- 10.09
- 2018
- 14:35
- Rafael Oliveira
Formação
Documentário conta a história de título mundial de basquete do Clube Sírio
Há quase 39 anos, em 6.out.1979, o Esporte Clube Sírio derrotou o iugoslavo Bosna por 100 a 98 e tornou-se o primeiro clube brasileiro a se sagrar campeão mundial de basquete. A conquista foi assistida por mais de 10 mil pessoas e a comemoração teve direito a invasão da quadra do Ginásio do Ibirapuera. A história do título histórico, que uniu torcedores de futebol de equipes “rivais”, como as de Corinthians, Palmeiras e São Paulo, na torcida pelo basquete do clube, é contada no documentário “Sírio Campeão, Carnaval no Ibirapuera”. O trabalho foi apresentado neste ano durante o 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.
O filme traz relatos de jogadores que disputaram aquela final, além do depoimento de Cláudio Mortari, técnico do time. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Felipe Bochini Foltran, Gustavo Maia Magnusson, Lucas Gabriel Carneiro Louzas, Luís Otávio Pessoa de Lucca e Mathias Barreto Sallit na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, o documentário também ouviu torcedores, jornalistas contemporâneos à conquista, como Silvio Luiz, e outros membros da comissão técnica do Sírio.
Segundo Magnusson, a intenção inicial do grupo era “resgatar alguma memória esportiva do país”, e a ideia surgiu após trabalho de pesquisa em busca de tema relacionado ao esporte. “Quando nos deparamos com o título do Sírio, imergimos e fomos seduzidos pelos personagens envolvidos, pelas imagens marcantes e pelas histórias de bastidor. Além disso, constatamos que esta conquista possuía pouca evidência e visibilidade, apesar de sua relevância, especialmente entre o público jovem”, conta.
Realizado no ano do centenário do Sírio, em 2017, o documentário foi feito ao longo de quatro meses e contou com intensa colaboração do clube. A primeira etapa, de coleta de acervo, aconteceu em agosto, e teve o auxílio do diretor do Memorial do clube, Arpad Molnar.
Além de fotos, matérias e documentos, ele entregou uma cópia do vídeo do jogo final entre Sírio e Bosna. “Não é exagero dizer que a atenção dada por ele foi fator primordial para viabilizar a produção do documentário. O material em vídeo contemplava cerca de 90% do jogo e ainda trazia imagens da comemoração do título por parte dos jogadores e dos torcedores”, afirma Magnusson.
Com nova ajuda do Sírio e a utilização das redes sociais, os então estudantes conseguiram conversar com os cinco jogadores brasileiros que entraram em quadra na final: Marcel de Souza, Marquinhos Abdalla, Dódi e Saiani, além do maior cestinha do basquete mundial — e também daquele torneio —, Oscar Schmidt.
Os dois últimos foram os mais difíceis para o grupo. “O maior desafio foi agendar entrevista com o Oscar, por causa da agenda cheia dele. [No caso do] Saiani, ninguém do clube sabia de seu paradeiro e havia até boatos de que ele tinha falecido. Após uma intensa busca pela internet, finalmente localizamos o filho dele e assim conseguimos chegar ao próprio”, explica Magnusson.
Com pouca experiência prévia com o jornalismo em vídeo e somente conhecimento teórico em documentários, o grupo contou com a ajuda de cinegrafistas contratados na gravação das entrevistas. O restante da produção, desde elaboração da pauta das entrevistas, até a edição, foi feita pelos estudantes.
Segundo Magnusson, o Sírio e os entrevistados do documentário receberam uma cópia do trabalho e o feedback foi positivo, com demonstrações de gratidão pelo projeto. “Em junho, houve um evento na sede do clube Sírio onde apresentamos o documentário pela primeira vez ao corpo diretivo do clube. Foi um momento de muita emoção. A expectativa é que o documentário torne-se referência sobre o tema e continue no radar, isto é, seja lembrado sempre que o acontecimento constituir efemérides”, afirma o jornalista.
Um dos sete trabalhos selecionados para ser apresentado no 13º Congresso da Abraji, o documentário “preencheu uma lacuna da memória esportiva brasileira”, na opinião de Magnusson. “Demos voz para uma conquista que talvez não tivesse o adequado reconhecimento, uma vez que no Brasil muitas vezes não valorizamos devidamente nossos ídolos, principalmente dentro de esportes mais periféricos”, diz.
Para o grupo, o reconhecimento alcançado com a apresentação no Congresso é motivo de “orgulho muito grande”. “Foi uma oportunidade muito significativa de colocar o nosso trabalho em evidência diante de profissionais de comunicação de várias partes do país. A troca de experiência e a participação em outros painéis do evento também foram momentos muito enriquecedores”, afirma Magnusson.
Dicas para começar o TCC
Para o grupo, além da produção de roteiro, condução de entrevista e trabalho em equipe, um dos principais aprendizados com a realização do documentário foi o planejamento de tarefas. “Organizar uma rotina de trabalho e uma agenda de tarefas a ser cumprida é fundamental. Sempre trabalhe com a possibilidade de imprevistos e nunca subestime os prazos”, opina Magnusson.
Além disso, o jornalista destaca a proximidade com o tema como fundamental para fazer um bom TCC. “A principal dica é escolher um tema que desperte o seu prazer. Se você estiver produzindo um projeto com o qual tenha pouca ou nenhuma afinidade, dificilmente haverá o mesmo envolvimento. Além disso, encare o TCC como o trabalho da sua vida, em vez de encará-lo como um mero trabalho de faculdade”, diz.