• 19.09
  • 2006
  • 06:13
  • Dean Graber e Jesús Alejandro Pérez

E-mails noticiam aumento da violência contra jornalistas da Guatemala

Em setembro de 2005, cerca de 30 radiojornalistas guatemaltecos inauguraram uma lista de discussão por e-mail chamada RadioGuate, que liga colegas de todas as regiões do país. Nesta semana, a RadioGuate, que colabora com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, trouxe notícias arrepiantes da cidade serrana de Cobán, cerca de 150 quilômetros a nordeste da Cidade da Guatemala, no departamento de Alta Verapaz.

Em mensagem enviada no dia 10 de setembro, às 18:57:32, um dos fundadores da lista, Angel Martín Tax, informou que seu colega de rádio e seu amigo mais próximo, Eduardo Heriberto Maas Bol, havia sido morto a tiros poucas horas antes, quando voltava de carro para sua casa depois da festa de aniversário de um amigo.

Horas depois do ataque, o telefone da casa de Tax tocou. Uma voz masculina o avisou de que seria o próximo jornalista a morrer.

Tax tem 48 anos de idade e é correspondente de jornais e estações de rádio. Ele acredita que a morte de seu amigo e as ameaças que ele próprio recebeu estão ligadas ao seu trabalho jornalístico.

"Creio que deve ser por causa das notícias que cobrimos", disse Tax em uma entrevista por telefone. "Nós cobrimos notícias sobre o narcotráfico, linchamentos, assassinatos e redes de seqüestro de bebês."

"As pessoas honradas respeitam a imprensa na Guatemala", disse. "Mas quem está envolvido em atividades criminais, logicamente, odeia os jornalistas".

Os jornalistas da Guatemala já trabalham sob algumas das mais perigosas condições nas Américas. Mas, apenas nos últimos meses, foram registrados 35 casos de agressão ou ameaças, segundo Sergio Morales Alvarado, monitor de direitos humanos na Guatemala.

Entre os mais recentes casos registrados estão:

* O apresentador de rádio Vinício Aguilar Mancilla foi baleado no rosto no dia 23 de agosto, quando se exercitava na Cidade da Guatemala. Aguilar, que apresenta diariamente um programa político na Radio 10, disse crer que o ataque está ligado ao seu trabalho.

* Quatro jornalistas da cidade colonial de Antigua receberam ameaças por telefone, e-mail e mensagens de texto no celular, depois de fazerem reportagens sobre corrupção no governo local.

* Diversos jornalistas foram seqüestrados ou sofreram tentativa de captura, incluindo Victor Hugo Herrera, diretor de uma federação de emissoras comunitárias de radio. Ele foi drogado e mantido em cativeiro por 48 horas em julho.

Além desses casos, o Centro de Relatórios de Informação da Guatemala (CERIGUA, na sigla em espanhol), que monitora e divulga ameaças contra jornalistas guatemaltecos, teve seu website retirado do ar por 12 dias. A organização suspeita de sabotagem, Segundo Luis Ovalle, editor do CERIGUA.

A morte de Maas Bol atraiu notas de condenação imediatas de organizações internacionais como o escritório das Nações Unidas na Guatemala, a Organização dos Estados Americanos, a Sociedade Interamericana de Imprensa e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

Os ataques e ameaças também demonstram como redes nacionais e regionais e organizações da América Latina e do Caribe, mesmo aquelas informais como a lista de e-mails RadioGuate, assumem um papel importante para mobilizar e proteger os colegas.

A lista foi criada em setembro de 2005, depois que o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e seu parceiro, o Centro GraciasVida de Mídia, liderado pela jornalista de rádio pública e instrutora Maria Martin, fizeram um seminário e um curso na Cidade da Guatemala em 29 e 30 de julho de 2005 para radiojornalistas do país inteiro.

Em outubro de 2005, membros da RadioGuate e funcionários do Centro Knight e da GraciasVida usaram a lista para relatar os esforços das emissoras de rádio comunitárias guatemaltecas para documentar a destruição de suas comunidades e ajudar seus ouvintes a obter auxílio após a devastação causada pelo Furacão Stan.

A RadioGuate também ajudou, mais tarde, a mobilizar repórteres que vivem na zona afetada pelo furacão para participar de um curso sobre como fazer reportagens em áreas de desastre, em março de 2006, em Quetzaltenango.

Nesta semana, em Alta Verapaz, Ángel Martín Tax imediatamente relatou as ameaças às autoridades locais e fez circular cópias dos boletins de ocorrência entre os membros da lista RadioGuate.

Esses registros geralmente servem apenas como formalidade, disse ele, lembrando que crimes e ameaças contra jornalistas na Guatemala rotineiramente ficam impunes.

Mas o assassinato de seu amigo e os outros ataques recentes contra colegas fizeram Tax observar com cuidado redobrado os mais recentes ataques contra sua vida.

Os criminosos, segundo ele, são bem armados e protegidos na Guatemala. "Mas as mais poderosas armas de um jornalista", diz ele, "são a caneta, o gravador e a verdade".

Dean Graber e Jesús Alejandro Pérez, Centro Knight para o Jornalismo nas Américas

 

Assinatura Abraji