• 21.06
  • 2012
  • 10:53
  • Karin Salomao

Eliane Brum lança capítulo em livro comemorativo da ONG Médicos Sem Fronteiras

Eliane Brum, jornalista independente e colunista da revista Época, lançou na última segunda-feira (18) a reportagem “Doença de Chagas na Bolívia: os vampiros da realidade só matam pobres”, um dos capítulos do livro “Dignidade”, da ONG Médicos Sem Fronteira (MSF). A produção da reportagem será tema de sua palestra no 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

O livro foi escrito por nove jornalistas e escritores de todo o mundo sobre áreas de atuação da MSF, para comemoração de seus 40 anos. Eliane Brum e o escritor Mario Vargas Llosa, Nobel de literatura, foram escolhidos como os representantes da América Latina. Brum fez uma longa e envolvente reportagem  sobre a vinchuca, nome local para o barbeiro, vetor do Tripanosoma cruzi, protozoário que causa a doença de Chagas.

A jornalista acompanhou duas histórias: a jornada de Cristina Salazar López e Maria Rodríguez Barrios para a cidade em busca de um marcapasso que pudesse prolongar suas vidas, e a história de uma família em que todos têm a doença de Chagas. Ela acompanhou o drama de famílias em casas de adobe, cheias de furos, tentando se proteger dos barbeiros. “Fui fazer o que eu faço há 25 anos, que é escutar histórias”. Para ela, o “extraordinário dessa vida de contar histórias é aproximar dois mundos”, disse ela por ocasião do lançamento do livro, em São Paulo.

Apesar de ser uma repórter experiente, ela diz que sentiu um sentimento novo com essa história em particular, pois se confrontou com a impotência. Ao sair da província, recebeu um pedido de uma menina de 11 anos, Sônia: “não me deixe morrer”. A jornalista respondeu o que costuma responder: “vou contar sua história para o mundo”. Ainda que parecesse pouco no momento, era o que ela podia fazer, “e o possível nunca é pouco”.

Mauro Nunes, presidente do conselho administrativo dos MSF, concorda. “Nós profissionais passamos por situações limite e somos confrontados cm essas situações de impotência”. Assim como Eliane, ele diz tentar fazer tudo o que está ao seu alcance e sabe que por meio de seu trabalho pode “trazer esperança para um lugar onde não havia mais esperança”.

 

Pior que vampiro

Ao chegar à Bolívia, na província de Narciso Campero, ao sul de Cochabamba, Brum descobriu que a vinchuca é mais amedrontadora que os vampiros da ficção. De acordo com ela, toda noite a população da cidade dorme com medo. São centenas de insetos que invadem as casas de adobe e espreitam no teto, até que caem sobre as camas de idosos, adultos e crianças (vinchuca é o nome quecha, língua falada pela população há centenas de anos, para “deixar-se cair”). Essas famílias, segundo Eliane, não têm acesso a tratamento médico. O que ela viu a levou a concluir que a doença de Chagas só mata pobres e é por isso que a indústria farmacêutica não se esforça em procurar a cura.

 

Assinatura Abraji