• 03.03
  • 2016
  • 08:45
  • Amanda Ariela

Edição de texto para repórteres: como acertar no básico

Texto escrito por Leighton Killie e publicado em 13 de fevereiro, no site do Journalist´s Resource. Traduzido e adaptado pela Abraji.

Em suas carreiras profissionais, repórteres se concentram naturalmente na produção de reportagem - telefonemas, contato com fontes, entrevistas e pesquisas e, finalmente, a escrita. Todo esse esforço é centrado em conseguir as histórias e garantir que elas sejam atuais, precisas e atraentes. Em grandes organizações jornalísticas, sejam elas impressas, onlines ou audiovisuais, jornalistas sabem que depois que eles enviam suas histórias, elas irão para as mãos de um editor e talvez de um segundo profissional antes de ser publicada. O objetivo dessas camadas adicionais de atenção é garantir que a escrita seja compreensível, consistente e correta.

Hoje, no entanto, muitos jornalistas trabalham sozinhos ou em organizações pequenas, sem uma classe de editores dedicados. Muitas grandes empresas também sofreram com cortes de profissionais, e com isso, a atenção ao detalhe acaba sofrendo frequentemente. Então é suficiente, para os jornalistas, publicar uma reportagem e cruzar os dedos para que tudo esteja certo? Não.

Qualquer que seja o tamanho de sua organização jornalística, dedicar tempo extra para examinar a gramática, ortografia, formatação e precisão de suas histórias é essencial. Edição de texto é uma atividade bem diferente da escrita, e colocar um chapéu de editor te ajuda a observar seu trabalho através de um novo ângulo, permitindo que você o melhore. A edição também pode revelar erros mais profundos dentro de uma história, que podem te mandar de volta para o trabalho de reportagem.

Cada editor de texto tem uma abordagem diferente, mas ajuda se você trabalhar de cima para baixo:

  1. Verifique afirmações factuais em seu artigo. Verifique cada nome duas vezes, mesmo se você achar que está correto. Se utilizar um número ou data, não importa o quão  insignificante ele seja, verifique.
  2. Verifique toda a matemática, especialmente as médias e porcentagens. Verifique suas unidades - centenas, milhões, bilhões e trilhões -  particularmente se você fez alguma conversão monetária. Se mergulhar em estatísticas, verifique duas vezes seu trabalho e sua terminologia. 
  3. Se fizer afirmações sobre um indivíduo ou uma organização, você os contatou para verificar as informações e conseguir comentários? Se não, faça-o, e não fique satisfeito só com o envio de um email. Assegure-se de que cercou todos os lados.  
  4. Faça uma leitura completa da história, do começo ao fim. O texto flui com facilidade e lógica? As conclusões são sustentadas pelos fatos apresentados? Como leitor, a história te deixa fazendo perguntas que não puderam ser respondidas? Você utiliza termos técnicos que não são esclarecidos ou jargões que não são explicados? Há sentenças que são corridas e se atropelam ou palavras que vocês utiliza com muita frequência? Preste atenção nesses problemas.
  5. Leia a história novamente, dessa vez observando cada sentença individualmente e as palavras dentro de cada frase. Um truque útil é imprimir a história e lê-la com uma folha bloqueando as frases abaixo da qual você está lendo; dessa forma, seus olhos não poderão pular o texto sem que você tenha verificado tudo.
  6. Conforme realiza a leitura, verifique a ortografia com seu dicionário de preferência, e lembre-se que mesmo sendo úteis, verificadores de ortografias podem não ser sempre seu melhor amigo - por exemplo, as palavras “mas” e “mais” podem estar escritas corretamente em uma frase, mas estão inseridas em um contexto incorreto.
  7. Observe seus parênteses para garantir correção e consistência: Se você vir um parêntese aberto, pule para o final da frase, para garantir que ele se feche. Verifique se os pontos finais estão dentro do parêntese final para frases completas e fora, para as incompletas.
  8. Faça o mesmo com as aspas, cuide para que elas estejam sempre em dupla. Garanta que essas aspas dentro de citações estejam sozinhas, e que pontos finais sempre fiquem antes das aspas finais.
  9. Verifique todos os seus sinais de pontuação, conforme a leitura - vírgulas, ponto-e-vírgula, pontos, sinais de porcentagem e aspas. Preste atenção particularmente em garantir que todos os travessões são consistentes, tanto nas falas de fontes, quanto na presença ou falta de espaço nos lados. Se utilizar sinais de porcentagens, garanta sua consistência.
  10. Por fim, se for possível, peça a um colega ou amigo para ler com atenção uma cópia impressa de seu texto, utilizando a mesma técnica de tampar as frases seguintes com um cartão. Por mais cuidadoso que você possa ser, é sempre melhor ter uma segunda pessoa para fazer uma leitura. Peça que a pessoa arrume sua cópia e depois verifique e execute as mudanças necessárias você mesmo - é a melhor forma de se forçar a ver coisas que passaram despercebidas aos seus olhos.

Todas essas etapas fazem parte de um processo, mas cada passo tem um propósito. Ao separar o processo de edição do processo de apuração e escrita, garantimos que tempo suficiente é dedicado a cada etapa. Conforme você vai se acostumando a editar seu próprio trabalho, você ficará mais rápido e a qualidade de sua escrita irá aumentar. Uma estratégia útil é rastrear suas correções e compilá-las em uma lista de seus erros que acontecem com frequência, para que você possa melhorá-los e para que nunca se esqueça de corrigi-los. 

(...)

Qualquer que seja sua escolha de estilo ou preferência de grafia, ortografia, gramática, acentuação, pontuação, letras maiúsculas no começo de palavras - seja consistente e utilize sempre da mesma forma.

Mesmo trabalhando com um prazo, é essencial dedicar certo tempo para a edição. Como dizem na introdução do curso “Editando seus textos”, da Poynter (“Cleaning your copy”, no título original em inglês, idioma no qual o curso é oferecido) “Erros gramaticais, de ortografia e estilo são como uma mancha de café na roupa de um jornalista. Os leitores percebem. E, eventualmente, esses erros vão corroer sua credibilidade como jornalista.”

Pesquisa relacionada: Um estudo de 2014 em jornalismo digital, “Audience Perceptions of Editing Quality, Assessing Traditional News Routines in the Digital Age,” (“Percepções da audiência na qualidade da edição, avaliando a rotina jornalística tradicional na era digital”, em tradução livre), examina o papel potencial da edição de texto na percepção do leitor. O autor Fred Vultee, da Universidade Estadual Wayne, descobriu que, em média, os participantes deram notas maiores para textos que foram editados do que para aqueles que não foram. Uma edição cuidadosa teve um papel consistente e positivo nas percepções do profissionalismo, organização, escrita e valor da história. “Esse resultado não é afetado significativamente pela idade dos participantes, sugerindo que essas medidas de qualidade não são traços a respeito dos quais a audiência precisa ser ensinada antes de entrar no mercado de notícias”, escreve Vultee, acrescentando “a ideia de apreciação da qualidade sobrevive, independentemente da vontade de pagar.” Saiba mais. 

 

Assinatura Abraji