuro. Para ela, no entanto, “vai existir jornalismo, enquanto existir vida na Terra. Sempre vai ter espaço para o jornalismo, com novas adaptações, novos meios, novas mídias, mas a essência do trabalho continua”.

Sua primeira reportagem na grande imprensa foi publicada em 20 de outubro de 1976, no Jornal do Brasil. A jornalista recém-formada passou uma semana morando em uma das pensões para mulheres da rua do Catete, no Rio de Janeiro, para contar as histórias de quem moraria ali por muito mais tempo. A reportagem chama-se “As Moças: O preço da liberdade em angústia e solidão” e está disponível nos arquivos on-line do Jornal do Brasil.

Depois de uma rápida passagem como temporária na Folha de S.Paulo, trabalhou na Revista da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, onde se especializou em mercado de capitais. Em 1984 voltou à sucursal carioca da Folha de S.Paulo, mas agora em caráter definitivo - e por 28 anos.

Nesse período, Elvira produziu a reportagem que considera uma das mais importantes de sua carreira. Publicada em 1986, “Serra do Cachimbo pode ser local de provas nucleares” revelava a construção, pela Aeronáutica, de um poço para testes nucleares no Pará. Com a repercussão da história, o poço foi fechado. A reportagem foi a capa da Folha de S.Paulo de 08 de agosto de 1986 e a reportagem foi feita por Elvira Lobato, mas não foi assinada, já que o jornal achou melhor não identificar as pessoas envolvidas na apuração por razões de segurança, de acordo com texto publicado nos 80 anos do jornal.

A curiosidade e a vontade de investigar a veracidade de informações são seus traços distintivos de repórter. Tanto que, em 1989, já na Folha, decidiu se tornar acionista da Petrobras para conseguir entender melhor o funcionamento da empresa. No inicio dos anos 2000, quando a Oi iniciou o processo de compra do Portal iG, Elvira fez a mesma coisa, tornou-se acionista da Oi. “Eu me lembro de chegar no prédio da Bolsa de Valores, de ver os jornalistas reunidos e de passar por eles, entrando na sala dos acionistas. Lá estavam representantes e advogados dos grandes acionistas e o Otávio Azevedo, que era presidente da Oi. Todos me reconheceram e estranharam, mas eles não podiam fazer nada porque eu era acionista. Quando a votação foi feita, eu me abstive. Tudo o que eu queria era acesso aos documentos com informações que os acionistas têm e que o público fica sem.”

Em 2008, ela recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo pela reportagem “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, que revelava uma rede de empresas ligadas à Igreja Universal. Em retaliação à publicação, a Universal orientou seus fiéis a entrarem com ações judiciais contra Elvira e a Folha. Foram mais de 110 processos em vários Estados e cidades.

O constrangimento causado pelas dezenas de ações judiciais, que exigiam sua presença em audiências por todo o país (às vezes, marcadas nos mesmos dias e horários), abalou muito a repórter. Três anos depois, ela deixaria o jornal.

Elvira conta, porém, que “a repórter dentro de mim nunca se aposentou”: em 2016, após cinco anos longe das redações, publicou uma longa reportagem multimídia na Agência Pública sobre concessões de TV na Amazônia Legal. “Definitivamente eu não parei. Achei que tinha terminado esse ciclo, mas vi que não. Continuo produzindo pautas. Penso como repórter”, diz. “Se você é repórter, e você vê um fato, não pode ignorar. Sempre carrego na bolsa um gravador, o bloco de anotações e uma caneta. Nunca perdi esse hábito”.

Atualmente a jornalista também trabalha produzindo reportagens para o “Mulheres50Mais”, que apresenta perfis e textos sobre mulheres que estão nessa faixa etária.

Vencedora de sete prêmios (Folha, 1999 e 2994; Embratel, 2004; CNT, 2006; Esso, 2008; Comunique-se, 2011; Troféu Mulher Imprensa, 2012), Elvira considera a homenagem da Abraji “a premiação mais importante que eu poderia almejar. Estou muito emocionada porque não é um prêmio entregue por uma empresa, é uma homenagem entregue por meus colegas, meus pares, mesmo após a minha aposentadoria, que consolida que o repórter dentro de mim não morreu”.

A sessão solene de homenagem a Elvira Lobato acontece durante o 11º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo a partir das 16h30 de 23 de junho, em São Paulo. Na ocasião, será exibido um mini-documentário produzido pela Abraji sobre a carreira da jornalista.

Já foram homenageados nos congressos da Abraji José Hamilton Ribeiro, Joel Silveira, Lúcio Flávio Pinto, Paulo Totti, Dorrit Harazim, Rosental Calmon Alves, Jânio de Freitas, Marcos Sá Corrêa, Tim Lopes, Elio Gaspari e Clóvis Rossi.


Assinatura Abraji