- 27.11
- 2012
- 14:20
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Diretor da Abraji relembra jornalistas presos e mortos em cerimônia de premiação
O repórter da Gazeta do Povo e diretor da Abraji Mauri König é um dos homenageados do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) com o 22° Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa. A cerimônia de entrega do prêmio ocorreu durante jantar beneficente na noite de 20 de novembro, no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque.
O prêmio, que homenageia a carreira de König como um todo, também foi concedido a Mae Azango (Libéria), e os jornalistas Dhondup Wangchen (China) e Azimjon Askarov (Quirguistão), que, apesar de estarem presos, foram homenageados.
Na cerimônia, König disse que “indignação é o que melhor define a motivação daqueles que fazem esse tipo de jornalismo [de defesa dos direitos humanos]”.
König recebeu o prêmio de Matthew Winkler, editor-chefe da Bloomberg http://www.bloomberg.com/ . Apesar de não ter sido o primeiro prêmio que recebeu, König considera que esse tem um valor mais expressivo: “é o resultado do reconhecimento de toda minha carreira, não de um trabalho específico. É um prêmio escolhido pelo próprio comitê do CPJ”, diz.
Leia abaixo o discurso completo de Mauri König na cerimônia de premiação:
"Sinto-me hoje o mais privilegiado dos jornalistas. Primeiro, por ter escapado com vida de situações que realmente poderiam ter dado mal resultado; segundo, porque o jornal onde trabalho, a Gazeta do Povo, compreende a necessidade do jornalismo que faço; terceiro, por receber esse prêmio do Comitê de Proteção aos Jornalistas, um reconhecimento que não se pede por meio de inscrição ou indicação, mas que nasce do compromisso permanente com a cobertura de assuntos de interesse público.
Muitos jornalistas pagaram com a vida por acreditar que o jornalismo é um instrumento para melhorar nossa realidade, revelar injustiças, delatar governos corruptos, expor uma polícia arbitrária. Em memória deles, compartilho este prêmio com aqueles que buscam fazer do ofício jornalístico um instrumento de mudanças, ainda que isso implique em algum risco.
Certa vez, uma estudante de jornalismo perguntou se eu não tinha medo de fazer esse tipo de investigação. Respondi que minha indignação é maior do que o meu medo. Indignação é o que melhor define a motivação de quem faz esse tipo de jornalismo. Era esse sentimento que movia o jornalista Tim Lopes, sequestrado e morto em 2002 por traficantes quando investigava a exploração sexual de adolescentes nas favelas do Rio de Janeiro. É o caso mais emblemático do Brasil, mas não o único.
O Brasil ocupa a décima primeira posição no ranking do CPJ, com 21 jornalistas mortos em serviço desde 1992. Ainda assim, este ano o governo brasileiro se aliou à Índia e ao Paquistão para impedir a aprovação do plano de ação das Nações Unidas que busca reduzir o assassinato de jornalistas e combater a impunidade. Pressionado, o governo retrocedeu. E a organização da qual faço parte, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, foi convidada a colaborar com sugestões a serem apresentadas às Nações Unidas.
Esperamos agora que a presidente Dilma Roussef, que nos tempos de ativismo político foi presa e torturada por lutar pela democracia e pelo direito à livre expressão, se comprometa com a aprovação desse plano. Não se trata de uma defesa corporativa, como alguns poderiam pensar, mas a defesa da liberdade de expressão como um dos pilares da democracia. E esse prêmio concedido pelo CPJ ajuda a chamar a atenção para um problema que muitos resistem em admitir, no Brasil e em muitos outros países.
O jornalismo independente e o direito à informação não podem continuar sob o fogo cruzado das ameaças judiciais, das agressões físicas e do cerceamento à liberdade, numa atmosfera de impunidade e corrupção sem limites. Não podemos admitir que jornalistas como Dhondup Wangchen e Azimjon Askarov, que não puderam estar presentes a esta homenagem, continuem sendo presos por lutar contra governos arbitrários em busca de uma sociedade mais justa.
Obrigado uma vez mais ao CPJ pela distinção desse prêmio."